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Podcast investigativo do Globoplay narra a interferência da ditadura militar no futebol

Paixão nacional e motivo de orgulho para o Brasil, o futebol sempre foi visto como uma mania nacional.  Na época da ditadura militar não foi diferente. Porém, assim como aconteceu em outras áreas da sociedade, houve intervenção militar no esporte. Aprofundando este capítulo da história, o podcast investigativo Original Globoplay ‘Contra Ataque’ é apresentado pelo […]

1 de novembro de 2022

Reportagem de: O Diário

Paixão nacional e motivo de orgulho para o Brasil, o futebol sempre foi visto como uma mania nacional.  Na época da ditadura militar não foi diferente. Porém, assim como aconteceu em outras áreas da sociedade, houve intervenção militar no esporte. Aprofundando este capítulo da história, o podcast investigativo Original Globoplay ‘Contra Ataque’ é apresentado pelo editor do ge – PE, Brenno Costa, e conta com a direção criativa de Ivan Mizanzuk.
 
O podcast chega à plataforma do Globoplay nesta terça feira (01/11), e apresenta o outro lado da história: pessoas ligadas ao futebol que decidiram se posicionar e enfrentar o regime ditatorial em vigor. Uma situação quase impensável nos dias de hoje, onde poucos jogadores se posicionam e saem de cima do muro. Imagine então, posicionar-se durante um período em que a liberdade de expressão era tão restrita, principalmente sobre assuntos políticos e sociais? Houve, no entanto, aqueles que não se calaram e levantaram a voz a favor daquilo que acreditavam: liberdade de expressão, o direito à uma sociedade justa e democrática. Entre essas pessoas, três personagens se destacaram e decidiram falar abertamente sobre o que vivenciaram à época. São eles, Nando e Sócrates, dois ex-jogadores de futebol, e o jornalista esportivo e ex-técnico João Saldanha. 

Ao longo de seis episódios, vamos conhecer mais sobre esses personagens que tiveram suas carreiras – e suas vidas – marcadas por conta dos seus fortes posicionamentos.
 
São relatos inéditos, fruto de meses de pesquisa, em livros, reportagens e dezenas de documentos do regime militar como conta Brenno Costa: “Fizemos inúmeras entrevistas e conseguimos obter relatos significativos que mostram o valor da luta pela democracia no esporte e as consequências enfrentadas por aqueles que resolveram encarar o processo civilizador no futebol”, diz o apresentador. 

Publicado semanalmente, às terças-feiras o podcast ‘Contra Ataque’ é um original Globoplay, realizado em parceria com o ge. O primeiro episódio está disponível na plataforma e traz os relatos de vozes do futebol brasileiro que se levantaram contra a repressão da ditadura, clique aqui.    

 
Entrevista com Brenno Costa
 
Qual é a expectativa para a estreia do podcast ‘Contra Ataque’? O que o público pode esperar dessa série?
A série ‘Contra Ataque’ nasce num momento muito importante para a sociedade brasileira. Parte da população tem levantado, reiteradamente, a bandeira do autoritarismo, desconhecendo ou ignorando uma história recente do nosso país em que a democracia foi sufocada por uma ditadura militar por mais de duas décadas. Na série, o público poderá entender melhor ou relembrar diferentes fases desse período muito sensível, tendo o futebol como fio condutor. 
 
Sócrates já declarou que o futebol é o que há de mais político no nosso país. Ele unifica as diferentes classes sociais, nem que seja por alguns instantes, e, através dele, podemos explicar muita coisa.Nos seis capítulos da série, mostramos como pessoas que ousaram defender a democracia nesse período acabaram sendo vigiadas de perto, algumas sendo presas e torturadas. Porque é isso que acontece numa ditadura. Não há espaço para o contraditório.
 
Com esse projeto, tenho a expectativa de que as pessoas possam entender melhor o que acontece dentro desse tipo de regime e o quanto custa para uma sociedade que abre mão da democracia e depois precisa lutar para que ela seja retomada e protegida.
 
Além das revelações que serão citadas no podcast, quais outras frentes serão destacadas na série investigativa? Pode contar mais detalhes? 
 
O principal intuito meu e de Marcel Tito, que é o meu parceiro em toda a execução dessa série, é que as pessoas conheçam, de fato, o que acontece em regimes de exceção. Para isso, contamos detalhadamente as histórias de três personagens começando desde os primeiros instantes do golpe militar, em 1964, e vamos até o reflexo desse regime, que perdura até mesmo depois do fim oficial da ditadura em 1985. 
 
Além de entrevistas com especialistas e personagens, trazemos documentos, então marcados como secretos pelos militares, para mostrar como tudo era feito de uma maneira arbitrária. A nossa intenção é que as pessoas saiam do superficial e mergulhem no contexto social dessa época, que, em vários momentos, carrega muita semelhança com o cenário atual.
 
É preciso se fazer entender com todas as letras o que aconteceu no Brasil no período da ditadura. É preciso produzir memória porque muita coisa ainda está escondida. Se a gente não enfrenta esse passado, não mostrarmos isso, abrimos espaço para interpretações convenientes e não para o que de fato aconteceu.
 
Com base em suas pesquisas e documentos coletados, você considera a Democracia Corinthiana como o maior movimento social feito por jogadores de futebol do Brasil na história? E por qual motivo nada parecido voltou a acontecer?
 
A Democracia Corinthiana é um evento sem precedente na história do futebol mundial. Dos que conheço, é um dos mais relevantes. A partir de um contexto social favorável, em que a maior parte da sociedade brasileira já não aguentava mais viver numa ditadura, um grupo de jogadores junto com um diretor de futebol decidiu mostrar como é mais saudável e justo dividir igualitariamente as decisões e rumos de assuntos coletivos.
 
Foi a partir do voto que eles definiram questões de premiações, viagens, temas sensíveis como concentração e também enviaram mensagens muito potentes para a sociedade, como a campanha estampada na camisa para que a população participasse da eleição para governador em 1982. 
 
Acredito que a Democracia Corinthiana foi um evento ímpar, que, dificilmente, será repetido. Primeiro não vivemos em uma ditadura militar – e precisamos lutar para que isso nunca mais volte a acontecer. Segundo porque foi um raro momento em que muitas pessoas tiveram um pensamento comum e apostaram a própria carreira para defender uma ideia. Hoje, o futebol movimenta muito mais dinheiro e determina que os jogadores fiquem apenas interessados “no jogo” e que sejam dirigidos para peças publicitárias específicas. Pensar e agir diferente, como Sócrates o fez, quase nunca é estimulado.
 

Entrevista com Ivan Mizanzuk
 
Qual é a expectativa para a estreia do podcast ‘Contra Ataque’? O que o público pode esperar dessa série?   
 
A expectativa é grande, e confesso que estou muito animado com esse projeto desde quando ele chegou em minhas mãos para dirigir. Ele é fruto direto da brilhante pesquisa histórica feita pelo Brenno Costa e pelo Marcel Tito, e eu sempre ficava impressionado como eles tinham respostas para todas as minhas dúvidas. Foram raras as vezes que eu fiz alguma pergunta que eles já não tivessem pensado e corrido atrás. Documentos, matérias de jornais, entrevistas, já estava tudo muito bem encaminhado. Isso demonstra comprometimento, uma verdadeira paixão e curiosidade a um tema. Vai além do trabalho profissional. Então, o público pode esperar uma série feita por pessoas apaixonadas pelo tema, que não pouparam esforços em refletir o que a história do futebol tem a ver com a história política do país. 
 
Além das revelações que serão citadas no podcast, quais outras frentes serão destacadas na série investigativa? Pode contar mais detalhes?   
 
É inegável que a grande maioria dos brasileiros é fanática por futebol. Ao mesmo tempo, muita gente acredita que o povo não se interessa por política – mas os últimos anos mostram que isso não é bem verdade (ou pelo menos que muita coisa mudou nos últimos 10 anos).   
Com isso em mente, ao meu ver, para além da pesquisa feita pelo Brenno e Marcel, o grande mérito da série é confrontar essas duas paixões nacionais (futebol e política) e se perguntar “será que esses conflitos e tensões do passado ainda existem? Se sim, como os percebemos? E por que essa relação parece quase como um tabu?”

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