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Obras artísticas estão abandonadas ou servem de moradia em Mogi

Eles mantêm viva a história da cidade, prestam homenagem à pessoas, situações e costumes locais. Representam a memória de Mogi das Cruzes, e também fomentam a arte de quem por aqui vive. Mas nada disso parece ser suficiente para que os monumentos da cidade mereçam um olhar mais cuidadoso por parte da administração pública, da […]

22 de janeiro de 2021

Reportagem de: O Diário

Eles mantêm viva a história da cidade, prestam homenagem à pessoas, situações e costumes locais. Representam a memória de Mogi das Cruzes, e também fomentam a arte de quem por aqui vive. Mas nada disso parece ser suficiente para que os monumentos da cidade mereçam um olhar mais cuidadoso por parte da administração pública, da iniciativa privada e da sociedade organizada. Assim como fez em reportagem de 2019, O Diário mostra que várias peças instaladas em praças e rotatórias estão abandonadas.

Um dos casos que mais choca e preocupa é o do Monumento ao Imigrante Japonês, cuja foto estampa esta página. Erguido como forma de perpetuar a história da imigração japonesa no Brasil, hoje virou abrigo para pessoas em situação de rua. 

Há por lá muito lixo, e as condições são visivelmente insalubres e inseguras. Procurada por O Diário, a prefeitura respondeu, mas não exatamente sobre este ponto. “Sobre a questão das pessoas em situação de rua, a Secretaria Municipal de Assistência Social coordena ações integradas de abordagem às pessoas em situação de rua de forma contínua e permanente. Os assistentes e agentes sociais conversam com homens e mulheres e fazem um trabalho de orientação ao Centro Pop, que realiza a triagem e o encaminhamento aos serviços de acolhimento ou programas sociais. Qualquer cidadão pode acionar o serviço de abordagem pelo telefone: 97096-0923”, é o que trouxe a nota.

Outras situações dizem respeito ao estado de conservação de monumentos públicos. As páginas a seguir mostram detalhes de instalações como ‘O Bandeirante’, de Bellini Romano, ‘Biquinha’, assinada por Mauricio Chaer, a estátua da Praça dos Expedicionários, a ‘Mão Divina’, de Rodrigo Bittencourt, a ‘Pirâmide Humana’ de Lúcio Bittencourt, e também o busto do ex-prefeito Francisco Ribeiro Nogueira, que foi furtado porém recuperado pela Guarda Municipal nesta sexta-feira, dia 22.

Para Mauricio Chaer, a manutenção dessas peças é algo “complicado”, já que envolve o interesse e a disponibilidade financeira da prefeitura e das empresas que financiam as obras ou adotam as praças em que elas estão instaladas. 

Rodrigo Bittencourt concorda. Para ele, a prefeitura deveria ceder com mais frequência caminhões pipa para limpar as instalações que podem ser lavadas com água. Ele se compromete a fornecer os produtos necessários para a higienização de suas peças e a mão de obra, assim como fez no início de janeiro na cena ‘Basquete’, próxima ao Mogi Shopping.

Autor de ‘O Bandeirante’, que está manchado de tinta vermelha desde julho último, Bellini Romano reafirma o que seus colegas dizem. Para ele, que diz já ter ido ao local para analisar a situação e chegou a conclusão de que para remover a tinta será necessário raspar e fazer polimento, “a responsabilidade é da prefeitura”.

 

Prefeitura promete analisar situações

Questionada por este jornal sobre a manutenção dos pontos apresentados, a Prefeitura de Mogi respondeu inicialmente apenas que “todas as questões foram encaminhadas às Secretarias e departamentos competentes”. A reportagem porém pediu por um detalhamento maior, e a administração pública esclareceu que “as equipes de manutenção da Prefeitura já estão fazendo vistorias e levantando um diagnóstico geral dos monumentos da cidade”.

Figura manchada – ‘O Bandeirante’

De pé na entrada da cidade pela Mogi-Dutra desde 2006, ‘O Bandeirante’, de Bellini Romano, é uma homenagem a Gaspar Vaz, o bandeirante que fundou a cidade. Em julho de 2020, a obra foi vandalizada e passou a apresentar várias manchas de tinta vermelha, o que segue ainda hoje.

Procurado por O Diário, o autor da obra disse que já recomendou um procedimento de limpeza à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, o que o ainda não foi feito. 

Segundo Bellini, a tinta utilizada foi do tipo epóxi, e portanto não pode ser dissolvida. Será preciso raspar e fazer o polimento no aço inox, o que também vale para o granito do chão. 

 

Obra vira abrigo improvisado – ‘Monumento ao Imigrante Japonês’

Quando Van de Wiel esculpiu o monumento ao Imigrante Japonês, instalado em 1969 na praça que leva o nome da obra, no Jardim Santista, certamente não imaginava que 51 anos depois sua arte serviria como abrigo improvisado para pessoas em situação de rua. Mas é exatamente isso o que acontece hoje.

Além de encontrar pessoas dormindo embaixo da marquise que estampa o nome da peça, O Diário encontrou – e registrou em foto – a precária situação do endereço, onde há lixo a céu aberto. Entre os itens, é possível identificar uma caixa de isopor, diferentes pares de tênis, roupas, sacolas e garrafas plásticas, galões e cobertores.

A reportagem flagrou situação semelhante no Largo do Carmo, e enviou a demanda a prefeitura, que prometeu um “diagnóstico geral”. No entanto, embora tenha prometido uma vistoria da Secretaria Municipal de Assistência Social, a administração pública também disse que “neste período em específico” do ano, “a prioridade é identificar e prevenir problemas causados pelas chuvas de verão”. 

Arte resiste em bebedouro sujo – ‘Biquinha’

Além de ser uma obra de arte, a ‘Biquinha’ idealizada por Mauricio Chaer e instalada em 2014 na praça Assumpção Ramirez Erroles, próxima ao Habib’s, no Nova Mogilar, é também um bebedouro público. Todas as seis torneiras funcionam, porém em uma delas já não há mais o registro. Também há musgo e faltam dezenas de ladrilhos que compunham a peça originalmente.

Neste caso, a manutenção se faz necessária para conferir higiene à obra, onde muitas pessoas efetivamente tomam água após praticar exercícios físicos. Para Chaer, que é autor de outro monumento no mesmo endereço, ‘Uma Figura Tomando Sol’, onde dois refletores estão queimados,  a manutenção é “complicada” por envolver a administração pública, a iniciativa privada e a sociedade organizada.

Triste pelo estado de conversação da ‘Biquinha’, que segundo ele teria chegado ao ponto atual pela qualidade das pastilhas utilizadas na construção, ele diz que vai iniciar conversas para promover uma manutenção no local. 

Falta cuidado – Praça dos Expedicionários

Datada de 1953, a estátua da Praça dos Expedicionários estabelece uma homenagem “aos pracinhas mogianos que tombaram em solo italiano”. Uma das mais antigas peças instaladas em locais públicos, ela precisa de manutenção.

Além da sujeira e do mofo, a obra apresenta inúmeras rachaduras, inclusive na base que a sustenta. Além disso, a estrutura toda parece ter sido remendada de maneira incorreta, já que foi aplicada uma massa que difere da cor e da textura originais.

Dois refletores deveriam iluminar a escultura, porém hoje um deles não está lá, provavelmente alvo de furto. A prefeitura confirmou ter notificado a Secretaria de Obras, “que tomará as providências cabíveis” sobre isso.

A administração pública também destacou que “parte dos problemas apontados” por O Diário “decorre de atos de vandalismo, o que constitui crime contra o patrimônio público e gera prejuízos de ordem econômica e operacional, além de comprometer a paisagem urbana”.

Vandalismo e lixo – ‘Mão Divina’

Embora precise de limpeza, a ‘Mão Divina’, instalada em 2017 por Rodrigo Bittencourt em uma das rotatórias da Avenida Francisco Rodrigues Filho, espanta pelo seu entorno, que tem garrafas de cerveja quebradas, roupas e embalagens de preservativo jogadas pelo chão.

Há no monumento alguns ninhos de insetos, principalmente na asa da pomba, que simboliza a Festa do Divino Espírito Santo. Além disso começam a nascer algumas vegetações na base da escultura. Bittencourt diz estar disposto a oferecer o produto necessário para a higienização e também a mão de obra. Mas pede apoio e o fornecimento de um caminhão pipa, por parte da prefeitura.

Sobre os atos de vandalismo que cercam a obra, uma das únicas a apresentar refletores de LED e em bom estado de conservação, a gestão pública diz que a “Guarda Municipal atua diariamente no monitoramento e combate a qualquer tipo de ação desta natureza, com apoio da Polícia Militar”. 

A nota enviada a O Diário lembra, porém, da importância do “apoio direto da comunidade, que pode e deve denunciar atos assim, gratuita e anonimamente, pelo telefone 153”.

 

É preciso limpar – ‘Pirâmide Humana’

Na ‘Pirâmide Humana’, instalada por Lúcio Bittencourt num ponto próximo ao Mogi Shopping em 1999, a situação dos refletores se repete. Enquanto dois estão lá, mas em péssimo estado de conservação, outros dois já não existem mais. As fiações, porém, seguem visíveis, e portanto ao alcance da mão da população.

Contudo, o estado de conservação da peça, que representa os diferentes povos que passaram pela cidade e também os quatro grupos médicos formadores Samed, que hoje está nas mãos da NotreDame Saúde, é um dos melhores entre os pontos visitadoss por O Diário. 

O que se vê é apenas a necessidade de limpeza, feita com um reagente químico especial e também com água, como explica o filho de Lucio, Rodrigo Bittencourt. E no entorno, é preciso cortar a grama, o que já é uma rotina assumida pela prefeitura.

Busto furtado

Nesta sexta-feira, dia 22, o busto do ex-prefeito Francisco Ribeiro Nogueira, que está instalado no Largo 1º de Setembro desde 1995, foi furtado. Após algumas horas, a Guarda Municipal de Mogi das Cruzes encontrou a peça, que deve ser recolocada em breve. Ainda não se sabe o que motivou o crime, mas a reportagem de O Diário encontrou no local embalagens de entorpecentes e também várias pichações.

 

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