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Dificuldades e títulos: trajetória do lutador Esquivinha, de Ferraz, mostra a força da persistência

A saga do lutador de kickboxing Haialas Souza, de Ferraz de Vasconcelos, demonstra que quando um atleta compete em nível profissional no Brasil, as ‘pancadas’ podem vir antes mesmo da entrada nas arenas. Quando falta incentivo e patrocínio, além de muito treino, a persistência se torna atitude chave para ‘virar o jogo’.  Haialas, que ganhou […]

17 de janeiro de 2022

Reportagem de: O Diário

A saga do lutador de kickboxing Haialas Souza, de Ferraz de Vasconcelos, demonstra que quando um atleta compete em nível profissional no Brasil, as ‘pancadas’ podem vir antes mesmo da entrada nas arenas. Quando falta incentivo e patrocínio, além de muito treino, a persistência se torna atitude chave para ‘virar o jogo’. 

Haialas, que ganhou o apelido de ‘Esquivinha’, passou o começo de 2021 vendendo trufas para arrecadar fundos e conseguir arcar com os custos para disputar o último Mundial de Kickboxing, na Itália. Foi difícil, mas após “muito suor”, ele conseguiu o apoio necessário para viajar até o local da competição, onde faturou o terceiro lugar, 

Encerrou o ano com outros pódios importantes, sendo o último o torneio Sul-Americano, disputado em dezembro, no Paraná. O representante da região garantiu a medalha de ouro na categoria até 57 kg (leia mais abaixo).

Com boa posição no ranking, ele tem agenda cheia para 2022, mas ainda sofre com a falta de apoio – o principal rival do atleta. A carreira do jovem do Alto Tietê começou a decolar, mas é preciso ajuda para manter voo e quem sabe um dia chegar até a sonhada Olimpíada. O desejo dele é continuar lutando, mas tem como prioridade garantir o sustento da família, segundo contou em entrevista para O Diário. 

Esquivinha já está há mais de 10 anos no kickboxing, com passagens também pelo muay thai. Ele foi apresentado ao esporte por um amigo próximo e não parou mais. 

No começo deste ano, teve uma surpresa. Após bom desempenho em outros campeonatos, foi convocado pela Confederação Brasileira de Kickboxing (CBKB) para integrar a seleção brasileira no Mundial do Esporte, na Itália. Porém, sem apoio da Prefeitura de Ferraz ou da Confederação, as despesas da viagem deveriam ser todas bancadas por ele. 

Sem desanimar, o lutador decidiu correr atrás de uma forma de conseguir participar. Teve a ideia de criar uma vaquinha online: sua meta era arrecadar, no total, R$ 30 mil para os custos de passagem, hospedagem, alimentação e transporte. Até então, só tinha conseguido R$ 990,00. Para completar, vendia trufas e pães de mel na frente da estação ferroviária Gianetti, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), sempre contando sua história. 

Enquanto outros atletas classificados passavam os dias treinando e se preparando para o Mundial, ele seguiu nessa rotina de vendas na estação, sob sol e chuva. 

A história chamou a atenção. Após reportagens na imprensa, a história dele começou a ganhar destaque. Uma das pessoas impactadas foi Vanderlei Garcia, empresário do ramo automobilístico, que prometeu bancar sua participação na disputa.

A história ganhou tanta repercussão que chegou também até o pugilista Esquiva Falcão, medalhista olímpico pelo Brasil em 2012, nos Jogos de Londres. Ao compartilhar a campanha de Souza, Falcão se comprometeu a colaborar e reforçou a trajetória “guerreira” do lutador de kickboxing.

“Todas as experiências foram muito boas, tive a chance de ir até lugares diferentes”, conta. Mas ele esperava um gás maior:  “Achei que minha vida ia mudar após conquistar todos os títulos possíveis em um ano, mas, para 2022, a luta continua para conseguir bancar as competições”, diz, ao acrescentar que agora será necessário “manter a cabeça erguida”.

Apesar dos títulos e de reconhecer o seu talento, Haialas é sincero e desabafa: para ele, ser atleta sem condições financeiras no Brasil parece impossível. 

Ele conta que não recebeu incentivo da Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, nem mesmo uma postagem parabenizando pela conquista no Mundial em dezembro. “Sempre vi as notícias de que os atletas eram recebidos com festa na cidade após uma conquista, mas em Ferraz, não recebi nem parabéns”, conta.

Vivendo na pele as dificuldades, conta que segue de cabeça erguida por enquanto, “matando um leão por dia”. “Se parar de lutar, posso perder classificação, mas minha prioridade é a família”, conta, ao citar que tem uma filha para sustentar. “Sei que tenho talento, mas só de esforço não dá para viver o atleta”, finaliza, acrescentando que está aberto para novas parcerias e que o contato pode ser feito no Instagram @esquivinha.

2022

Com a conquista mais recente, Haialas já garantiu, em junho, vaga para o Pan-Americano da modalidade,

O lutador também já tem compromisso marcado para a Copa do Mundo de Kickboxing, na Croácia, em fevereiro, e no Campeonato Paulista, em janeiro. Em novembro, ele poderá disputar o mundial novamente, na Turquia. Todas as passagens saem do bolso dele. 

“Muita competição e pouco dinheiro”, comenta. 

Apesar das dificuldades, ele diz que não se arrepende de ter seguido esse estilo de vida. “Me arrependi de não ter tentado mais. Consegui manter um projeto social, onde dou aula para crianças, lembrando que o esporte transforma vidas”, reforça. 

Sul-Americano

O Sul-Americano, que encerrou o calendário de 2021 de Haialas Souza, foi disputado no dia 11 de dezembro, em Cascavel, no Paraná. O atleta de Ferraz conquistou o ouro na categoria até 57 kg, após superar o brasileiro Aldine de Araujo, por decisão unânime dos juízes. Antes da final, ele já havia vencido lutadores da Venezuela e do Chile. Essa foi a 12º edição do campeonato, organizado pela Confederação Brasileira de Kickboxing, com supervisão da Confederação Pan-Americana e apoio da Associação Mundial de Organizações de Kickboxing (Wako).

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