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Deslizamentos preocupam moradores e penalizam comércio na Mogi-Bertioga

Os riscos de constantes de desmoronamentos causam insegurança aos usuários da Rodovia Mogi-Bertioga (SP-98), que ficam apreensivos ao trafegar pela estrada em períodos chuvosos. O problema é antigo, com deslizamentos e quedas de barreiras que ocorrem a cada temporada de chuva na região, sem que um plano de obras de contenção seja apresentado pela Secretaria […]

12 de novembro de 2022

Reportagem de: O Diário

Os riscos de constantes de desmoronamentos causam insegurança aos usuários da Rodovia Mogi-Bertioga (SP-98), que ficam apreensivos ao trafegar pela estrada em períodos chuvosos. O problema é antigo, com deslizamentos e quedas de barreiras que ocorrem a cada temporada de chuva na região, sem que um plano de obras de contenção seja apresentado pela Secretaria de Estado de Transportes e órgãos responsáveis pela manutenção da via.

Além dos riscos de acidentes com os desmoronamentos, as interdições, como a que aconteceu nos primeiros dias deste mês de novembro, atrapalham a vida de pessoas que precisam utilizar a via para trabalhar, fornecer alimentos e materiais de construção, fazer turismo e diversos outros motivos.

O Departamento de Estrada de Rodagem (DER) informa que faz o monitoramento para prevenir os riscos, mas não apresentou ainda um plano para prevenir que os incidentes aconteçam na estrada, considerada “perigosa para os usuários”, como destaca o geológo Silvio Pomaro, que defende a construção de uma nova via para resolver definitivamente o problema na estrada (veja matéria ao lado)

Neste início de mês,  a estrada teve que ser interditada três dias por causa de  deslizamentos. Os primeiros indícios de queda de barreira foram observados no dia 1º de novembro, mas a situação se complicou no dia 2, com desmoronamentos no km 82, no trecho de serra, que causaram o fechamento do acesso. 

O motorista de Suzano, Vander Carlos de Andrade, que faz entrega de hortifrutis no litoral, disse que tenta evitar a estrada quando está chovendo forte, mas alega que algumas vezes é inevitável. “Procuro não passar pela rodovia quando o tempo está ruim. Quando não tem como adiar, vou rezando para que nada aconteça”, comenta 

Ele relata que já teve situações em que precisou retornar porque foi avisado por outro colega que estava descendo a serra um pouco antes dele e se deparou com deslizamentos. “Normalmente quando o tempo não está bom, faço uma consulta antes pelas câmeras do DER para ver como está a situação”, explica, dizendo que trabalha nessa área há cerca de 10 anos e já nem lembra a quantidade de vezes que ocorreram deslizamentos.  Apesar de dizer que esse tipo de fenômeno faz parte da natureza, ele acha que falta atenção por parte do DER para fazer o monitoramento e prevenir tais riscos.

Eduardo Santos, responsável pela página Igreja na Mídia, no Facebook, tem casa em Bertioga e conta que passa pela via praticamente todas as semanas. “Considero a estrada segura, mas prefiro não usar a rodovia em dias de chuva torrenciais, porque já sei dos riscos de deslizamentos”, comenta. Na opinião dele, em dias de chuva e de neblina, “o que ajuda é que a rodovia é bem sinalizada e conservada”. Observa ainda que sempre se depara com as equipes do DER fazendo serviços de manutenção no trecho de serra.

O comerciante Adão Francisco da Cruz, calculou um prejuízo de aproximadamente R$ 40 mil, somando as duas lanchonetes que ele mantém entre os quilômetros 68 e 69 da rodovia e que sobrevivem do movimento da estrada. “O prejuízo é grande, porque dependemos dos clientes para vender, pagar os funcionários, pagar os boletos e contas. Qualquer comerciante em uma situação dessa estaria sofrendo”, observou.

O empresário Mauro Cardoso de Moraes, que reside em Biritiba Ussu, distrito cortado pela Mogi-Bertioga, onde a família tem comércio há muitos anos– lanchonete e posto de combustível –  é outro que diz que a queda de movimento de carros, tanto aos finais de semana por causa de turismo, como durante a semana, com o tráfego de veículos que circulam pelo local, prejudica os negócios.

Ele disse que não vê solução para o problema a curto prazo, por questões ambientais e financeiras. Na opinião dele, o certo seria um estudo especializado de georeferenciamento em toda a área de serra para avaliar os problemas e solucioná-los. 

“Sempre que começa a temporada de chuvas a gente fica apreensivo.  No caso da última queda de barreira, é possível observar que o trecho ainda está muito pergoso e se voltar a chover vai travar a via novamente. Isso vai continuar acontecendo enquanto não for feita obra adequada”, avalia. 
Morador daquela região desde que a estrada foi construída, nos anos 80, Mauro disse que só são realizadas obras emergenciais quando acontece o problema. “A Mogi Bertioga precisa de um trabalho de prevenção que vá além de só arrumar a pista, tapar buraco e pintar faixas. Quando chove, o governo fala em realizar estudos e desenvolver projetos, mas assim que passa o verão, todos se esquecem”. 

Ele disse que está otimista como a eleição do novo governador e espera que o governador eleito, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dê uma atenção especial para a Mogi-Bertioga.

É perigosa

A Mogi-Bertioga é considerada uma rodovia “muito perigosa” pelo geólogo Silvio Pomaro, que há mais de 35 anos acompanha os eventos de quedas de barreiras que acontecem quando chove mais forte no trecho de serra. Ele diz que para resolver o problema, evitar acidentes e até tragédias, a saída seria construir uma nova estrada, mais moderna.

Após uma visita que ele fez ao local para ver de perto o deslizamento que ocorreu no início deste mês, provocando a interdição da pista por três dias, Pomaro alerta que ainda há riscos iminentes de novos deslizamentos no local, se voltar a chover forte .

Ele alega ainda que apesar do trabalho feito pelas equipes do DER, ainda é possível observar que o solo está solto, e tem blocos que podem vir a rolar, se cair um pé d’água mais forte. “O perigo está iminente porque apesar de ter sido feito a limpeza para a desobstrução da via, na parte de talude ainda tem muita quantidade de massa para escorregar. Isso em função de fortes chuvas e outros eventos que podem ocorrer, abalos, circulação de caminhões e tratores podem causar deslizamentos”, detalha.

O trabalho que vem sendo feito, segundo ele, é apenas para remediar, porque não há como fazer nada  definitivo, que resolva o problema da estrada no atual formato. “Era um caminho que virou uma rodovia e temos ali toda uma problemática de adequação geotécnica”, comenta.

“É uma rodovia bastante perigosa, com muitos eventos geotécnicos. Acompanho a situação da estrada há mais de 35 anos. Sempre se tentou corrigir os problemas com remediações até que aconteça qualquer tragédia muito pior ali”, alerta.

O especialista segue dizendo que a melhor das ideias seria para resolver o problema seria a construção de nova rodovia com consistência geotécnica, estudos de viabilidade, de impactos ambientais, para fazer uma estrada segura para toda a população, nos mesmos moldes da Tamoios ou Imigrantes. Não adianta ficar só ficar remediando e tapando o sol com a peneira, gastando sem ter as soluções definitivas”, argumenta.

Obras

Há alguns anos, existe a promessa de um estudo mais aprofundado de órgãos especializados, como o IPT, mas até o momento nada foi apresentado. O DER promove as ações para tentar recompor os deslizamentos, a exemplo do que aconteceu na semana passada. mas não informa sobre estudos que apontem saída para o problema.

Durante a semana, O Diário tentou várias vezes um contato com o IPT para obter informações sobre um estudo que estaria sendo feito pelo órgão, mas não obteve nenhum retorno.

Sobre o último desmoronamento que deixou a estrada fechada por dois dias,  o DER esclarece que a queda de barreira foi causada pelas chuvas intensas e contínuas que caíram na região nos últimos dias. Explica que as obras no local incluem o complemento da limpeza do talude, implantação de canaletas de drenagem, barreira dupla de concreto e tela protetora, com previsão de execução em 6 meses. 

“O DER informa que realiza monitoramento 24 horas por dia em toda SP-98, através de veículos. Em caso problemas na via, o Departamento imediatamente adota providências necessárias. Também são realizadas medidas preventivas todos os anos com a Operação Verão nas rodovias, com o apoio da Polícia Rodoviária, proporcionando maior segurança e fluidez no tráfego de veículos”. O DER também destaca que encontra-se em fase de licitação os serviços de melhorias no pavimento e reabilitação da sinalização.

O órgão informou que existem 15 muros de contenção ao longo da via, dos quais nove foram construídos há menos de cinco anos. Disse ainda que tem toda a extensão da rodovia mapeada com a indicação de pontos que necessitam de atenção. Com isso, atualmente, trabalha para que, ainda este ano, seja firmado convênio com empresa especializada para que sensores de monitoramento sejam instalados nos trechos da serra da ligação rodoviária Mogi -Bertioga. 

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