'Os mortos de Mogi não descansam em paz. Não há vigia durante o dia. Muito menos à noite. Peças pesadas já foram deixadas por ladrões em furtos fracassados'
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'Os mortos de Mogi não descansam em paz. Não há vigia durante o dia. Muito menos à noite. Peças pesadas já foram deixadas por ladrões em furtos fracassados'
Uma “googlada”, como se diz, sobre o abandono, insegurança, depreciação e negligência com o Cemitério São Salvador, de Mogi das Cruzes, e faz sentido usar resposta dada pela sociólogo José de Souza Martins em uma aula magna no Instituto Humanitas - Unisinos, em 2020, sobre a sociedade brasileira atual. Já se passaram três anos dessa fala do professor sobre o Brasil Ideológico e Desatento e as brutais mudanças na sociedade brasileira.
Disse José de Souza Martins: “O Brasil não foi na direção suposta pelos governos e muito menos pelos sociólogos e, de repente, há uma mudança brutal na sociedade brasileira e fica todo mundo surpreso. Surpreso com o quê? Não há que ficar surpreso; significa que o pessoal estava distraído”.
Postos novamente na crônica policial e política nestes dias, o menosprezo e o desrespeito com a história e a memória pessoal e coletiva construída por mogianos mortos - brancos, amarelos e pretos, pobres e ricos no último século e meio são sintomas de um desmonte e descontrole que vem se impondo. É um símbolo da sociedade brasileira. Reina uma precariedade.
Pisos malfeitos, instalações descuidadas e sumiço de peças familiares de interesse histórico escancaram esse descuido faz tempo.
Nessa onda recente, a situação chega a patamar em que nenhuma argumentação ou desculpas deveria ser aceita pela sociedade, pelos vereadores, pelo MP. Em intervalos de dias, túmulos começaram a perder peças antigas e nem tão antigas assim, com valor num mercado que existe e não é combatido. A reação do governo municipal foi subir a altura e prometer incluir câmera de monitoramento sem data prevista.
A nossa repórter Mariana Aciolli esteve no São Salvador. Viu muitos túmulos violados. Encontrou pessoas revoltadas, com razão. Em especial com a insensibilidade demonstrada por quem tem a obrigação de zelar pelo mobiliário público local.
Os mortos de Mogi não descansam em paz. Não há vigia à noite. Nem durante o dia. Peças pesadas de bronze são deixadas nos corredores por ladrões que fracassaram.
O que está acontecendo ali exige patrulhamento, prevenção, investigação e punição exemplares. Se tem o ladrão que rouba bronze, ferro, placa com a inscrição cuidadosamente pensada um dia para homenagear a vida de um familiar, tem quem compra e revende sem pudor.
A administração desse serviço que todos utilizam em hora dolorida e única merece mais atenção. Ampliar e melhorar velórios são verbos no papel. Ninguém mais lutou por um crematório, um deficit, aliás, regional. Faltam sepulturas - a pandemia deu um lamentável exemplo da negligência num setor que espelha como a cidade e o poder público consideram os antepassados, quem ajudou Mogi chegar até aqui.
Não há que ficar surpreso. Esse setor está navegando meio sem rumo. Esses furtos crescem desde o final do ano passado. Em reunião na Câmara Municipal para tratar do assunto, mesmo diante da inconformação de parentes das pessoas ali sepultadas, apareceram...promessas. Mais um tema histórico, cultural e social é desconsiderado. Embora, bravamente, as vítimas protestem. Há falhas graves na proteção e preservação do passado de Mogi. Presente e futuro com menor repetição de erro dependem do ontem. Qualquer distraído sabe disso.
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