Costuma não ser bem recebida a noticia de que um bem será tombado por causa das imposições que passam a reger as decisões tomadas após esse processo
Santana, a padroeira de Mogi, pode ser tombada como patrimônio histórico municipal (Arquivo O Diário)
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Costuma não ser bem recebida a noticia de que um bem será tombado por causa das imposições que passam a reger as decisões tomadas após esse processo
Santana, a padroeira de Mogi, pode ser tombada como patrimônio histórico municipal (Arquivo O Diário)
Mogi das Cruzes começa a acompanhar um processo de tombamento do patrimônio municipal de interesse para a preservção da história da cidade. Historiador e diretor de Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura, Glauco Ricciele, contou em entrevista a O Diário, sobre o início dos estudos para se propor o tombamento da imagem de Santana, uma das raras peças sacras do século XVIII legadas à comunidade mogiana no decorrer dos últimos tempos.
Santana é a padroeira festejada neste 26 de julho por ter sido a santa de devoção dos fundadores de Mogi das Cruzes, quando foi instituída a Vila de Sant'Anna de Mogi Mirim, época em que a pequena localidade que deu início ao município mogiano deixou de usar a denominação índigena, Boigy, num movimento também seguido pela maioria dos demais povoamentos brasileiros que romperam com as tradições dos povos originários e indigenas após a chegada dos primeiros europeus ao Brasil.
O tombamento dessa obra histórica como patrimônio municipal abre estrada para que o mesmo processo se concretize no Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional.
Notícia como essa costuma não ser bem recebida por padres, gestores e proprietários de casarios e outros elementos de interesse do patrimônio histórico por causa das implicações legais que tal ato exerce no futuro, restringindo a tomada de decisões e ações, como obras, reformas, restaurações, uso e ocupação.
Porém, por outro lado, sem essa chancela, patrimônios físicos, como é o caso da imagem de Santana, estão sujeitos a desvairios como a descaracterização das peças e intervenções mal planejadas, que favorecem, no pior dos mundos, a perda desses ícones históricos em roubos, sumiços e destruições.
A cidade possui vários exemplos de peças não catalogadas que foram parar sabe-se lá onde e na mão de quem. O mundo da arte sacra é um terreno ardiloso e altamente rentável, como é de conhecimento de todos.
Um dos casos recentes foi o de uma peça centenária da Festa do Divino de Mogi das Cruzes que desapareceu durante a realização de uma das edições e, por mais que algumas pistas indiquem que ela tenha ido parar em uma outra cidade brasileira, nada pode ser feito para recuperá-la - justamente porque essas obras sacras têm semelhanças e precisam estar muito bem inventariadas para serem reconhecidas como sendo de uma determinada paróquia ou cidade.
Nesse aspecto, o tombamento garante a salvaguarda desses bens históricos. No caso de Santana, a personagem é mais do que um registro da história da função da Mogi das Cruzes porque ela também integra o patrimônio imaterial e cultural da cidade, bem cuidado pelas gerações de devotos que a mantêm, ainda hoje, como uma referência religiosa e de fé.
Esse processo poderá abrir precedente para outros processos semelhantes com peças igualmente antigas e orfãs de estudos técnicos que garantam a legitimidade delas como pertencentes a Mogi das Cruzes. E capitalizar, ainda, aquilo que move os defensores de tal tombamento: a busca de patrocínios e incentivos para a preservação dessas imagens.
Agora, o desafio será transpor esse desejo para a realidade, vencer as dificuldades técnicas a tempo de preservar essa peça que, hoje, possui algumas fissuras. Em se tratando de patrimônio, muito Mogi já perdeu para inércia de quem tem o poder político para cuidar mais e melhor de sua história.
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