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EDITORIAL

Réquiem para um velho rio

'A situação é crítica ao ponto de não se ver a água do Tietê, em locais onde o seu curso foi coberto por vegetação característica de mananciais poluídos'

O Diário
23/09/2023 às 08:12.
Atualizado em 23/09/2023 às 08:12

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EDITORIAL

Réquiem para um velho rio

'A situação é crítica ao ponto de não se ver a água do Tietê, em locais onde o seu curso foi coberto por vegetação característica de mananciais poluídos'

O Diário
23/09/2023 às 08:12.
Atualizado em 23/09/2023 às 08:12

Por mais otimista que se queira ser, o velho Tietê, que nos fornece a água que consumimos e ainda ajuda a abastecer a Capital e parte da região metropolitana de São Paulo, é um rio cada dia mais atingido pela incúria e falta de iniciativa dos homens públicos que deveriam cuidar de mantê-lo vivo.

O curso d’água que ajudou a nortear a ocupação do atual Estado de São Paulo, tempos depois do descobrimento do Brasil, não é mais sequer um arremedo do que já foi no passado.

O rio caudaloso, que permitia aos mogianos se refrescarem, nos dias de calor, no antigo cocho do Clube Náutico Mogiano, atualmente não passa de um modesto córrego de águas mal cheirosas e poluídas, onde se acumulam detritos, que vão de garrafas pet até os dejetos invisíveis, como os agrotóxicos resultantes de plantações existentes em sua margem. 

O volume de água também diminuiu,  por conta do abastecimento de represas que levam água para São Paulo, dificultando ainda mais a sua regeneração natural.

A situação é crítica ao ponto de não se ter contato visual com a água do Tietê, em locais aonde o seu curso foi totalmente coberto por vegetação característica de rios onde a poluição ajuda a alimentar algas e afins. 

Basta percorrer o trecho urbano do rio para se ter a certeza do abandono a que ele vem sendo relegado pelas autoridades estaduais e municipais, responsáveis pela fiscalização e melhoria da qualidade de sua água.

“Nenhum dos municípios atingiu 100% de tratamento de esgoto doméstico. Há uma boa parte das obras incompletas para se chegar à universalização do saneamento, portanto, ele ainda cai no rio. Além disso, temos a produção agrícola, com uso de agrotóxicos e insumos próximos ao rio e que, numa situação de irrigação maior ou de chuva, vão parar dentro dele. E o parque industrial, que nem sempre tem o comprometimento das empresas e fiscalização que dê conta para que elas não lancem efluentes no rio”, alerta o especialista César Pegoraro, biólogo da SOS Mata Atlântica, ao reforçar a queda abrupta na qualidade da água quando o Tietê passa por Mogi e demais cidades do Alto Tietê, atrelada a esta mistura de fatores impactantes.

Ao contrário da coloração da água do Tietê, os diagnósticos sobre suas condições são claros, assim como os remédios para salvar o rio de sua morte lenta e aparentemente inexorável. O silêncio das autoridades que dele deveriam cuidar, no entanto mostra que as condições de nosso mais importante manancial pouco importam  aos detentores do poder de decisão sobre seu futuro.

“A gente fica indignado pelo desprezo e abandono, ainda mais agora que a SOS Mata Atlântica aponta que a mancha de poluição aumento de 85 km para 122 km, o que reafirma a nossa desprezível incapacidade de gestão do Tietê. Os governantes são incapazes e todos daqui e dos oito municípios do Alto Tietê-Cabeceiras, por onde o rio drena, também o são, se levarmos em conta a falta de visão em relação ao rio para as futuras gerações”, afirma o ambientalista José Arraes, presidente do Instituto Cultural e Ambiental do Alto Tietê (Icati).

Apesar de pessimista, Arraes ainda tem a iniciativa  de convidar aos mogianos para uma visita ao rio para conhecer sua triste realidade.

Diante do imobilismo dos governos, é algo que ainda pode ser feito.

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