Registro de furto de carro no estacionamento do Parque Centenário abre alerta sobre a segurança no local que passa a receber mais pessoas e eventos; e a reação ao caso noticiado por O Diário, com os questionamentos sobre a vítima e não o crime, em si, é mais um sintoma desses tempos sombrios
O Parque Centenário é um dos equipamentos públicos melhor avaliado pelos mogianos e turistas da cidade (Arquivo O Diário)
O furto de objetos no interior de um carro estacionado em frente ao Parque Centenário, dias atrás, levanta alerta sobre a segurança dos frequentadores, especialmente a partir de agora, quando eventos e a procura pelo espaço tendem a crescer ainda mais. Desde 2020, com a alternância da abertura e fechamento do endereço de acordo com as normas do enfrentamento da pandemia, a atração apontada como um dos pontos mais bonitos e cartão postal de Mogi das Cruzes, se manteve um pouco mais longe da rotina de visitas dos mogianos. Por isso, a insegurança e a revolta relatadas pela jornalista Camila Quartim mercem ser levadas em consideração porque fazem parte do mesmo eixo de preocupação sofrido pelos comerciantes da região central - que seguem sendo vítimas de ladrões que passaram a entrar nas lojas durante a noite, nos últimos meses.
Crimes como o furto de bens no interior de carros ocorrem porque os ladrões encontram facilidade para agir. Ali no Parque Centenário, a fiscalização não pode ser afrouxada. Depende da segurança a manutenção do espaço como um dos patrimônios e serviços da Prefeitura e da cidade de Mogi das Cruzes melor avaliado pelo público e turistas.
O Parque Centenário é um espaço com grande aprovação por seus predicados conhecidos (área verde, equipamentos para o lazer e esporte) e também pela segurança dada a quem chega a pé ou de carro até o local.
Interessantes nessa notícia divulgada por O Diário e que no final de semana não foi comentada pela Prefeitura, alguns dos comentários feitos pela jornalista após um desabafo feito sobre o crime em suas redes sociais.
Embora grande parte dos internautas tenha manifestado sororidade e solidariedade à frequentadora do Parque Centenário, houve quem - como cada vez tem sido mais comum nestes tempos sombrios para qualquer debate ou conversa entre duas ou mais pessoas, atacasse a vítima e não o algoz ou as deficiências da segurança pública ofertada pelo poder público municipal, estadual e federal.
Como disse Camila Quartim, ela se surpreendeu com a tentativa de alguns em desqualificar o papel da vítima e partir para questionamentos sobre onde ela havia parado o carro, fomentando um meio, um desculpa, para normalizar o crime, como se qualquer cidadão não pudesse mais parar o carro onde quer que seja.
Esse mesmo viés tem sido usado com uma recorrência absurda, crescente e cruel em escrutíneos públicos contra vítimas de outros crimes, estupro, chacinas, assassinatos. É uma inversão de papéis que deturpa a razão e o senso que se busca da justiça: a roupa usada por uma mulher passa a ser argumento de defesa do suspeito ou agressor sobre o ataque, o assédio moral ou estupro. O jornalista que investiga e denúncia crimes na Amazônia ou qualquer outro estado e cidade do país não era bem quisto e "talvez", por isso, acabou na mira de assassinos.
Não interessa se o carro foi estacionado em frente a um lugar x ou z. Interessa a vítima, o sentimento de desproteção e medo que passam a valer quando se tem o veículo aberto e os prejuízos vindouros para quem foi lesado ou uma comunidade inteira.
No caso dos carros levados, abandonados e recuperados, a dinâmica é a mesma: o cidadão, mesmo com a recuperação do bem, foi vítima de um sistema que não está dando os resultados esperados do estado, que recebe uma das mais altas taxas de impostos do mundo para promover a segurança do cidadão. O desejado é o vivido em tantos outros países, onde os índices de crimes são muito menores do que os do Brasil, homens, mulheres, jovens e crianças andam tranquilamente pelas ruas. Há crimes, sim, mas as estatisticas estão aí: temos mais furtos e roubos, mais índices de homicídios e feminicídios.
Normalizar um crime é continuar vivendo em um país que fortalece as organizações crimonosas e o escapismo dos governos que não tratam essa doença crônica que torna insuportável a vida nas cidades médias e grandes do Brasil. Tão crônica que grande parte das vítimas sequer procura a Polícia para registrar os delitos porque há um desalento com as respostas a impunidade e o conformismo de uma parcela da população, como definiu Camila: "Depois que o choro passa você pensa ‘dos males o menor’, mas a tristeza de quando tiram da gente algo é sempre revoltante”.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com isso. Para mais informações leia a nossa termos de uso e política de privacidade .