'Por mais que administrações, como a de Mogi das Cruzes, ou empresas de serviços, como a EDP, afirmem que têm planos para agir, os desastres recentes mostram o contrário'.
'Por mais que administrações públicas como as de Mogi das Cruzes afirmem que têm planos de ação ante desastres naturais, ou empresas como a EDP prometam monitoramento e rápida resposta aos danos, o novo normal dos últimos dias não carece explicação' (Imagem: Reprodução)
O aumento das ondas de calor no Brasil, que subiram de um episódio (com seis dias seguidos de temperaturas altíssimas) para nove, a partir da década passada, é sintoma das mudanças climáticas que sociabilizam os efeitos da destruição dos recursos naturais, embora, claramente, pobres e nem tão pobres assim sofram muito mais do que os ricos e os nem tão ricos assim. A questão ambiental é social, e reflete outras violências contra raça e nível socioeconômico.
O descontrole do clima é particularmente ainda mais observado pelos nascidos até por ali, nos anos 1990, quando inverno ainda era inverno, e o verão, verão, em Mogi das Cruzes.
A partir dali, a alta incidência de raios, chuvas, ventos fortes, queimadas, e a incapacidade das cidades em reagir a tudo isso, foram os sinais alertados desde a Conferência do Clima, a Eco-92, no Brasil: o aumento das temperaturas no mundo era questão de tempo, da velocidade do crescimento populacional e da demanda por comida, água, roupa, tecnologia, moradia, mobilidade, tudo o que é produzido a partir da energia movimentada pelo petróleo e carvão, os líderes nas emissões dos gases do efeito estufa, seguidos do fim das florestas, alto consumo de água, etc.
Até hoje, assusta o negacionismo sobre o comprometimento da vida na terra em debates nacionais. Em 2019, pesquisa DataFolha trouxe o que desespera cientistas do clima e organizações sociais que lutam para forçar os governos e conglomerados a reduzir a emissão dos gases tóxicos. Não dá para pausar os impactos dos desastres naturais, ciclones e chuvas, mas dá para desacelerar e reduzir a escala da catástrofe global.
Há apenas quatro anos, o levantamento revelou que 28% dos brasileiros apontavam que as atividades humanas contribuíam pouco ou nada para o aquecimento global e 15% de brasileiros sequer admitiam a existência do fenômeno global, como lembrou, em artigo recente, o pesquisador Ergon Cugler, da Esalq-USP, sobre o negacionismo climático.
Mais do que em outros lugares do mundo, o desconhecimento e os lapsos da educação formal no Brasil têm um outro componente: sem admitir ou conhecer o que é o aquecimento global, perseveram o negacionismo e a falta de vontade em mudar hábitos, sair da zona de conforto pessoal, o que também será preciso para a adaptação a esse novo e inegável normal.
Por mais que administrações públicas como as de Mogi das Cruzes afirmem que têm planos de ação ante desastres naturais, ou empresas como a EDP prometam monitoramento e rápida resposta aos danos, o novo normal dos últimos dias não carece explicação. As cidades não estão preparadas, nem seus moradores (para agir rapidamente diante de um vendaval, por exemplo).
Além de combater a negação dos fatos e sair do esturpor e frases-comuns sobre a insuportabilidade do calor, será preciso agir. Ergon Cugler, da Esalq-USP, oca no ponto-chave: “Não podemos nos omitir de dizer o óbvio em todas as oportunidades que tivermos: a crise climática não é fake news. Caso contrário, quantos mais papéis e pactos internacionais pelo clima serão impressos e assinados antes de derrubarmos a última árvore?”
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