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EDITORIAL

Insensibilidade e negligência

Agora, perguntamos: cadê o plano do governador Tarcísio de Freitas para a saúde? Não foi para melhorar a operação dos leitos que a porta do PS do Hospital Luzia se fechou?

O Diário
28/10/2023 às 07:30.
Atualizado em 28/10/2023 às 08:02

O apelo denuncia o efeito cascata provocado pela falta de leitos e de serviços, como os de hemodiálise (Imagem: Reprodução)

Um vídeo compartilhado em redes sociais por um grupo de pacientes do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, no Mogilar, é um triste e preocupante exemplo sobre como o Estado de São Paulo está tratando os cidadãos que dependem da rede hospitalar. O apelo denuncia o efeito cascata provocado pela falta de leitos e de serviços, como os de hemodiálise. É um sistema em colapso. 

Os doentes pedindo ajuda para ir para casa e seguir com o tratamento expõem a insensibilidade e a negligência do poder público com a dor alheia. A tal ponto que mesmo após a divulgação desse pedido de socorro, a cidade espera  mais do que as promessas feitas pelo governo do Estado. Promessa não responde a quem está há dois, três meses internado, sujeito a contrair infecções e outros males. O que é preciso: aumentar o total de vagas, de modo a permitir que as sessões de hemodiálise sejam feitas, por esses pacientes, perto de casa e não em algum cantão de São Paulo.

A deficiência no setor de hemodiálise é antiga no Brasil. Clínicas operam com um número insuficiente de máquinas para tratar uma doença em escalada crescente - mais pessoas passam a ser dependentes da filtragem do sangue para viver. Há espera de quase dois anos por transplante ou implante de rim. É um círculo de incerteza, dor e desesperança.

Quando o paciente é da rede particular, essa espera praticamente inexiste. Quem está pelo SUS, espera. 

É o caso dos pacientes entrevistados por este jornal que expuseram o  que é viver semanas dentro de um hospital, sem previsão de alta e a continuidade do tratamento em melhor condição. O quadro geral pode ser estável, mas é essa permanência estendida longe de casa que deprime, angustia. Boa parte dos pacientes é idosa. Ou seja, está mais propensa a ser alvo de vírus e bactérias ou enfrentar o comprometimento de outros órgãos.

Tudo isso interessa, mesmo, a quem está lá - um mês, três meses. Essa é a pior constatação sobre uma situação que não está a toda hora no noticiário e na boca da opinião pública, porque o paciente cansa de reclamar e de esperar pelos “doutores da saúde”.

Essa fila, lenta, prejudica o gerenciamento das vagas hospitalares. Nesse momento, 43 pessoas estão esperando por uma vaga na clínica mantida em Mogi ou Suzano. Ocupando um leito que poderia atender outros doentes.

Essa mesma espera está no fundo da crise do Pronto-Socorro da Santa Casa de Mogi das Cruzes.

Agora, perguntamos: cadê o plano do governador Tarcísio de Freitas para o Luzia e a saúde regional? Não foi para melhorar a operação dos leitos que a porta do PS do Luzia se fechou para o público? 

Outra coisa: cadê a cobrança mais forte de nossos deputados e vereadores sobre um mal que não é de ontem, nem de anteontem? Aqui cabe também perguntar aos prefeitos das cidades do Alto Tietê - afinal, há pacientes das cidades da região nessa mesma situação.

Esse desprezo pela dor alheia e o caos na saúde passam do ponto do aceitável. A proximidade das eleições pode trazer alguma resposta para quem deveria e não está defendendo o cidadão do Alto Tietê. Esse caso exige tratar da raiz: ampliar as vagas para hemodiálise na região.

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