'Um homem está há semanas esperando por uma cirurgia na Santa Casa. O caso não é único. Isso é o mais complicado de se entender: quando essa realidade vai mudar'
Moradores da região vivem drama em longas esperar nas filas dos hospitais (Arquivo - O Diário)
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'Um homem está há semanas esperando por uma cirurgia na Santa Casa. O caso não é único. Isso é o mais complicado de se entender: quando essa realidade vai mudar'
Moradores da região vivem drama em longas esperar nas filas dos hospitais (Arquivo - O Diário)
A mesma notícia com protagonistas diferentes, uma longa e dolorosa espera por uma cirurgia e um leito de hospital em Mogi das Cruzes, diz muito sobre como caminham a nossa cidade, a sociedade organizada mogiana, e os nossos poderes constituídos, o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, quando estão diante de um drama pessoal sujeito a acontecer com qualquer ente da nossa comunidade.
Chamam atenção em nova reportagem publicada por este jornal na primeira semana deste ano a insensibilidade e inação dos gestores públicos e atores políticos sobre uma situação recorrente, preocupante e causadora de direto impacto na administração dos leitos públicos.
Um homem acidentado em Arujá está há semanas esperando por uma cirurgia no fêmur. Já recorreu à Justiça, está tomando remédios para depressão, e segue sem resposta sobre quando poderá voltar para casa.
Nilton Carlos Mendes, de 54 anos, vive o mesmo drama divulgado pelo aposentado Edson Bonifácio da Silva, de 74 anos, e seus familiares - o idoso, no segundo semestre do ano passado, passou mais de três meses na Santa Casa de Mogi das Cruzes à espera de uma cirurgia ortopédica. Houve demora na compra dos insumos necessários.
Nilton e Edson procuraram o jornal para compartilhar a indignação e angústia. Muitos não fazem isso, o que também aprofunda o desastre na saúde pública e o descrédito nas instituições.
Sem a cobrança, absurdos como esse - o uso de um leito por tanto tempo enquanto faltam vagas - ficam por isso mesmo. Aliás, eis aqui a missão da imprensa e deste jornal: registrar junto à sociedade a queixa que se perde na burocracia ou fica escondida mesmo, para que a prestação de contas do serviço público não aconteça.
A demora por insumos e a fila morosa da Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde, a Cross, são roteiros antigos. O momento é outro com a chegada do governador republicano à condução do Estado e a expectativa quanto ao cumprimento de promessas da campanha.
Uma delas, prevista para logo nos primeiros dias de governo, ainda não saiu do campo das ideias: o acesso mais rápido de pacientes ao PS do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, uma das plataformas da campanha regional do governador Tarcísio de Freitas.
A história de Nilton e Edson expõe, em grande medida, a fratura social captada no conceito da modernidade líquida estabelecida há mais de 30 anos pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). A sociedade líquida, sobretudo a partir dos anos 1960, se contrapõe à sociedade sólida, caracterizada por relações sociais e instituições duradouras e fortes.
No mundo líquido, não. As relações e até amores são frágeis, maleáveis, desfeitos por nada.
Esse desprendimento entre as pessoas e entre as pessoas e as instituições é o que está posto na espera sem fim dos pacientes da rede pública e também privada, na promessa de melhoria do atendimento hospitalar, na necessidade da judicialização da saúde e da vida. Cabe, aqui, ainda, reflexão sobre a inconsistente rede formada pelos atuais representantes políticos - gente da nova e da velha guarda, que pouco tem se afetado diante do sofrimento dos pacientes mogianos.
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