A chegada da historiadora paulistana Claudinéli Moreira Ramos ao comando da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo mantém a quebra de prevalência masculina no comando da pasta iniciada pelo prefeito Caio Cunha quando empossou Kellen Chacon (que deixou a pasta, há pouco) e marca a indicação de uma profissional de fora da cidade para responder por pasta que possui caixa com de R$ 7 milhões para este ano e mobiliário que poderia ser muito mais e melhor do que é. Temos museus, teatro, pinacoteca, estúdio de música e dois centros culturais no centro (antigos Telefônica e Odeon).

Com experiência na Secretaria Estadual de Cultura  de SP e atuação na área de museus, Claudinéli chega num momento de dispersão da classe artística com o poder público, imposto pelo encolhimento  da agenda de projetos e parcerias, quando se compara com gestões recentes, mas também por fatores como a pandemia. Há uma separação entre eles e nós, que não vai bem. A cidade perdeu coletivos culturais, ficou com o Teatro Vasques fechado. 

A nova secretária tem desafios políticos - o de repacificar a mola-mostra da cultura, as pessoas que a fazem - e administrativos porque a pasta possui equipamentos próprios e um patrimônio cultural e artístico definhando por falta de políticas públicas que superem a divisão entre o que é do município e o que não é, para, valorizar e ocupar um conjunto rico, raro e esquecido. Uma cidade com tanta história, não se apropriar do Museu do Carmo, um dos mais expressivos do estado e do Brasil, é incompreensível.  

 A pasta esculpida por secretários e diretores com projeção em suas áreas - Armando Sérgio da Silva, Nelson Albissu, Jurandyr Ferraz de Campos, Denerjânio Tavares de Lira e Mateus Sartori (hoje em Guararema) -, navegou mais pelo esforço pessoal, criatividade, vontade e suor de seus dirigentes e do quadro sempre enxutíssimo de servidores do que por condições favoráveis, como verba pública, talvez o mais importante, a paixão do prefeito em exercício pela arte, a história, a cultura popular e os bens materiais e imateriais do saber e viver do mogiano.

Uma passada de olhos e pouco se aponta em matéria de defesa real, com o prefeito lutando junto, disponibilizando as ferramentas administrativas para engajar projetos, manter museus e células culturais vivos ou garantir a sobrevida do acervo histórico que segue perecendo como o Casarão dos Duque tão bem explicita.

Mais haveria para se dizer - nem tocamos aqui em outro canal desguarnecido, o do turismo, ou a promessa do início deste governo de seguir com a bagagem construída nos dois governos e ampliar a potência da Cultura com o alinhamento de ações com a Educação. Há pontos favoráveis - o Sesc Mogi, atuando com o poder municipal, pode ser um super aliado.

É um cenário, de fato, complexo que exigirá a capacidade técnica, qualificação e a experiência destacadas pela Prefeitura no currículo da secretária. Justamente por ser novidade, a um ano e nove meses do fim do mandato, ela poderá surpreender ao refrigerar a pasta e adotar caminhos outros para ajustar o que, no ano passado, inclusive, culminou pela primeira vez na história de Mogi, em um evento crítico, bem ajustado e paralelo à Virada Cultural - a cidade teve Desvirada Cultural, com público e protesto nas ruas.