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ARTIGO

Racismo: Maristela foi injustamente perseguida

'Em Mogi, nada de festa, uma agenda cultural toda negra, voltada ao resgate dos valores africanos e ao repúdio pela discriminação sofrida por Maristela'

Por Cármine Mosca
17/11/2023 às 19:19.
Atualizado em 17/11/2023 às 19:20

'Uma negritude que nunca se negou a defender com luta insistente, o direito, a liberdade e a justiça' (Imagem: Reprodução)

Há na região do Alto Tietê e no Brasil inteiro, uma negritude que nunca se negou a defender com luta insistente, o direito, a liberdade e a justiça. Na verdade, porém, todos estamos comprometidos na defesa desses ideais. Essa luta não é somente dos negros, mas de todo cidadão que quer ter casa, saúde, pão e sentir-se livre da opressão, conforme os direitos da Constituição.

Há imigrantes que vieram da Itália e passaram por uma amarga e triste escravidão nas fazendas dos “Senhores de engenho”. Há negros que foram jogados nos navios negreiros como mercadoria, e vendidos na própria África aos colonizadores como objeto de tráfico comercial e sujeitos a maus-tratos, à tortura e à morte.

Zumbi destacou-se como herói, pois soube passar aos negros a mensagem de um futuro de liberdade.

No Brasil havia contingentes humanos de aborígenes e negros. Começou assim o longo período do colonialismo europeu que duraria três séculos. Os dois grandes grupos humanos, negros e aborígenes passaram a ser dominados pelo colonialismo. A dominação foi violenta. 

Cito um texto escrito por um missionário em relação ao escândalo do escravagismo: “ Como os mantendes tão oprimidos e fatigados sem lhes dar de comer, sem lhes curar as enfermidades, impondo-lhes trabalhos excessivos dos quais acabam por morrer, ou melhor por serem assassinados por vós, na ganância de acumular ouro a cada dia?  Por acaso eles não são seres humanos? Não têm almas racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos?” São palavras que mostram a repugnância e a relutância de muitos missionários diante do sistema de dominação implantado nessas terras. No dia 20 de novembro se comemora o Dia da Consciência Negra, que este ano passou a ser feriado estadual. Em Mogi das Cruzes nada de festa, apenas uma programação cultural toda negra, voltada ao resgate dos valores africanos e de manifestar o repúdio pela discriminação sofrida pela professora e educadora Maristela Fernandes dentro de uma loja em Mogi.

Será um dia, no Alto Tietê e no Brasil, para os negros ocuparem um espaço urbano com passeatas e manifestações artísticas e culturais., mas haverá um alerta contra o racismo que assola o País. Os negros são 100% brasileiros, engajados na luta para construir um novo Brasil. O País vive de um passado e de um presente sem glórias. Vive de um futuro de incertezas reais por existirem ainda muitas desigualdades. Mas não há motivos para a humilhação e revolta. Todos os povos que vieram para o Brasil livres ou escravos, todas as raças que aqui se encontram são hoje cidadãos, a serviço não mais dos “ senhores”, mas da justiça, da igualdade e liberdade.

Cármine Mosca é padre da Diocese de Mogi das Cruzes

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