O povo não quer saber de ideologia. Sua preocupação é com a vida diária, que está cada vez mais difícil.
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O povo não quer saber de ideologia. Sua preocupação é com a vida diária, que está cada vez mais difícil.
Bolsonaro continua com a estratégia de promover conflitos para manter a chama dos seus apoiadores acesa. Essa foi sua filosofia desde o começo da campanha que o levou à presidência da República. Deu certo porque naquele momento, seu principal adversário, o PT, estava em franco declínio na confiança do povo, esmagado por denúncias de corrupção e com seu principal líder processado e preso pelas mesmas razões.
Mas agora o cenário mudou. Com Lula livre e reconduzido ao ringue, o embate nas urnas muda de figura. Até porque o próprio ambiente em que ele acontece é muito diferente do tempo em que Bolsonaro foi eleito. Naquele ano tínhamos uma presidente afastada por impeachment e o seu sucessor acusado de corrupção, rezando para o seu mandato terminar logo.
Bolsonaro ganhou a eleição com um discurso ideológico de político conservador, defensor da família e dos valores tradicionais que ainda são muito caros para uma boa parte do povo brasileiro. Plantou o terrorismo no espírito dos seus apoiadores, a maioria deles saudosos dos tempos da ditadura militar, convencendo-os de que uma vitória da esquerda seria o caminho aberto para a implantação do comunismo no Brasil.
Muita gente comprou essa balela urdida apenas para assustar os incautos. Pois se há um povo avesso a qualquer aventura socialista, esse é o brasileiro. A prova disso é que já houve várias tentativas de implantar esse regime aqui e todas falharam. Luís Carlos Prestes e Jango Goulart são apenas alguns exemplos. Lula e o PT governaram o país durante quatorze anos. Se pudessem teriam feito o que Bolsonaro os acusa de querer fazer agora. Tinham o Congresso na mão (comprado através do Mensalão) e o Supremo a seu favor (por causa dos vários Ministros que indicaram).
Mas Lula sempre soube que o povo brasileiro é patrimonialista por formação. Aqui todos sonham em acumular patrimônio. Mesmo quem não tem sequer um teto sobre a cabeça jamais se acostumaria com a ideia de nunca poder ter um. A propósito, todo comunista só o é teoricamente. Se for confrontado com a prática (ter que renunciar a sua propriedade em favor da coletividade) ele imediatamente se tornará capitalista. Chico Buarque que o diga.
Bolsonaro precisa mudar de estratégia. Senão entregará a eleição para Lula de mão beijada e logo no primeiro turno. O povo não quer saber de ideologia. Sua preocupação é com a vida diária, que está cada vez mais difícil. Sua cabeça está no supermercado, no posto de gasolina, na escola dos filhos, nos hospitais, e não no Planalto e nos palácios dos governadores. Pouco importa quem serão os governantes e as ideologias que dizem professar, desde que eles possam melhorar a nossa vida. Talvez Bolsonaro não seja culpado pelas dificuldades pelas quais estamos passando. Mas seu governo será sempre lembrado pelos maus resultados que contabiliza. E nesse sentido, dificilmente ele conseguirá descontruir o sentimento de rejeição que inspira na maior parte do eleitorado.
João Anatalino Rodrigues é advogado, cronista e presidente da Apae de Mogi das Cruzes
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