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Pivô do Mogi Basquete, Thiago Mathias defende que a luta contra o racismo seja diária

Alegria, diversão, companheirismo e muitas outras coisas boas. Tudo isso pode ser encontrado no esporte. Mas, o que falta muitas vezes é um princípio básico: o respeito. E isso, principalmente, quando falamos em preconceito. As cenas de racismo, infelizmente, ainda são muito reproduzidas nas quadras e campos do Brasil e do mundo. Se hoje vemos […]

20 de novembro de 2021

Reportagem de: O Diário

Alegria, diversão, companheirismo e muitas outras coisas boas. Tudo isso pode ser encontrado no esporte. Mas, o que falta muitas vezes é um princípio básico: o respeito. E isso, principalmente, quando falamos em preconceito. As cenas de racismo, infelizmente, ainda são muito reproduzidas nas quadras e campos do Brasil e do mundo. Se hoje vemos alguma mudança nesse cenário, muito disso é pela luta e engajamento dos próprios negros, como é o caso do pivô do Mogi Basquete, Thiago Mathias.

“Eu tento abraçar muito essa causa por ser negro e saber que ainda vivemos numa sociedade muito preconceituosa, onde já passei e ainda passo por diversas situações de racismo, desde idas aos supermercados e shoppings e também dentro das quadras. Quero lutar por essa causa porque essa luta é diária e nada mais efetivo do que buscar combater o preconceito”, afirma o jogador.

Com mais de 10 mil seguidores nas redes sociais, Mathias explica que torna essa luta pública e tenta usar a influência que tem por ser atleta para que mais pessoas entendam a causa. Ele ressalta que, mais do que apenas não ser racista, as pessoas precisam ser antirracistas.

“Hoje, felizmente, eu acho que muitas pessoas já entenderam isso. Então, muitos atletas – e pessoas brancas no geral – compreendem melhor a nossa causa e tentam nos ajudar da maneira que podem”, acredita.

Ainda assim, o ponto que chegamos ainda está longe de ser o ideal. Como exemplo prático de que o racismo ainda é muito presente no Brasil, Mathias cita os salários. Seja no basquete ou em qualquer outra profissão, muitos negros têm uma remuneração pior do que brancos que possuem as mesmas qualificações.
Neste sábado (20), é celebrado o Dia da Consciência Negra, data escolhida com base na morte de Zumbi dos Palmares, que aconteceu no dia 20 de novembro de 1695. Ele é considerado um dos maiores líderes negros do Brasil, figura essencial na luta contra a escravidão no país.

Por conta da data, o mês de novembro acaba levantando a pauta do preconceito racial muito mais do que o restante do ano, o que na visão de Mathias está errado, já que a luta contra o racismo deve acontecer diariamente e não apenas em momentos específicos.

“É claro que a data é muito importante, porque não podemos deixar de lembrar tudo o que foi feito por Zumbi dos Palmares. Ter esse dia marcado no calendário é fundamental para lembrarmos a história e destacar toda a representatividade que ele teve para nós, mostrar que a luta não foi esquecida e que estamos aqui para continuar lutando por ele e por nossos ancestrais”, frisa o jogador.

Mathias conta que vem de uma família onde os tataravós são africanos que vieram escravizados para o Brasil. “Eu escuto muitas histórias sobre a vida deles e de como eles precisaram ser fortes. É uma batalha que tem muito tempo e que hoje estamos conseguindo, graças a eles, nos fortalecer ainda mais”, completa.
Ainda que com toda essa luta, o atleta vê a sociedade ainda muito preconceituosa. Ele acredita que isso só será diferente a partir do momento em que as pessoas, de uma maneira geral, entenderem que todos são iguais. Mais do que os títulos dentro de quadra, Mathias sonha em estar presenta na vitória de uma sociedade onde não tenha espaço para o racismo.

Uma ferida se transformou em luta

Aos 32 anos de idade, Thiago Mathias, pivô do Mogi Basquete, já tem muitos anos de profissão. Nascido em Porto Alegre, ele começou no esporte aos 14 anos e logo no início da carreira passou por um episódio que nunca mais esqueceu. Apenas um ano depois desse início, aos 15 anos, ele foi jogar em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, Lajeado.

“Nessas cidades o preconceito ainda é muito forte e anos atrás isso era ainda pior. Eu era muito novo e nesse jogo os pais dos outros atletas começaram a me oferecer banana e me chamar de macaco. Isso abriu uma ferida em mim que nunca mais fechou. Mas, hoje, uso isso como força para ir contra o racismo”, ressalta.

Destaque do time do Fortaleza antes de chegar ao Mogi, Mathias realmente tem mostrado sua força dentro e fora das quadras. O jogador chegou à equipe mogiana em junho deste ano e vem conquistando cada vez mais seu espaço. (L.R.)

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