Time volta a entre em campo neste sábado, quando pode superar o recorde do íbis e chegar a 56 partidas sem vencer; última vitória foi em 2017
MÁ FASE Atlético Mogi igualou a sequência de derrotas do Íbis, que já foi o pior do mundo, e joga hoje (Arquivo O Diário)
A direção do Clube Atlético Mogi das Cruzes de Futebol - atualmente na lanterna do grupo E do Campeonato Paulista da Segunda Divisão - se afunda em crises. Retrospectos negativos são alvos de duras reclamações de pessoas próximas da equipe. No último sábado (11), o time mogiano virou notícia no mundo esportivo: após ser goleado por 9 gols a 0 pelo Joseense, alcançou a sofrida marca de 55 partidas sem vitória – igualando a série negativa do Íbis, de Recife, na década de 1980. Já são cinco anos sem ganhar. E, hoje, a equipe entrará em campo novamente.
No período, os jogadores marcaram apenas 24 vezes, tendo sofrido 215 gols. Foram 52 derrotar e apenas três empates. Nos últimos dez anos, a trajetória de insucesso se confirmou com apenas oito partidas vencidas. Desde antes de 2017, a equipe reconhece que faltam recursos e investidores para dar uma guinada – assim, a realidade é de trabalhar com o possível.
A situação pode ficar ainda mais drástica neste sábado (18), quando a equipe pode chegar à marca de 56 jogos sem ganhar. Com um empate ou mais uma derrota, roubará o posto do Íbis, que ficou conhecido país afora como o “pior time do mundo”. O Atlético Mogi encara o Manthiqueira, às 15 horas, pela nona rodada da Segundona, no Ginásio Francisco Ribeiro Nogueira, o Nogueirão, na Vila Industrial.
Seria fácil criticar apenas os jogadores, mas, como diria o ditado, o buraco aparentemente é mais embaixo.
Fontes que pediram para não serem identificadas relataram a O Diário que supostos esquemas de favorecimentos nas partidas estariam minando a chance de o time mogiano vencer um jogo. Não há, porém, documentos ou denúncias formalizadas sobre as alegações.
Por trás das derrotas estariam decisões da diretoria que trazem frustração e até raiva para os jogadores que dizem, apesar disso, que confiam na equipe e buscam no esporte chance de vencer na vida.
“Os meninos (jogadores) vêm de longe para treinar, pagando a passagem do próprio bolso e encontram um campo destruído. Falta tudo, até água, enquanto não são pagos”, trouxe um relato anônimo.
Fundado em 2004, o time mogiano treina no distrito de Jundiapeba, mas não conta sequer com alojamento para os jogadores.
(Arquivo O Diário)
Em suma, denúncias rondam o presidente do clube, Roberto Costa, que segundo relatos, chegou a agredir fisicamente o último técnico da equipe Thiago Figueiredo, que atuava provisoriamente. A reportagem tentou contato com Costa e com o Atlético em telefones disponibilizados na página do time, mas não obteve retorno até a manhã desta sexta-feira (17).
O técnico Thiago Figueiredo, que ficou à frente da equipe até o começo deste ano, teria se irritado com a falta de água para os jogadores durante uma partida, quando foi confrontado e levou um tapa de Roberto. O caso foi parar na Polícia.
“A maioria dos meninos de agora é novata. Mas, acabou levando a fama de pior time no mundo do futebol por terem tentado jogar pelo Atlético. O clima é complicado. Isso enquanto o diretor não paga uma condução. Paga pelo ônibus, metrô, trem. Não tem um café da manhã para tomar”, acrescenta a fonte que cobra assistência ao time.
“No futebol, toda essa história acaba vazando e marcando a carreira dos jogadores. Lá, tem cada menino bom, que se dedica, vai atrás de gols e fazer uma boa partida, mas acabam virando piada”, desabafa o esportista. “Eles entram para aprender, mas acabam apenas ouvindo xingamentos”.
Como o time disputa o Campeonato Paulista, para os esportistas, jogadores em média na faixa dos 20 anos mesmo diante da série de fracassos, a participação nas partidas é considerada uma oportunidade de apresentar o talento e as habilidades pessoais aos demais técnicos e dirigentes das rodadas.
Dentro do campo
Os jogadores que entram no Atlético Mogi pagam uma taxa para serem “profissionalizados” e as despesas com federações do futebol. O valor seria em torno de R$ 6 mil, mas “não há retorno nenhum”, comentou um jogador da equipe a O Diário. O nome não será revelado porque, mesmo diante dessa situação, todos temem represálias.
“O que ouvimos na diretoria é que existe troca de dinheiro entre os clubes para facilitar jogos. Tem moleques (jogadores) se vendendo também. Quem entra para jogar sério acaba levando a má fama”, comentou uma fonte.
“Descobriram semana retrasada que houve favorecimento em um jogo onde o Atlético foi goleado por 8 a 0. É uma conversa que rolou no vestiário e ficou um clima muito chato lá”. Sites de aposta esportiva seriam o motivo para os favorecimentos. Nas arquibancadas dos times, rola o boato de que torcedores apostam que a equipe perderia de goleada. É algo, no entanto, dito, mas não denunciado, o que enfraquece a apuração de virtuais ilegalidades. E, como dirigentes não retornam pedidos de entrevista, ficam restritos a boatos.
De uma outra pessoa ligada ao time, vem o desabafo: “Fico muito triste ao ver a foto dos jogadores nos jornais e até virarem chacotas dos outros, ali tem muitos jogadores bons. Isso falo com a maior certeza, mas infelizmente eles estão naquele time porque cada um teve que pagar sua própria profissionalização cobrada pelo presidente do clube e com promessas de levarem esses meninos a times de primeira”.
Federação
A reportagem de O Diário questionou se a Federação Paulista de Futebol tem registros de denúncias ou alguma investigação em curso sobre o assunto. Perguntou também qual é o caminho para abertura de investigação sobre situações como a falta de pagamento de jogadores, bem como a apropriação de recursos financeiros dos jogadores para pagamento de taxas exigidas para manutenção do time no Campeonato Paulista.
O Diário buscou saber também se a sequência de derrotas não levantou, em algum momento, suspeita sobre esse tipo de prática e quais seriam as punições aplicáveis a dirigentes, diante de uma confirmação.
Em nota, a Federação disse que todas as denúncias enviadas à FPF são imediatamente encaminhadas para investigação do Comitê de Integridade e para a Corregedoria da entidade, além das autoridades competentes. “A FPF não comenta denúncias e investigações em andamento”, informa o documento.
A resposta não esclarece se já existem denúncias do tipo contra a equipe de Mogi.
Outro nome ligado ao Atlético, que por segurança pediu para não ser identificado, comenta a situação do time: “Eles não têm estrutura nenhuma para treino. Treinam em meio campo, acabado. Totalmente precário. A maioria dos meninos vem de São Paulo, sem ajuda nenhuma financeira”, comenta. “Quem assume o posto de técnico do clube precisa passar esquema tático, aquecer goleiro e os jogadores, acertar os detalhes da partida, tudo”, desabafa.
Quando o técnico Thiago ficou à frente do time, as derrotas foram amenizadas: no último dia 14 de maio o time perdeu de 3 a 2, dia 21 de maio perdeu de 2 a 1. Já no dia 29 o time conseguiu um feito inédito desde 2019. Conseguiu um empate contra o Ade Guarulhos – 0 a 0. Nesse dia, houve uma comoção na arquibancada, jogadores falando que haviam apostado em uma derrota e indignados com o resultado, positivo para o Atlético, apontam os relatos de pessoas presentes na disputa.
“Parece que queriam que o time perdesse. No meio do jogo a água dos garotos acabou. O técnico ficou indignado, reclamou e acabou sendo confrontado pelo presidente do clube Roberto, que o deu um tapa, com muitas testemunhas presentes. A Polícia foi acionada ao vestiário”, relata a fonte.
“Engraçado que nos jogos seguintes ao empate, o time voltou a ser goleado, inclusive tomando 8 a 1. Como um time perde tão feio assim depois de um empate”, questiona a fonte.
Na mira
Existem outras denúncias que chegaram a ser investigadas no campeonato. Segundo reportagem do portal do GE, a Federação Paulista de Futebol deve oficiar a Polícia Civil para que investigue a suspeita de manipulação de resultado em três jogos, dois deles envolvendo o Andradina na Segundona: as derrotas para Fernandópolis (4 a 2) e Catanduva (7 a 1).
A delegada responsável pelo caso prepara um relatório para encaminhar junto com os ofícios à Polícia Civil e ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD).
História e futuro
O Atlético Mogi é o time mais novo da cidade e deu início à sua história em 2004. A inspiração principal foi Neymar, que, apesar de mogiano, foi revelado pelo Santos e vendido a preço de ouro para o Barcelona, da Espanha. A transação chamou a atenção de um grupo de jovens empresários que decidiram criar o time.
Entretanto, a equipe não alcançou o êxito sonhado e ainda não conseguiu revelar promessas ao futebol. A desilusão, talvez, seja um dos motivos da má fase que se perpetua.
Futuro
Quem sabe a equipe pode dar a volta por cima, assim como fez o Íbis. Em seu perfil oficial no Facebook, a equipe informou que continua fazendo avaliações técnicas com o objetivo de observar e selecionar os jogadores nascidos entre os anos de 2004 até 2000 para a disputa do Campeonato Paulista de Futebol Profissional, na temporada de 2023. As inscrições estão abertas.
Amputados
Enquanto a cidade sofre revezes no futebol convencional, o Corinthians/ Mogi - do futebol de amputados - segue mostrando porque é uma das melhores equipes do mundo. Na manhã do último sábado (11), o time superou o rival Santos por 12 gols a 0 em clássico válido pela quinta rodada do Campeonato Paulista.
O time briga pela liderança, atualmente da segunda colocação da tabela do Paulistão. Após cinco jogos, contabiliza o melhor ataque da competição, com 23 gols marcados.
A equipe volta a jogar no próximo dia 25, contra o Evolução de Sorocaba.
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