Desde ontem, as redes sociais são usadas por artistas mogianos e o público da cidade para lamentar e comentar a partida do mogiano parceiro de músicos da cidade.
Tendo Henrique como um pai, Gui Cardoso diz que sentirá falta dos conselhos e "puxões de orelha" (Reprodução - Redes Sociais)
Ao som dos sambas “Diz que fui por aí” e “Folhas Secas”, cantados em coro pelos presentes, o corpo do músico e compositor Henrique Abib deixou o Velório Cristo Redentor, por volta de 11 horas desta quinta-feira (6) e, acompanhado de um grande número de pessoas, seguiu em direção ao Cemitério São Salvador, onde ele foi sepultado no túmulo das famílias Abib e Andere.
Músicos, jornalistas, antigos companheiros de trabalho, familiares e outros amigos de Abib acompanharam o féretro, cada um com uma lembrança ou história vivida ao lado de Abib, que morreu, por volta de meio-dia de quarta-feira (5), no Hospital Luzia de Pinho Melo, onde tentou, sem sucesso, combater um câncer fulminante que atacou o fígado e outros órgãos.
A emoção era visível entre as pessoas. Muitas delas chegaram a chorar durante a saída do cortejo e também durante o sepultamento.
O movimento foi intenso no Velório Cristo Redentor desde a noite de quarta, mas, especialmente, durante todo o período da manhã, quando o local foi visitado por pessoas que tinham compromissos, mas que fizeram questão de passar por lá para dar o derradeiro adeus ao amigo.
Muitos de seus companheiros de música já falavam em homenagear Abib em suas futuras apresentações.
Uma salva de palmas encerrou o funeral de Abib no São Salvador
Está nos muitos posts e vídeos, nas redes sociais, nas últtimas horas, um mapa para conhecer o perfil e quem foi para a música da cidade, o mogiano Henrique Abib Nepomuceno, que morreu aos 65 anos.
Nome da carteira de compositores firmados a partir dos anos 1980 em Mogi das Cruzes, Henrique Abib deixa uma coleção de canções gravadas e ainda a serem gravadas, como contaram artistas em publicações sobre a convivência com aquele é que chamado de pai, mestre e amigo por vários deles.
Esses laços de amigos atados durante shows e as muitas rodas de cerveja e cachaça (preferida dele), além de apresentações em bares que abraçaram, sobretudo a música popular brasileira (Baratotoal, Patuska, Cê Qui Sabe, Mais Brasil, Nils, e outros no decorrer do final do século passado e início deste).
Nestas escritas, estão recortes da produção musical surgida a partir da amizade entre os músicos de diferentes gerações - Henrique Abib, Rabicho, Celso Andrade e outros estavam há mais tempo na noite mogiana.
Por isso mesmo, a corrida contra o tempo para gravar "Meu Quintal", a última obra com composições escritas por Henrique Abib atraiu tantos olhares e o músicos que já haviam trabalhado com ele. Pouco antes de fechar os olhos, Henrique Abib escutou o resultado, com o seu sincero radar de músico virtuoso, como escreveu o jornalista Darwin Valente.
Paulo Henrique, o PH, registrou o seguinte: "Conheci o Henrique em 96, por intermédio do Rabicho, logo nos tornamos amigos e posso dizer que nossas carreiras de compositores se desenvolveram juntas, pois já tínhamos algumas canções anteriores, mas foi nessa época que começamos a ter mais critério em nossas criações.
Paulo Henrique, o PH, afirmou que sempre tinha a intenção de agradar o grande amigo Henrique Abib em suas composições (Reprodução - Redes Sociais)
O bom gosto e humor ácido sempre foram o tempero maior em sua personalidade e sua sensibilidade foi o norte pra onde apontavam todas as minhas canções, que tinham sempre a intenção de agradá-lo.
Logo nos tornamos parceiros e de nossa lavra saíram canções incríveis que marcam eternamente minha trajetória, entre elas, Serra do Itapety que acabou se tornando um símbolo de nossa cidade.
Em Mogi temos grandes compositores, com obras maravilhosas e eu sempre costumo dizer que assim como considero Rui Ponciano nosso Paul McCartney eu considero o Henrique Abib nosso Chico Buarque com um pé no Clube da Esquina.
Inclusive "Um pé", música sua, considero a música mais linda que eu já gravei entre todos os meus CDS.
Hoje, aqui em Trindade, recebo a notícia de sua passagem e peço à Trindade maior que o conduza em paz.
Palmas para sua obra e preces para sua alma.
PS. Ainda ouço sua frase fatal de despedida
'Ceis são legal pra c...' o resto quem sabe completa na memória".
Gui Cardoso
Henrique Abib era do tipo curto e grosso, sem perder a educação no mais das vezes. O acolhimento aos novos nomes e o acompanhamento da carreira destes são predicados. Para Gui Cardoso, exerceu a figura de pai, como o músico conta, fazendo um mea-culpa - como filho, sabia que a "rasgação de seda" era algo indigesto para Abib:
"Meu velhinho se foi, encantou ...
E é muito muito triste saber que não haverá mais o conselho repleto de carinho ou o puxão de orelha dito na lata sem pudor...
Nem mais um verso feito sob medida pra minha melodia - com a precisão de um alfaiate caxias ou do ourives que se debruça sobre a jóia e depois junta o pó das sobras pra usar em outra - pior ainda, não mais a recusa imediata quando a ideia de canção não lhe tocava inspiração... Era assim...
Não à toa sempre fiz questão de chamá-lo de pai ...
Henrique se fez a figura mais próxima disso logo que começamos nossas parcerias musicais... E ao longo desse tempo todo enxergava (dizia) o que eu mesmo não via em mim ... Assim foi que nossa relação fraterna se tornou muito mais que amizade... admiração, carinho, respeito são palavras que sequer alcançam a grandiosidade do que sinto...
Mesmo a palavra AMOR é incapaz de traduzir todo sentimento que habita esse meu coração que hoje não cabe aqui dentro... meu velhinho se foi... Encantou...
Tá aqui comigo e vai estar sempre, mas vai ficar uma saudade que nada mais nesse mundão que ele tanto amava vai preencher...
Até já... Meu Pai... Meu amigo...Meu amor...
PS: Ah... Ele ia ficar puto com essa rasgação de seda.... Mas tá tudo bem... Acho que hoje ele merece ..."
Aline Chiaradia
A cantora Aline Chiaradia, que interpretou composições do amigo em shows e CDs, toca naquilo que talvez seja um dos pontos mais significativos: a rede de amigos formada a partir de Henrique Abib:
"Eu não sei em que momento os fios da vida começam a se emaranhar e fazer os seus crochês. A Sueli Rodrigues Benante e o Luiz Carlos Benante eram amigos da minha família da vida inteira. Souberam que eu ia fazer um show de samba (o primeiro) e levaram um amigo-irmão músico e compositor muito respeitado para me ouvir. Era o Henrique. Era a Denise. Eram muitas pessoas que eu ainda não conhecia. Quando o show terminou, o Henrique apenas disse : “Muito legal, Aline!”. E dali em diante, participei de CDs e Espetáculos dele, de rodas de violão…
Em sua homenagem, Aline Chiaradia fala sobre a rede de amigos formada a partir de Henrique Abib (Reprodução - Redes Sociais)
Depois que minha mãe morreu, o Henrique me chamou pra tomar um café. Achei que íamos conversar sobre algum projeto novo. Sentamos na mesa da cozinha, Denise, ele e eu. Eles queriam saber como eu estava emocional e financeiramente. Disseram que se eu precisasse de qualquer coisa, que eles estavam ali.
Ultimamente ele me ligava, de vez em quando, e sempre dizia que estava feliz por mim, porque sabia que eu estava bem. Ele nunca disse: “você sumiu”, ele sempre disse: “eu sei que você está feliz com os seus meninos. E eu estou muito feliz por você”.
Ele fez uma música pro Bento, me disse que adorava a sonoridade do nome Bento e do nome Sebastião. Nós ouvimos tantas vezes essa canção aqui em casa, choramos, agradecemos, mostramos para todo o mundo. E vamos ouvir por toda vida.
Nesses últimos dias sem fim, sabíamos que ele estava se despedindo desse mundo, cantamos pra ele, às pressas. Hoje, de manhã, o Mateus Sartori, responsável por todo o movimento para entregar as “flores em vida”, escreveu para nos contar que mostrou o CD para o Henrique. Fiquei pensando que ele estava esperando o trabalho terminar, ouvir as vozes amigas, não sei…Só sei que quando a notícia chega, a gente percebe que não estava pronto. A gente nunca vai estar pronto para perder um amigo. Ainda mais um amigo como o Henrique Abib".
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