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CULTURA MOGIANA

Novos espaços culturais mostram que a arte resiste e pulsa em Mogi

Severina Café e Arte e A Eólica Bookbar são exemplos de que, durante o período de isolamento social, o ser humano ficou carente de algo que antes havia em abundância: contato humano e cultura para ver, ser visto, se divertir e refletir

Heitor Herruso
24/09/2022 às 19:00.
Atualizado em 26/09/2022 às 16:47

SEVERINA É nova casa para a gastronomia, música, poesia e arte produzida por mogianos e mogianas (Reprodução - Instagram)

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CULTURA MOGIANA

Novos espaços culturais mostram que a arte resiste e pulsa em Mogi

Severina Café e Arte e A Eólica Bookbar são exemplos de que, durante o período de isolamento social, o ser humano ficou carente de algo que antes havia em abundância: contato humano e cultura para ver, ser visto, se divertir e refletir

Heitor Herruso
24/09/2022 às 19:00.
Atualizado em 26/09/2022 às 16:47

SEVERINA É nova casa para a gastronomia, música, poesia e arte produzida por mogianos e mogianas (Reprodução - Instagram)

A história é recente, mas vale lembrar. Em 2019, Mogi das Cruzes sofreu com a perda de grandes espaços culturais, como o Galpão Arthur Netto e o Casarão da Mariquinha. O ano de 2020 se iniciou com a esperança de recuperação, mas ninguém poderia prever a pandemia de Covid-19. Sem a possibilidade de estabelecer contato presencial com o público, mais endereços fecharam. Agora, quando as máscaras já não são mais obrigatórias, as coisas parecem estar voltando aos trilhos.

Nos últimos meses, iniciativas culturais diversas surgiram na cidade. Nesta reportagem, destacamos duas delas. Além de serem empreendimentos culturais e gastronômicos geridos por mulheres e localizados na área Central de Mogi, o Severina Café e Arte e a A Eólica Bookbar compartilham outras similaridades.

Em ambos os espaços, o café é um ingrediente importante. É ele que dá o aspecto de “casa de vó” aos ambientes, o que proporciona interessantes escolhas não apenas para comer, beber ou receber boas doses de entretenimento. São negócios que combinam tudo isso com a possibilidade de apenas estar presente, seja conversando, trabalhando ou jogando conversa fora.

É como se, após mais de dois anos de privação e limitação de contato humano, estes equipamentos quisessem estabelecer, por meio da arte, uma relação que fazia falta, mas que a gente nem sabia.

(Reprodução - Instagram)

Embora aqui não estejam entre aspas, estas são falas que a reportagem de O Diário ouviu das duas mulheres, empresárias e ligadas a cultura. À frente do Severina, que abriu as portas em novembro de 2021, está Alessandra Galindo, de 48 anos. E na gestão da A Eólica, na Vila Helio, que passou a funcionar no último mês de janeiro, a responsável é Solange Mazia, de 56.

Embora tenha nascido em São Paulo e tenha sido criada no Nordeste, Alessandra é figurinha conhecida no cenário cultural de Mogi. Ela esteve por muitos anos à frente do já citado Galpão Arthur Netto. E mesmo sendo assim, teve a ingenuidade de pensar que estava abrindo apenas uma cafeteria.

(Reprodução - Instagram)

“O Severina nasce como uma cafeteria, mas como a gente tem muita ligação com o meio artístico de Mogi, é quase impossível ter um espaço sem essa vertente cultural”, comenta ela, que em poucos meses de operação já passou a ofertar shows, apresentações teatrais, exposições de arte e encontros variados.

Já a história de Solange é diferente. Ela não é de Mogi, mas também era ligada à cultura, em São Paulo. Dona de livraria com direito a um espaço para degustar cafés e donuts, fechou as portas do antigo negócio em 2021. Na mesma época, acompanhou a vinda da filha, Camila Santos Mazia, para Mogi.

(Reprodução - Instagram)

Passeando na Vila Helio, Camila comentou com a mãe que se fosse ali, naquele local, ela toparia tocar uma nova livraria. A sugestão veio em boa hora, e a família decidiu se instalar, encaixando os móveis que já tinham e aplicando um conceito que já conheciam, mas de um jeito novo. 

“Nossa principal missão é fazer com que pessoas adquiram amor e prazer pela leitura, e não simplesmente o hábito de ler. Por isso criamos um ambiente com cheirinho de bolo de vó e aroma de café”, avalia Solange.
Tanto na A Eólica Bookbar quanto no Severina Café e Arte é possível, então, relaxar e ler, comer e beber, se encontrar com gente e se divertir. Nos dois espaços, como os tempos de agora pedem, o freguês é livre. Pode chegar, sentar, usar o ambiente da maneira como preferir, seja para um encontro, uma reunião, para preencher uma tarde vazia.

E é claro, além destas possibilidades, os endereços têm abraçado a demanda cultural da cidade, recebendo músicos como Brenô, Sandra Vianna, Michael Meyson, Rui Ponciano, Gui Cardoso, Lautaro Pérez Batalla, Gaby e Fernando Novais, Bia Mello e muitos outros; e nomes das mais diversas áreas, como escritores, pintores, escultores. A lista é grande.

Na A Eólica há atividades voltadas à literatura, como contação de histórias, e no Severina existem momentos mais descontraídos, como sessões de karaokê com microfone aberto. À sua moda, cada um destes espaços – entre outras iniciativas independentes encontradas em outros bairros e regiões, escreve um novo capítulo na história da cultura de Mogi, após o longo recesso vivido desde 2020.

 Arte, memória e família

Severina, mulher que inspira o nome do Severina Café e Arte (que fica ao número 953 da rua Coronel Souza Franco, no Centro de Mogi), é a avó materna da gestora do espaço, Alessandra Galindo. Dona Severina era a principal responsável em manter aqui, em solo mogiano, os laços da família com o Nordeste.

“É minha tia avó, quem criou a gente e com quem tínhamos uma ligação muito forte. Ela trazia essa relação com o Nordeste e morou na minha casa a vida toda. Quando pensei em um nome para o café, queria um nome feminino e forte. Tenho avós chamadas Josefa e Dora, mas escolhi Severina”.

A homenageada teve três casamentos, e se tornou viúva em todos eles. Já em São Paulo, o sonho dela era se casar uma quarta vez. Analfabeta, aprendeu a escrever o nome por insistência dos netos, que queriam retribuir seus vários ensinamentos, como “não ter nenhum tipo de preconceito”.

“Era uma mulher muito romântica, que pedia para que a inscrevêssemos em programas de namoro na TV. Ela realizou o sonho e se casou novamente, mas acabou falecendo antes do marido”, lembra Alessandra, com carinho.

O nome de A Eólica Bookbar (que fica na Vila Hélio, ou rua João Cardoso de Siqueira Primo, 55 - Loja 02 - Térreo), tem origem igualmente interessante. À pedido da filha, Solange Mazia concordou em abrir uma livraria/cafeteria/bar em Mogi. E ela deixou que Camila escolhesse o nome do lugar.

A inspiração veio da trilogia de livros escrita por Patrick Rothfuss, especialmente do primeiro título, ‘O Nome do Vento’, que abre a série ‘A Crônica do Matador do Rei’. “’A Eólica’ é o nome de uma taverna que é palco de acontecimentos marcantes ao longo da história. É um local onde a arte é extremamente valorizada e um ponto de encontro para jovens e adultos da cidade. Na obra, Rothfuss deixa claro que o conhecimento é uma das maiores armas do ser humano. O herói, Kvothe, é um leitor ávido, contador de história e artista. Ele compreende a importância dos livros e das histórias. Por isso o nome foi escolhido. Por remeter a episódios divertidos e calorosos em meu livro preferido”, conta Camila.

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