Diário Logo

Notizia Logo

De Suzano para o mundo: Contadores de Mentira se apresentam na Espanha

Com muita determinação, o grupo Contadores de Mentira, de Suzano, deu em 2021 um passo como forma de protesto para cada pessoa morta por Covid no Brasil, como este jornal mostrou. Com muita garra, os braços e pernas destes atores, atrizes, diretores, diretoras e artistas também ergueram, naquele mesmo ano, uma sede própria, em solo […]

16 de setembro de 2022

Reportagem de: O Diário

Com muita determinação, o grupo Contadores de Mentira, de Suzano, deu em 2021 um passo como forma de protesto para cada pessoa morta por Covid no Brasil, como este jornal mostrou. Com muita garra, os braços e pernas destes atores, atrizes, diretores, diretoras e artistas também ergueram, naquele mesmo ano, uma sede própria, em solo suzanense. De lá para cá, com muito planejamento, as mentes destas mesmas pessoas têm pensado a arte para além da cidade, região, estado e país. Mais uma vez, os Contadores de Mentira estão fora do Brasil, levando a teatralidade nossa para o exterior. O destino desta vez é a Espanha.

A trupe já fez outras tantas viagens para países da América Latina, Caribe e Europa. São mais de 15. Mas se você perguntar, todas são especiais. Agora, por exemplo, o motivo são dois grandes eventos: o “IV Encuentro Internacional Sobre Teoria y Práctica de las Artes Escénicas” que ocorrerá em Madri, e a 2ª edição do Festival “Tradición, Transmisión, Transgresión –  Encuentro Internacional de Mujeres Creadoras”.

Os Contadores de Mentira embarcaram no último sábado (10). Ficarão o mês todo no hemisfério norte, não apenas participando dos eventos com um espetáculo, mas também “compartilhando pesquisas artísticas e pensamentos”.

No palco, ‘Cícera’ é o destaque. Novamente, vale dizer, houve muito planejamento para transformar a arte em protesto. Há anos esta peça vem abordando temas universais, espinhosos, polêmicos e necessários, como migração, desigualdade social, analfabetismo e tradição popular.

O público é convidado à história de Cícera, alagoana que traz na mala um punhado de farinha, quatro filhas e o sonho de uma vida melhor. Em São Paulo, ela encontra dureza, concreto, fome e saudade. 

Embora apresente “uma mulher nordestina em ponto de ebulição, que dança e saúda sua caminhada” enquanto está “atravessada por cantos de trabalho, relatos e memórias”, ‘Cícera’, não fala apenas de uma pessoa. 

A obra expõe sem medo a vida de centenas de mulheres retirantes que deixam suas raízes na busca de igualdade social. “A anciã, a jovem, a desbravadora, a mãe, a trabalhadora, a que luta por seus direitos. Todas são Cíceras”, explica o grupo, que tem compartilhado as experiências vividas na Europa nas redes sociais (@contadoresdementira).

Ainda sobre ‘Cícera’, para demonstrar o bom momento da montagem vale dizer que, poucos dias de embarcar rumo à Europa, a peça esteve em outro importante palco, no Sesc São Caetano, pelo projeto ‘Libertas – O Sangue, o Sonho e a Terra’. 

“Para nós é sempre uma oportunidade e alegria estar em circulação com nossos trabalhos, seja por nossa região, estado, país ou pelo mundo. O principal sentido do nosso trabalho é encontrar com pessoas e criar processos de reflexão e conexão entre sociedade e arte. Estamos muito contentes, claro, com o convite dos Festivais e com o reconhecimento de nosso trabalho pelo mundo afora”, comenta Daniele Santana, atriz do grupo.

Nas redes sociais, ela agradece a ponte entre Suzano e Europa, construída pela companhia internacional Residui Teatro, de Roma. No Instagram, este grupo deixa claro que o objetivo é “utilizar o teatro como ferramenta de transformação pessoal e comunitária”.

 

Os eventos
O “IV Encuentro Internacional Sobre Teoria y Práctica de las Artes Escénicas” traz este ano o tema “Equilíbrio e perspectivas do teatro de grupo”. Dirigido por Gregorio Amicuzi, o evento busca estabelecer um diálogo entre artistas espanhóis e de diferentes partes do mundo, a partir de um programa diversificado que estabelece o contato direto entre as pessoas, quebrando a barreira entre artista e público.

Participam desta edição professores, artistas e entidades culturais, que realizarão master classes, workshops, demonstrações de trabalho, participação em palestras, conferências e espetáculos.

Além do grupo brasileiro Contadores de Mentira, também estarão grupos da Dinamarca, Itália, México, Noruega, Espanha, Argentina, Polônia, Alemanha e outros.

Já o segundo evento, Festival “Tradición, Transmisión, Transgresión –  Encuentro Internacional de Mujeres Creadoras” faz parte do projeto “The Magdalena Project”, que é uma rede internacional de mulheres nas artes contemporâneas. Este encontro terá a segunda edição  dedicada ao tema “Mulheres, Memória e Migração”.

“Tradição-Transmissão-Transgressão” pretende refletir sobre o papel da mulher na transmissão e manutenção de algumas tradições culturais e a responsabilidade de transformá-las diante de uma perspectiva social que não garante igualdade de oportunidades e direitos.  

Neste ano, com a presença de representantes de muitos lugares,  como País de Gales, Grã Bretanha, Noruega, Colômbia, México, Suíça, França, Espanha e Itália,  será proposta a reflexão ainda sobre as mulheres que promovem processos comunitários, que detêm e transmitem memória e favorecem a conexão com as raízes. Por outro lado, também se discutirá sobre a mulher que emigra, transita, viaja. 

 

CONHEÇA OS CONTADORES

Eles estão aí , “contando mentiras”, ou melhor, encantando por meio da atuação, desde 1995.  Nas palavras deles, são “um espaço/instituição e coletivo independente que fomenta arte, cidadania e pensamento”. Mais do que isso. Os tais contadores representam “uma ilha de reflexões culturais, políticas e sociais, que entende o teatro, sobretudo, como uma ferramenta de intervenção na sociedade”.

Para simplificar:  o grupo, formado em Suzano, tem mais de 25 anos de atuação e pesquisa no ofício do teatro. Durante todo esse tempo, vem desenvolvendo investigação em antropologia teatral e desenvolvendo formação artística e cidadã para crianças, jovens e adultos.

Os Contadores (representados, nas fotos abaixo por Daniele Santana, Cleiton Pereira, K.iqui Brito e Samuel Vital) fazem parte de redes criativas, movimentos sociais e instituições culturais nacionais e internacionais, em países como Peru, Equador, Colômbia, México, Argentina, Cuba e Dinamarca, que produzem imersões, festivais de teatro, encontros, trocas, e pesquisas nas artes da cena.

Em 2012 a trupe conquistou uma sede para a companhia teatral. “A uma esquina” do espaço atual, no Parque Maria Helena, em Suzano, um imóvel alugado em que antes funcionava uma oficina mecânica aprendeu, aos poucos, a servir como lar para uma série de atividades culturais, como espetáculos, oficinas, ensaios, experimentações. Era bom, é claro, mas ainda não o endereço definitivo.

Por isso, os Contadores passaram a enxergar o futuro em um terreno vazio e colocaram em prática um plano de 13 anos. Com recursos próprios, com as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19 e sobretudo com as próprias mãos, construíram em 2021, ao número 42 da rua Maria de Lourdes M. Vieira, em Suzano, uma sede bonita, moderna, um lar para afazeres artísticos, para receber o público e praticar o teatro em suas diferentes formas e experiências.

Cllique aqui para ler esta história e veja, abaixo, fotos do grupo na Espanha.

Veja Também