Entrar
Perfil
ACORDA, MOGI

Alvorada diversifica público na reza que abre um novo dia da Festa do Divino em Mogi

Devotos e violeiros da Folia de Biritiba Ussu madrugam para rito religioso e folclórico que lembra o festejo de antigamente, quando os fiéis iam às casas dos mogianos pedir donativos

Eliane José
23/05/2023 às 14:45.
Atualizado em 24/05/2023 às 14:52

Público da Alvorada se mantém fiel a uma tradição que foi revigorada desde os anos 1990 e relembra um antigo fazer: quando, no passado, os mogianos iam de casa em casa pedir as prendas para a Casa da Festa (Divulgação/Festa do Divino)

Olá, quer continuar navegando no site de forma ilimitada?

E ainda ter acesso ao jornal digital flip e contar com outros benefícios, como o Clube Diário?

Já é assinante O Diário Exclusivo?
ACORDA, MOGI

Alvorada diversifica público na reza que abre um novo dia da Festa do Divino em Mogi

Devotos e violeiros da Folia de Biritiba Ussu madrugam para rito religioso e folclórico que lembra o festejo de antigamente, quando os fiéis iam às casas dos mogianos pedir donativos

Eliane José
23/05/2023 às 14:45.
Atualizado em 24/05/2023 às 14:52

Público da Alvorada se mantém fiel a uma tradição que foi revigorada desde os anos 1990 e relembra um antigo fazer: quando, no passado, os mogianos iam de casa em casa pedir as prendas para a Casa da Festa (Divulgação/Festa do Divino)

Centenas de pessoas, muitas delas, com bandeiras surradas ou cheirando a novinhas, participaram da Alvorada desta terça-feira (23) que percorreu as silenciosas ruas do centro antigo de Mogi das Cruzes para anunciar mais um dia da Festa do Divino e fazer uma parada típica e especial, em frente a outro símbolo da cidade, a Santa Casa de Misericórdia, o nosso hospital público mais antigo. As rezas tinham um endereço: os doentes do corpo e da alma. Fazia frio, mas suportável. Custou a clarear o céu, mas quando ele azulou, foi moldura para fotos e vídeos compartilhados.

Em frente à Santa Casa de Misericórdia, os devotos pararam para pedir a cura para os pacientes ali internados ou parentes e conhecidos de quem tem um pedido de bênção e saúde para endereçar à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, representada pelo Deus-Pai, o Deus-Filho, o Deus onipotente que santifica e dá vida à igreja.

Para longe do conceito, o sentido do Espírito Santo se faz na prática com as pessoas chegando em frente ao Império, instalado na Praça Coronel Almeida, logo após despertarem, com cara ainda de sono e encapotadas, com terços ou o livrinho de capa vermelha com as canções e orações nas mãos para se guiar. O caderno-guia de papel sustenta o passado, enquanto a plataforma da festa, no celular, também entrega o mesmo conteúdo. 

Do Império, os presentes partem seguindo um carro emoldurado por seguranças enlados por uma fita - vermelha! - onde as caixas de som garantem que todos sigam ladainha, os cânticos, a Folia do Divino. 

De Mogi

A Alvorada é expressão popular típica da festa de Mogi das Cruzes que, segundo festeiros e historiadores, chega neste 2023 à 410ª edição revigorada com o afastamento do temor imposto pela pandemia - poucos dos madrugadores estavam de máscara, diferente do ano passado, quando com alguma flexibilização, o povo "mascarado" voltou a rezar entre a madrugada e a manhã, repetindo o que o professor e historiador Jurandyr Ferraz de Campos [1936-2019] enquadrava como uma manifestação religiosa e popular mogiana. 

A ideia é anunciar mais um dia da festa. Mas, segundo dizia Jurandyr, a Alvorada desejava perenizar um fazer antigo quando um grupo de festeiros e fiéis percorria as moradas da Mogi das Cruzes quase sem morada perto uma da outra, em busca de donativos para o festejo que contava com a Casa da Festa, nas proximidades da antiga igreja, hoje Catedral de Santana. Porém, claro, ela foi se atualizando.

Prendas não são mais pedidas nesse momento, porém, antes disso, as rezadeiras cumprem essa mesma missão. Elas são as primeiras a recolherem dinheiro em espécie para o estartar da Festa do Divno que movimentou, em 2019, cerca de R$ 3 milhões.

Todas as madrugadas, até domingo, Alvorada reúne os devotos e bandeiras para iniciar um novo dia da Festa do Divino (O Diário)

Na Santa Casa

Na manhã de hoje, em frente à Santa Casa, alguns funconários saíram à porta para acompanhar a breve celebração que pediu bênçãos a três integrantes da Igreja Católica de Mogi das Cruzes, além dos pacientes internados no centenário hospital e nas demais casas de saúde da cidade, e dos parentes e devotos em tratamento.

As pessoas nominalmente citadas foram a irmã Clara Faruaru, da Congregação Sagrado Coração de Jesus, responsável pela creche infantil do bairro do Socorro, que se recupera de uma cirurgia no tornozelo; o padre João Paulo dos Santos, em tratamento de câncer e o advogado Sylvio da Silva Pires, que se encontra hospitalizado em São Paulo. 

Desde o sábado, primeiro dia da novena, a ex-festeira Arly Sylvia Nazar de Abreu, que responde pela coordenação da Alvorada, compara o crescimento da participação popular, sobretudo com o ano passado. Desde 2020, esta é a primeira vez que a programação matinal ocorre demembrada dos receios deflagrados pelo coronavírus, sobretudo antes da vacina.

Sylvia, como é chamada, tem cacife para a argumentação porque frequenta a madrugada da Festa do Divino há 33 anos. Desde lá, vê um crescimento sustentado com um detalhe: a diversificação do público que não se concentra apenas nos "católicos, católicos mesmo", mas em pessoas que professam outras crenças e decidem acordar cedo para engrossar o coro de rezas e cantigas. A coordenadora também afirma que muitos jovens, estudantes que, primeiro, vão em busca de pesquisar a Festa, se tornam participantes nos anos seguintes.

De fato, é notória a miscelânea de datas de nascimento com pessoas de cabelos bem branquinhos escoradas por filhos, netos e amigos, jovens e algumas (poucas, mas existentes) crianças. "Eu ainda não encontrei neste ano, mas há muitos evangélicos que também participam da alvorada", acrescenta Sylvia.

Cáfe Divino

A Alvorada é um rito escolhido para o cumprimento de promessas - famílias que vão todos os dias e grupos de amigos que tradicionalizam esse encontro registrado em redes sociais de grupos de mogianos. Vez ou outra, alguém chega delicamente perto de você e entrega um santinho, um mimo feito artesanalmente, um chaveirinho com as cores do Divino, a pomba, uma fitinha colorida (elas representam os sete dons do Espírito Santo). 

Após escolher acordar a cidade, rezando, vem a hora de dividir o pão - uma longa fila abraça a Catedral de Santana e, o que parece que vai durar uma vida, logo se acaba com a chegada ao salão paroquial onde o pãozinho com um pedaço generoso de mortadela (distribuído apenas um, a cada devoto); duas rosquinhas e um cafezinho quente e doce são servidos. 

Muitos participantes, durante a semana, não desfrutam dessa tradição que também simboliza o Divino Espírito Santo - a fartura. A procissão acaba quase na hora de o relógio chegar às 7. E, por isso, grande parte dos devotos não entra na soma dos pães distribuídos, como lembra o responsável pelo Café, José Carlos Nunes Júnior.

O dia com maior participação ocorreu no final de semana, quando 2,6 mil pães foram servidos, na estreia do ritual. No "recheio" da semana, essa meta é reduzida porque muitas pessoas não têm tempo de forrar o estômago antes de ir para o trabalho ou levar os filhos à escola.

Hoje (23), cerca de 1,8 mil pães foram entregues por voluntários que recebem o visitante com acalorado "bom dia". No final de semana, a expectativa é de superar a marca de cerca de 4 mil cafés. "Na alvorada, na novena e na quermesse notamos o aumento do público, superando o que esperávamos, e obrigando cada vez mais a profissionalizar a Festa", afirma Júnior, como é conhecido o ex-festeiro.

Segundo ele, a modernização alcançada pela plataforma que atualiza a agenda, inscreve os participantes na Entrada dos Palmitos, e vende os tíquetes de alimentos da quermesse, deverá ser aprimorada em 2025. A programação da Festa do Divino prossegue até domingo.

Alerta de spoiler

No domingo, a Igreja Católica celebra a Festa de Pentecostes - e a alvorada é marcada pela chegada dos devotos às Igrejas do Carmo, onde a cerimônia do fogo (símbolo do Espírito Santo) é realizada e costuma ser um momento único tanto para os devotos, quanto curiosos e desbravadores da rica cultura sagrada e profana que Mogi ainda cultiva. 

Conteúdo de marcaVantagens de ser um assinanteVeicule sua marca conosco
O Diário de Mogi© Copyright 2023É proibida a reprodução do conteúdo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por