Uma coisa muito valiosa para a população de uma nação é a sua liberdade de pensar e falar, poder questionar as decisões de seus mandatários, apontar falhas e discutir opções quando uma situação se apresenta. A liberdade de expressão é fundamental para que a democracia de fato exista. Esse entendimento é crucial em qualquer esfera da gestão pública, afinal, quem se submete ao crivo do voto popular para uma eleição ou então é servidor público, não perder esse norte é necessário.
Vale esse pensamento para qualquer nação democrática, e o respeito às instituições, ao executivo, legislativo e judiciário torna-se ainda mais significativo. Pois bem, essa semana tivemos um tosco e péssimo exemplo do presidente americano, Donald Trump, líder do que se convencionou dizer “a maior democracia do mundo”, agarrando-se à cadeira e negando validade ao processo eleitoral que elegeu Joe Biden em seu lugar. Noticia a imprensa que sem provas ele acusou o sistema de fraudulento, perdeu ações para reverter o resultado e criou uma divisão nacional, chegando ao ápice estimulando a invasão do Congresso daquele país, fomentando a dúvida, traçando mentiras como estratégia. Não é só o Brasil que tem suas mazelas.
O paralelo que traço, muitos podem discordar, é que o presidente americano não inspire por aqui, ano que vem, se o resultado não for favorável ao presidente Jair Bolsonaro na sua tentativa de reeleição, ações do mesmo tipo, considerando-se o fato de que nosso governante muito se espelhou no americano. Desde a posse, Bolsonaro idolatrou Trump e declaradamente o apoiou na disputa eleitoral. Se houver um revés de sua tentativa de reeleição, será absurdo considerar algo semelhante de Bolsonaro?
Se tomarmos como ilustração a postura negacionista de nosso presidente em relação à pandemia, tal qual Trump, o pouco caso com medidas de distanciamento social e a bagunça que se fez na questão da vacina e seringas, influenciando seguidores a desprezar recomendações sanitárias, o que pensar que faria em nova disputa eleitoral, não é mesmo?
Essa comparação me faz lembrar uma música de Bezerra da Silva em que cantava o seguinte: “para tirar meu Brasil dessa baderna, só quando morcego doar sangue e o saci cruzar as pernas”. Tomara que o episódio covid/vacina não vire uma baderna e nem aconteça conosco o que os EUA acabou de passar nas eleições. Esse exemplo não queremos por aqui.
Laerte Silva é advogado