Durante anos, Geny Alexandrini Ragaini atuou na Casa da Amizade e integrou grupos de amizade como a Turma das 12 em Mogi das Cruzes
Amigos e familiares se despedem de Geny Alexandrini Ragaini que atuou durante anos na Casa da Amizade e no Rotary de Mogi das Cruzes: ela faleceu aos 96 anos (Reprodução/redes sociais)
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Durante anos, Geny Alexandrini Ragaini atuou na Casa da Amizade e integrou grupos de amizade como a Turma das 12 em Mogi das Cruzes
Amigos e familiares se despedem de Geny Alexandrini Ragaini que atuou durante anos na Casa da Amizade e no Rotary de Mogi das Cruzes: ela faleceu aos 96 anos (Reprodução/redes sociais)
Nome atuante no voluntariado de Mogi das Cruzes, amigos e familiares lamentam a morte de Geny Alexandrini Ragaini, aos 96 anos. Ela atuou na Casa da Amizade, no Rotary Clube e em outras iniciativas de assistência social durante décadas. Também integrou a conhecida Turma das 12, formada por um grupo da amigas que mantém encontros regulares há anos.
O corpo de Geny está sendo velado no Velório Cristo Redentor e o sepultamento acontecerá às 16h30 desta segunda-feira (12), no Cemitério São Salvador. Ela foi casada com Álvaro Ragaini e chegou a Mogi das Cruzes quando o marido recebeu um convite para trabalhar na Companhia Suzano. Deixou o filho Beto, netos e bisnetos.
Nascida em Descalvado, a voluntária residiu em São Miguel Paulista, e conheceu o marido na Nitroquímica, onde ambos trabalhavam, uma empresa reconhecida por gerar milhares de empregos.
A trajetória da matriarca da família que chegou à cidade em 1964 e se dedicou à criação dos filhos Roberto e Raul (falecido em 2005), foi contada pela jornalista Carla Olivo, em uma das edições da série "Entrevistas de Domingo", que era publicada semanalmente por O Diário.
Na conversa Geny Ragaini fala sobre o crescimento e as mudanças na sociedade e no município e região, a partir de meados do século passado, a opção da família por residir na Serra do Itapety e o voluntariado mogiano.
Confira, a seguir, a Entrevista de Domingo publicada em janeiro de 2007, quando Geny Ragaini tinha 79 anos:
Uma voluntária por vocação
Carla Olivo
Há quatro décadas, Geny Alexandrini Ragaini, 79 anos, se dedica ao trabalho voluntário na Casa da Amizade. Ajudando o próximo, confessa, sente-se realizada e feliz. Descendente de imigrantes italianos e nascida em Descalvado, no Interior do Estado de São Paulo, ela foi criada em São Miguel Paulista, numa época em que esta cidade da Zona Leste da Capital era considerada tranqüila e atraía muita gente para trabalhar na Nitroquímica - a empresa chegou a empregar 5 mil funcionários. Lá estudou o primário, conheceu o marido (Álvaro Ragaini) e se casou. Como ele foi convidado para trabalhar na Suzano Papel e Celulose, o casal veio para Mogi das Cruzes em 1964. Dois anos depois, já estavam engajados nos trabalhos sociais do Rotary Club, onde ainda permanecem. Mãe de Roberto e Raul - que faleceu há dois anos -, ela é avó de Álvaro, Bruna, Roberto Júnior e Caio Felipe - e aguarda a chegada do primeiro bisneto, Thiago, que nascerá daqui a
duas semanas.
Em entrevista a O Diário, Geny relembra histórias vividas na Cidade:
O Diário - A senhora nasceu no Interior do Estado. Por que veio para Mogi das Cruzes?
Geny Alexandrini Ragaini - Meus avós paternos e maternos vieram para o Brasil como imigrantes italianos para trabalhar nas lavouras do Interior do Estado. Eles foram morar na região de Descalvado,
cidade onde nasci e passei parte da infância. Lá, meus pais (Pedro Alexandrino e Bruna Barreta Alexandrino) se conheceram e, quando eu tinha 8 anos, vieram para São Miguel Paulista, já que era difícil
conseguir emprego no Interior e eles estavam cansados do trabalho
na lavoura. Vivi minha juventude lá, onde me casei e depois, vim para Mogi porque meu marido (Álvaro Ragaini) foi chamado para trabalhar na Companhia Suzano (hoje Suzano Papel e Celulose), onde ficou 13 anos.
O Diário - Quais as lembranças de sua infância?
Geny - Como toda família de descendência italiana, a minha também era muito animada e unida. Éramos em oito filhos (Anselmo, Dionízio,
Benedito, Eudóxia, eu e Idalina, além do José e Aurora que já faleceram). Meus irmãos tocavam cavaquinho e violão e o José tinha uma voz linda, cantava muito bem, sempre participava de concursos de rádio e abocanhava prêmios. Lembro que, quando moça,
acordávamos às 2 horas da madrugada, com meus irmãos
e os amigos fazendo serenatas. Logo minha mãe levantava, preparava café com bolo para todos e virava uma festa.
O Diário - Onde a senhora estudou?
Geny - Fiz somente o primário, em São Miguel, de onde saí casada. Conheci meu marido quando tinha 18 anos. A mãe dele era parteira
e foi convida por um médico da Nitroquímica para trabalhar
lá e ele, aos 21 anos, já era chefe de secretaria da fábrica que
tinha cerca de 5 mil empregados. Eu também era funcionária
do escritório de produção da empresa. Ali nos conhecemos,
namoramos dois anos e nos casamos. O Álvaro sempre conta a história que meu pai era muito bravo e colocou o trabuco no peito dele, então, com 21 anos, ele se casou comigo, mas é só brincadeira.
O Diário - Como foi sua adaptação em Mogi?
Geny - Não tive muita dificuldade porque naquela época, São Miguel era tranqüila e bem diferente de hoje. A Cidade começou a mudar com a chegada dos nordestinos, que vinham em busca de trabalho
na Nitroquímica, uma grande empresa que empregava muita
gente. Lembro que eles se revezavam para dormir porque
não tinham condições de pagar por um quarto sozinhos. Então,
um trabalhava de noite e dormia de dia e o outro fazia o contrário. Com a chegada destas pessoas, São Miguel foi sendo descaracterizada e hoje, conheço pouquíssimas pessoas
lá. Como meu marido foi quatro vezes presidente do Clube
da Nitroquímica, formávamos uma família só. Mas de calma,
a Cidade passou hoje a uma das mais violentas do Estado.
O Diário - Onde a senhora já morou em Mogi?
Geny - Logo que chegamos aqui, em 1964, fomos
morar numa casa da Tenente Manoel Alves, onde ficamos dois anos. Lembro que a Rua tinha calçamento e a NGK já estava construída em frente à residência onde morávamos. Tivemos muita sorte porque
depois que saí de lá, a dona da casa, a Inah (Amaral Gennari) entrou lá e, em pouco tempo, houve uma enchente naquela área e tudo ficou inundado. De lá fomos para a casa da Helena Barattino, na Rua Santana, onde agora funciona uma clínica de exames laboratoriais.
Foram mais 3 anos lá e, em seguida, nos mudamos para a antiga Rua Sergipe, na Estância dos Reis, onde passamos muitos anos até nos mudar para a Serra do Itapeti.
O Diário - Como era Mogi quando a senhora chegou aqui?
Geny - Por intermédio do Rotary começamos a fazer amizades aqui em Mogi, mas no início foi difícil porque as famílias eram muito fechadas. Durante dois anos trabalhei como voluntária da Santa Casa de Misericórdia, mas via tanta pobreza que acabei entrando
em depressão. Então, saí de lá e fiquei na Casa da Amizade, onde ajudamos os mais necessitados e damos uma grande colaboração ao Lar Escola. A Cidade era bem tranqüila e pacata, então, meus filhos (Roberto e Raul) tiveram oportunidade de brincar à vontade
na rua. Lembro que, apesar do meu marido não gostar de dançar, fomos a um excelente baile no Itapeti Clube, a convite do Dr. Mascarelli.
O Diário - Quando começou seu envolvimento com o Rotary?
Geny - Em 1966, o Álvaro foi convidado para fazer parte do Rotary e esta época ficou marcada pelos intercâmbios internacionais. Nós recebemos três bolsistas, sendo dois americanos e uma canadense. Hoje, esta última está com 50 anos e temos tanta afinidade que ela
já voltou para cá várias vezes e nós também fomos para lá. Este
programa é muito importante e, além de receber os bolsistas destes países e enviar os nossos para lá, agora também foi ampliado para a Austrália, Alemanha, Japão, entre outros.
O Diário - Qual sua atividade no Rotary?
Geny - Sempre ajudei, mas éramos consideradas esposas de rotarianos porque na época o Rotary não admitia mulheres.
Agora é diferente e atualmente, faço parte da Casa da Amizade, que embora seja ligada ao Rotary, é independente e funciona como um clube de assistência às famílias mais necessitadas. No início, nossas
reuniões aconteciam cada vez na casa de uma das voluntárias.
Depois, quando se formaram os quatro clubes, passamos a contar com uma sede.
O Diário - Como é o trabalho da Casa da Amizade?
Geny - Admiro as companheiras, que trabalham muito, promovendo jantares, almoços, desfiles de modas, entre outros eventos beneficentes para que possamos ajudar as gestantes. Também damos enxovais para serem distribuídos às parturientes da Santa
Casa e às famílias carentes atendidas por entidades da
Cidade. A proposta é ajudar os mais necessitados com cestas
básicas, materiais de limpeza e demais doações. Este trabalho
voluntário me satisfaz. Já são mais de 40 anos de atividades,
ajudo no que posso e assim me sinto muito feliz.
O Diário - Quando a senhora foi morar na Serra do Itapeti?
Geny - Há 25 anos nos mudamos para a casa onde moramos
hoje, na Serra do Itapeti. Gosto muito da natureza e,
por enquanto, tudo é muito tranqüilo. Meu marido também gosta
daqui e meu neto (Álvaro) foi criado nesta casa e agora, embora
casado, é nosso vizinho e não troca aqui por nada.
O Diário - Como a senhora avalia a ocupação irregular na Serra?
Geny - É preocupante. Sempre recebemos a fiscalização aqui e a equipe constata que nós plantamos árvores e nunca derrubamos nenhuma. Meu quintal não tem sujeira, assim como o rio que contorna todo o sítio. Não admito que ninguém maltrate a natureza,
então, fico revoltada quando vejo isso acontecendo em outros locais, onde as pessoas jogam lixo e deixam tudo sujo. Aqui, enterramos o lixo orgânico, temos um queimador para o material que pode ser
assim destruído e levamos o restante para ser aproveitado. Depois que a equipe do meio ambiente começou a fazer estas fiscalizações constantes, a situação melhorou bastante.
O Diário - Há plantações no sítio?
Geny - Planto um pouco porque a terra é pobre, então, tenho cheiro verde, alface, milho e dependendo do que plantamos e da forma como cuidamos, outros produtos também dão certo. Também
há vários pés de frutas, mas só para nossa recreação
.
O Diário - A senhora trabalhou fora?
Geny - Já vim casada de São Miguel, onde trabalhei na Nitroquímica, mas aqui fiquei cuidando da casa e dos filhos, o que já dá um bom trabalho. Antes de vir para cá, minha sogra era parteira, então, ela
fazia a maioria dos partos, já que naquela época, as crianças
não nasciam em hospitais e sim em casa. Então, tirei a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e como as famílias
não tinham condições de pagar táxi, levava minha
sogra até as parturientes. Depois, ela ficava cuidando dos
bebês, tratando dos umbigos, dando os primeiros banhos e
outros cuidados. Então, uma vez, quando tinha 22 anos, fui
cuidar de um bebê a pedido dela. A mulher, muito simples,
me olhava com ar de desconfiança e depois me revelou que
teve medo que eu afogasse a criança na hora do banho, de
tão nova que eu era.
O Diário - O que a senhora faz para se distrair?
Geny - Todas as segundas-feiras à tarde jogo baralho com
a turma das 6, formada por mim, Inah Gennari, Diorema,
Aninha, Clélia Leite e Cecília Gennari. Neste dia, após o almoço,
nós nos reunimos, cada vez na casa de uma, para jogar baralho. A anfitriã serve salgado, doce e café e passamos horas agradáveis. Também gosto de fazer trabalhos manuais, principalmente tricô, e
quando soube que seria bisavó, já que o Thiago, filho do meu
neto Álvaro nasce daqui a duas semanas, fiz casacos, mantas
e sapatinhos. Fazer tricô é como andar de bicicleta. Depois
que se aprende, não se esquece mais. Ainda costuro
de vez em quando, leio jornais, acompanho novelas e telejornais
e adoro música clássica e as canções românticas de
antigamente.
O Diário - A senhora gosta de cozinhar?
Geny - Faço de tudo e não me aperto com pratos doces e nem salgados. Aliás, em fevereiro será minha vez de preparar a confraternização do grupo das 12, do qual também faço parte.
Nós nos reunimos uma vez por mês, às vezes no almoço,
chá ou jantar, para conversar e esta convivência é espetacular,
tanto que não vejo a hora deste dia chegar. Trocamos idéias,
falamos de comidas e de tantos outros assuntos. O grupo das 12
é formado por mim, Neid Da San Biagio, Glória Rossi, Ditinha
Guimarães, Dora Altmann, Dolores Cardoso, Cida Briquet,
Marina Chaves Almeida, Irene Straube, Iracema Ferraz, Lina
Moriconi e Dirce Sgarbi. São 12 mulheres maravilhosas.
O Diário - Como a senhora teve forças para superar a morte do filho?
Geny - Há 2 anos, com apenas 52, meu filho Raul
morreu vítima de um câncer que tomou conta de seus órgãos
vitais. Foi muito triste e só encontrei forças para me
recuperar porque moro aqui no sítio, onde converso com minhas
plantas e árvores e porque contei com o apoio das amigas
do jogo e do grupo das 12. Esta é maior tristeza de toda a minha
vida porque a perda de um filho, para uma mãe, é a maior
dor do mundo. Já perdi meus pais e dois irmãos, mas nada se
compara à morte do Raul.
O Diário - E a maior alegria?
Geny - É ter minha família perfeita e unida. Todos os domingos, meu filho, noras e netos almoçam comigo e tenho o maior prazer de preparar este almoço. Gosto de fazer todos os tipos de pratos, como uma boa bacalhoada, nhoque, supremo de frango, lombo e salada de
rúcula com manga. Também adoro viajar, conheço o Canadá, Europa e quando fizemos 50 anos de casamento, fomos para os países escandinavos.
O Diário - Como a senhora acompanhou a mudança da Cidade desde que chegou aqui até os dias de hoje?
Geny - Tudo mudou. A Dr. Deodato (Wertheimer), onde se concentravam os bares, lanchonetes e restaurantes, hoje é
tomada por lojas. Lembro que logo que chegamos a Mogi, o
Dr. Wilmes (Gonçalves Teixeira), nos convidou para o
batizado de sua filha Renata e, como ele já morava na Vila
Oliveira, pensei que estávamos indo para a zona rural. Afinal, lá
só havia terra e mato por todos os lados. Depois, quando me
mudei para este Bairro, molhava a rua junto com minha vizinha,
a Elza Arouche, para evitar que a poeira viesse para dentro de casa. Isso faz 40 anos, mas agora, a Vila Oliveira está toda asfaltada e é um dos melhores locais para se morar.
O Diário - A senhora teve participações em outras áreas na Cidade?
Geny - Participei bastante do Clube de Campo e no tempo do Chico Chagas, que era um dos diretores, fui diretora social junto com
a Lourdes Hallage. Fui a vários bailes lá e adorava dançar
rumba, fox e bolero. Também tínhamos os tradicionais bailes
de Carnaval, mas hoje, tudo mudou. Na época, ainda com
a ajuda do Chico, ajudei a promover a apresentação do grupo Violinos do Rio, no Clube Náutico Mogiano, que foi um sucesso.
Tenho saudades da época em que meus filhos eram crianças.
O Roberto sempre foi levado e descia com uma charanga sem
breque pela Rua Santana, desde a altura do Hospital Ipiranga
até a Avenida dos Bancos (Voluntário Fernando Pinheiro
Franco). Era uma época muito divertida e todos brincavam na
rua sem qualquer perigo.
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