Políticos lembraram histórias protagonizadas pelo homenageado ao longo de 18 anos de mandato como prefeito de Mogi das Cruzes.
Boy recebeu o certificado de “Honra ao Mérito” das mãos dos vereadores Zé Luiz e Furlan (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Marcada pela informalidade e por discursos e personagens que reviveram muitas das famosas histórias do homenageado, a sessão da Câmara de Mogi que festejou o centenário do nascimento do ex-prefeito Waldemar Costa Filho foi um evento que há muito não se via por lá, disseram alguns vereadores, ao final da reunião de mais de duas horas de duração.
Na verdade, um encontro de amigos para lembrar o prefeito que administrou a cidade por 18 anos, divididos em quatro mandatos e que deixou, além de obras importantes, como Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, um rol muito grande amigos e de fatos por ele protagonizados que muitos, especialmente os mais jovens, não acreditaram que pudessem ter acontecido.
Foi quase um verdadeiro sarau, onde não faltaram uma banda de jazz que tocou os hinos de Mogi e dos Expedicionários; Henriette Fraissat cantando “Emoções” e “De volta pro aconchego”, com tanta emoção, que acabou por levá-la a um atendimento de urgência num hospital da cidade; antigos companheiros de Waldemar, mais lembranças, revelações e até exageros de alguns na hora de contar os feitos do homenageado.
Evento contou com políticos de diferentes estados e esferas (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
O lado político teve início com uma entrevista –antes da sessão - do filho do homenageado, o atual presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que respondeu sobre política nacional e sucessão municipal, já “limando” alguns pretensos concorrentes de seu grupo político à Prefeitura. No evento teve desde um senador astronauta a um deputado do Rio de Janeiro, passando pelo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputados estaduais e federais, dois ex-prefeitos e o atual, dois vices de Waldemar e prefeitos de inúmeras cidades do Alto Tietê, entre tantas outras autoridades.
Os discursos, apesar de muitos, se tornaram uma conversa entre amigos, com os oradores fazendo referências a pessoas conhecidas da plateia, e muitos reagindo além dos costumeiros aplausos.
A seguir, algumas das muitas histórias da festiva sessão de sexta-feira (2), na Câmara de Mogi:
Aplausos
Deputado estadual André do Prado (PL), o deputado federal e ex-prefeito Marco Bertaiolli (PSD), e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, filho do homenageado, foram os mais aplaudidos na chamada para composição da Mesa. Também ganharam aplausos, quando citadas, a mulher de Valdemar, Dana Vidal, e a filhota Catarina, que já havia roubado a cena, ao se aboletar no colo do pai, durante a entrevista coletiva, minutos antes da sessão.
Bolsa de estudos
Autor da proposta de homenagem a Waldemar, o vereador José Luiz Furtado (PSDB, a caminho do PL), foi o primeiro a discursar. De improviso, ele lembrou uma parte de sua história de jovem, filho de mãe solo, que desejava estudar e que foi bater à porta de Valdemar para lhe pedir ajuda. Ganhou uma quase bolsa de estudos na antiga UBC, que lhe permitiu concluir o curso, “algo que fez diferença em minha vida”. Nessa noite – disse ele-, “a palavra ideal para ela é gratidão”, lembrando que em cada ponto de Mogi ficou “um pedacinho de Waldemar”, referindo-se às inúmeras obras deixadas pelo ex-prefeito. E pedindo perdão aos ex-prefeitos presentes, Bertaiolli, Marcus Melo (PSDB) e Caio Cunha (PODE), arrematou, convicto: “Me desculpem todos vocês, mas o melhor prefeito que Mogi das Cruzes já teve chamava-se Waldemar Costa Filho”. Foi aplaudido.
Autor da proposta de homenagem a Waldemar, o vereador José Luiz Furtado lembrou quando o então prefeito conseguiu uma bolsa de estudos para ele (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Lembrado
O vereador, ao falar de sua vida, havia feito referência a Gabriel Albanês, que teria dado a ideia do evento, ao lhe pedir ajuda para realizar uma exposição de fotos, na Câmara, relativa ao centenário de nascimento de Waldemar Costa Filho. A proposta desdobrou-se em sessão solene, que foi abraçada pelo PL. Albanês, hoje filiado ao partido, é o jovem que, ainda menino, fugiu de sua casa, em Mogi, para ir a Brasília para conhecer o então deputado federal Jair Bolsonaro, com quem se encantara, ao acompanhar uma entrevista dele ao extinto programa CQC, da Band.
Emoções
Após apresentar “Emoções”, acompanhada pela Big Band Sinfônica de Mogi, regida pelo maestro Lelis Gerson, a cantora Henriette Fraissat, finalista do “The Voice”, iria apresentar “De volta pro aconchego”, mas antes, foi longe: “Querido Boy, você é o nosso aconchego”. Ao final da sessão, circularam informações de que Henriette passara mal e fora levada de ambulância para receber atendimento médico.
Após, emocionada, se apresentar na sessão, a cantora Henriette Fraissat precisou de atendimento médico (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Canção do Expedicionário
Empolgado, o vereador Zé Luiz voltou à cena para pedir que a Big Band interpretasse a Canção do Expedicionário, música que, segundo ele, era a preferida de Waldemar. Na verdade, por uma questão de marketing, o ex-prefeito sempre usou a música de fundo em seus jingles de campanhas eleitorais, como referência aos mais de 600 expedicionários da cidade que foram lutar na Itália, durante a Segunda Grande Guerra, muitos dos quais não voltaram.
Forte Apache
Próximo orador, o deputado estadual Marcos Damasio (PL) começou seu discurso lembrando um versículo bíblico que fazia referência à amizade e lembrou-se dos tempos em que Waldemar costuma frequentar sua casa, em Braz Cubas, onde seu pai, o ex-vereador Tarcísio Damasio, era uma importante liderança aliada do ex-prefeito. Ambos eram mineiros. Considerando o ex-prefeito “um visionário”, o parlamentar lembrou os tempos em que ele próprio, com uns 5 anos, chegou a ganhar carrinhos, autorama e até um Forte Apache, do amigo de seu pai.
Na infância, o hoje deputado estadual Marcos Damásio ganhou presentes de Waldemar, como um Forte Apache (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Mogianidades
O ex-prefeito e deputado federal Marco Bertaiolli começou dizendo que concordava com o vereador Zé Luiz, que Waldemar realmente tinha sido “o melhor prefeito da história de Mogi”. Bom de oratória, Bertaiolli foi dizendo que “a história de Waldemar se confundia com a de Mogi”, lembrou a esposa dele, dona Leila (que não compareceu devido a problemas de saúde), e não se esqueceu da pequena Catarina, a quem se referiu como “futura prefeita de Mogi”. Surpreendeu ao cumprimentar o “sempre prefeito Marcus Melo” e Pedro Komura, atual secretário municipal de Desenvolvimento, como vereador, passando a historiar a vinda de Waldemar pra Mogi e seu ingresso na política. E claro, não deixou de ligar o ex-prefeito ao sentimento de mogianidade, que ele usou para marcar seu governo.
Retrato na parede
Bertaiolli lembrou-se uma foto de Waldemar existente num corredor que ligava a Sorveteria Daurinho, na rua José Bonifácio, aos fundos da casa, onde morava o proprietário, Dauro Paiva. “Este é o Waldemar. Está aqui porque é meu amigo”, dizia o comerciante, despertando a curiosidade do menino Bertaiolli em saber quem era o personagem. Ele foi o primeiro a citar o megaempresário Henrique Borenstein, que seria lembrado em diversas outras oportunidades, no evento.
Também ex-prefeito de Mogi, Bertaiolli conviveu bastante com Waldemar, com quem tem inúmeras histórias (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Bertaiolli disse que Waldemar “tirou Mogi do isolamento” com a Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, lembrou que “sua palavra não tinha curva”, para compará-lo ao filho, Valdemar Costa Neto.
Lições
Bertaiolli lembrou a história de quando era vereador e ia despachar com Waldemar pela manhã e acabava ficando no gabinete para o almoço com o amigo e, depois, até o final da tarde. “Você não quer ser prefeito? Então fica aqui para você aprender”, lhe dizia Waldemar.
Visita ao avô
Certo dia, Bertaiolli foi até o gabinete para pedir a Waldemar que, “quando tivesse um tempo”, fosse visitar o seu avô, Joel Barbieri, fã declarado do prefeito, que acabara de sair de uma cirurgia. “Pois se ele já está em casa, vamos agora”, retrucou Waldemar, já ligando o seu Fusquinha e saindo para a residência do convalescente. “Minha avó quase teve um treco” – contou o deputado.
Despedida
No último dia do quarto mandato de Waldemar, um ainda jovem Bertaiolli foi até lá para se despedir do amigo e lhe pediu de presente um quadro que o prefeito mantinha na parede com a frase atribuída ao presidente norte-americano, John Kennedy: “O segredo do fracasso é querer agradar a todos”. Waldemar não deu, mas logo depois mandou lhe chamar novamente à Prefeitura. Lá estava uma réplica do quadro que ele mandara fazer, com a urgência necessária, para ornamentar a parede do escritório político do amigo. Bertaiolli não se contentou: “Waldemar, me dê aquele original e fique com a cópia, pois se eu disser que é cópia, ninguém vai dar valor. Mas se você ficar com ela, ninguém vai falar absolutamente nada”. Waldemar foi até a parede e trocou o quadro. “Até hoje, nem o Boy sabia que o quadro da sede do PL é uma cópia; o original está comigo, em meu escritório político”.
O astronauta
Chamado à tribuna, o senador Marcos Pontes (PL), o primeiro astronauta brasileiro, mostrou por que decidiu trocar a carreira militar pela de palestrante e, agora, de político. Trajando a inconfundível camisa com a bandeira do Brasil e símbolos da era espacial, Pontes, que não conheceu Waldemar, fez um discurso falando da importância do homenageado a partir do que ele tinha ouvido falar sobre ele até aquele momento. Saiu aplaudido.
Pelo telefone
O atual prefeito Caio Cunha (PODE) contou que não conheceu Waldemar pessoalmente, mas que certa noite, na redação de O Diário, onde ele trabalhava cuidando da internet da publicação, quando ainda não era político, atendeu a um telefonema de um certo Waldemar que desejava falar com um repórter. “Waldemar... de onde?”- quis saber o jovem funcionário. “É o Waldemar prefeito, pô!” – disse a voz firme, do outro lado da linha.
O prefeito Caio Cunha relembrou de quando era funcionário de O Diário e recebeu, por acaso, uma ligação de Waldemar (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
Caio contou que sua gagueira aumentou ainda mais, quando ele, nervoso, passou a ligação para o repórter. “Foi a emoção de ter atendido o telefonema do prefeito que eu nem conhecia pessoalmente, mas sabia de seu trabalho”.
Na Vila Natal
Caio contou também sobre uma visita que fez a duas senhoras da Vila Natal, que lhe serviram cafezinho e avisaram: não gostavam de políticos. Caio manteve a conversa, pois precisava dos votos de ambas, até que elas confessaram: “Pensamos assim porque não se faz mais político como Waldemar Costa Filho”. O prefeito também falou do administrador Waldemar, referindo-se a ele como “uma pessoa que eu gostaria de ter conhecido” e destacando a paixão dele pelo “trabalho por Mogi das Cruzes”.
Os vices
Cada vez que foram lembrados pelos oradores, os dois vices de Waldemar presentes à cerimônia – Nobolo Mori e Melquíades Portela – foram especialmente aplaudidos. A atual vice-prefeita, Priscila Yamagami, ao lado dos jornalistas, na tribuna de imprensa, aplaudia de pé, toda vez que o nome de Nobolo era citado.
“Companheiros”
Valdemar Costa Neto foi o derradeiro a ser chamado à tribuna e chegou reclamando que os oradores que o antecederam “haviam roubado 80% do que pretendia falar”. Ao iniciar os cumprimentos aos presentes, ele se referiu ao “companheiro Marcio Alvino”, deputado federal de seu partido, mas logo se autocorrigiu: “Se Bolsonaro me ouvir chamando alguém de ‘companheiro’ , ele me mata”, afirmou, arrancando risos da plateia. E continuou brincando com outros amigos presentes, entre eles, o ex-vice Nobolo e seu filho Sidnei Mori. “Nobolo é o máximo”, disse ele, referindo-se a alguma brincadeira que só eles conheciam.
O filho do ex-prefeito foi o último a falar e brincou bastante com os presentes (Diego Barbieri - Câmara de Mogi)
“Do outro mundo”
Ao historiar a vida do pai, ele abordou o aspecto visionário de Waldemar que, segundo ele, “não nasceu para negócios”, pois sentia “vergonha de ter as coisas”. E o comparou a Jair Bolsonaro, chamando-os de “pessoas do outro mundo”. Historiou a chegada do pai à política por insistência do ex-prefeito Henrique Peres, o Vidam. Falou da derrota na primeira tentativa de eleição para prefeito, em 1958, o que valeu ao filho o bullying dos amigos de escola. Foi historiando a carreira do pai e lembrou como ele, sozinho, pela Arena, conseguiu bater três candidatos do MDB, na época em que vigorava o voto de legenda, ou seja, eram computados todos os votos dos concorrentes de cada partido, vencendo quem alcançasse maior número de sufrágios.
Duelo
Em seguida, lembrou o desencontro entre seu pai e o líder oposicionista Rubens Magalhães – ambos compadres –, a quem, depois de provocado, Waldemar chamou para um duelo, longe das vistas do público. E exagerou ao dizer que o convite foi feito pessoalmente ao adversário, quando, na verdade, tudo se deu por meio de “seções livres” publicadas nas páginas deste jornal. Na época, Waldemar teria prometido dar um “tiro na boca” de Magalhães. E, depois de detalhar os acontecimentos da época, Valdemar contou que certo dia, ao chegar de Brasília, seu pai pediu que passasse antes pela Prefeitura. Ao chegar, encontrou os dois ex-desafetos tomando o “cafezinho da paz”. “Este é o Rubens Magalhães, que estou nomeando para ser meu secretário do Trabalho”, informou-lhe o pai.
Secretário de Maluf
O presidente do PL contou também como o ex-ministro e senador Roberto Campos atuou para que Waldemar aceitasse o convite de Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, para ser o seu secretário de Abastecimento. E quando assumiu, Waldemar passou a fiscalizar os principais restaurantes e outros pontos de São Paulo, fechando muitos deles por irregularidades – como o poderoso Maksoud Plaza Hotel – e tornando-se uma das pessoas mais conhecidas do governo. Maluf teria tentado cooptá-lo para ser o seu candidato a prefeito da Capital. “Eu elejo até um poste”, disse-lhe Maluf (e realmente elegeu Pitta), mas não conseguiu convencer Waldemar que teria lhe dito, segundo Costa Neto: “Eu não vou me candidatar, porque eu nunca vi um pessoal para roubar, como esse da Prefeitura. Como são todos amigos seus, e eu terei da fazer uma ‘limpa’, tenho certeza de que o senhor não vai gostar”.
Líder do PL
Para exemplificar o desprendimento de Waldemar em relação à política, especialmente a partidária, Costa Neto contou que, certa vez, após ter sido eleito líder da bancada do PL na Câmara Federal, chegou todo animado para contar ao pai e cobrar para que ele, então filiado ao PDT, mudasse de partido. Waldemar lhe respondeu: “Mas Boy, eu estou no PDT do Olavo Câmara e não vai ficar bem eu trocar de legenda”. Olavo concordou e só então ele mudou de partido. “Meu pai nunca teve ambição política, além de ser prefeito de Mogi”, disse Costa Neto, lembrando que 90 dias após deixar a Prefeitura, ao final do quarto mandato, Waldemar morreu. “Ele perdeu a vontade de viver” – disse o filho.
Henrique Borenstein
O megaempresário Henrique Borenstein foi um dos nomes mais citados durante a sessão. Sentado no plenário, ao lado de amigos, ouviu Marco Bertaiolli lembrar que ele foi “o braço direito de Waldemar”, inclusive auxiliando financeiramente a Prefeitura em épocas de dificuldades para pagamentos de funcionários. E ressalvou: “Ele emprestava, mas Waldemar pagava, sem juros”, disse o deputado, brincando com a fama de “mão fechada” do empresário. Valdemar Costa Neto também lembrou o amigo de seu pai como alguém que a exemplo dele, “gosta muito de Mogi, onde é muito querido, mas não dá um tostão para nossas campanhas políticas”.
“Olha ele ali!”
Ao final da cerimônia foi mostrado o vídeo de uma entrevista concedida por Waldemar a estudantes de uma instituição de ensino local, relíquia em poder da RTV Filmes. No telão, o ex-prefeito dava lições de como administrar uma cidade com sucesso: não gastando dinheiro com shows de “gente de fora” e investindo pesado em água, esgoto, asfalto, e educação. Na imagem exposta no enorme telão da Câmara, eis que, a certa altura, Waldemar aponta para a frente e diz: “Olha o Henrique Borenstein ali!”. O empresário, é claro, estava chegando para acompanhar a entrevista no dia da gravação do programa e, por isso, foi saudado pelo entrevistado. A incrível coincidência arrancou risos de todos os presentes na Câmara, na noite de sexta-feira. Todos que puderam, durante os quatro minutos da gravação, matar saudades do estilo pessoal muito próprio de Waldemar Costa Filho.
Durante a sessão solene, todos pararam para assistir à entrevista do ex-prefeito; Uma verdadeira relíquia (Divulgação - Adriana Valente)
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com isso. Para mais informações leia a nossa termos de uso e política de privacidade .