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REPORTAGEM ESPECIAL

Mulheres vítimas de violência relatam drama e pedem mais serviços de apoio

Mogianas destacam a importância da denúncia de agressores e da rede de acolhimento na cidade

Carla Olivo
16/12/2022 às 14:27.
Atualizado em 18/12/2022 às 19:17

Vítimas de violência doméstica relatam drama, incentivam a denúncia de agressores e tentam refazer a vida (Foto: reprodução)

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Mulheres vítimas de violência relatam drama e pedem mais serviços de apoio

Mogianas destacam a importância da denúncia de agressores e da rede de acolhimento na cidade

Carla Olivo
16/12/2022 às 14:27.
Atualizado em 18/12/2022 às 19:17

Vítimas de violência doméstica relatam drama, incentivam a denúncia de agressores e tentam refazer a vida (Foto: reprodução)

Por mais de 20 anos, a dona de casa M.C.F., 47 anos, viveu um drama que apenas hoje, após cinco anos do divórcio, consegue falar sem medo de colocar sua vida e a dos filhos em risco. As marcas de agressão estão latentes na mente e a fazem chorar quando relembra as cenas que protagonizou por tanto tempo, na residência onde morava com a família.

Assim como ela, outras centenas de mulheres passam anualmente por serviços de atendimento a vítimas de violência doméstica em Mogi das Cruzes. Até outubro deste ano, 44 foram atendidas no plantão da ONG Recomeçar e outras 24 passaram pelo acolhimento (leia nas páginas a seguir).

A história da dona de casa é parecida com a de outras vítimas. Ela se casou com o primeiro namorado, ainda jovem, aos 18 anos. Deixou os estudos e o trabalho como tecelã para se dedicar exclusivamente aos cuidados com a casa e o primeiro filho, que chegou 1 ano após o casamento. Dois anos depois, nasceu a caçula. Foi aí que o marido passou a beber e as brigas começaram. “Eu apanhava quase todos os dias. Era raro o dia em que ele chegava do trabalho e não me batia. Qualquer coisa era motivo para violência. Aguentei para esperar meus filhos crescerem, mas logo que se tornaram adultos e cada um tinha sua profissão, criei coragem e pedi o divórcio. Foi minha libertação”, relata.

Apesar de ter passado tanto tempo no silêncio - ela conta que mais ninguém sabia das agressões, com exceção dos filhos que vivenciaram as cenas em casa -, o conselho para as vítimas de agressão é que façam a denúncia o quanto antes. “A gente sempre pensa que a pessoa vai mudar, que não será assim para sempre, que é uma fase, mas isso é ilusão. Depois do primeiro tapa, não tem jeito, vem o segundo. E daí para o pior. Eu deveria ter colocado um fim em tudo, mesmo não tendo para onde ir se saísse de casa, e assim evitaria que meus filhos também sofressem”, lamenta, destacando a necessidade de mais serviços de apoio às vítimas deste tipo de violência. “Não é fácil chegar sozinha em uma delegacia e contar tudo isso”, completa.

Assim também foi com a vendedora A.F.V., 28 anos, que passou os últimos oito anos em um relacionamento marcado por agressões, humilhações e muito sofrimento. “Eu nunca poderia imaginar que um dia estaria envolvida desta forma com alguém que pudesse me fazer tanto mal. Acho importante poder falar para ajudar pessoas que talvez estejam passando pela mesma situação e não conseguem sair disso. Demorei, mas graças a Deus, consegui ter minha vida de volta a tempo”, conta ela, que está separada do marido há apenas um mês, mas já vê uma expectativa diferente daquela de bem pouco tempo atrás.

Com uma filha de 3 anos, ela conta que começou a vivenciar cenas de violência logo nos primeiros meses de casada. “De repente, o namorado carinhoso e tranquilo começou a ter amigos diferentes no trabalho, a sair à noite e me deixar sozinha em casa e as brigas começaram. No início, eram só agressões verbais. Depois, passou a me bater e, em pouco tempo, já estava me espancando mesmo. Estava morrendo um pouco a cada dia. Até que tive coragem de quebrar o silêncio e denunciar. Foi minha libertação”, revela.

A ajuda partiu, primeiramente, das amigas mais próximas, que começaram a desconfiar do comportamento mais calado da vendedora. “Eu fui me fechando, porque não via solução. Queria continuar com ele, formar uma família. Achei que engravidando a situação mudaria, que quando nossa filha nascesse, ele voltaria a ser o que era nos tempos de namoro, mas foi só piorando. Minhas amigas perceberam minha angústia, consegui me abrir com elas e me ajudaram a buscar ajuda profissional. Agora, apenas com minha filha, é outra vida, mas ainda estou tentando me refazer”, desabafa.

Ela também aponta que ainda falta mais apoio às vítimas de agressão doméstica. “Geralmente, quem ajuda são os mais próximos, porque é constrangedor levar este assunto para desconhecidos. Porém, é necessário ter uma rede de atendimento mais completa, com psicólogo, advogado, para resolver a situação”, diz.

Alunos fazem vídeos contra a violência

CONSCIENTIZAÇÃO Estudantes de escolas estaduais de Mogi das Cruzes participaram de vídeos alertando para casos de violência doméstica (Foto: divulgação)

Estudantes de escolas da rede estadual de ensino de Mogi das Cruzes produziram uma série de vídeos sobre a Lei Maria da Penha (11.340), sancionada em 7 de agosto de 2006 e assim denominada em homenagem à luta de 20 anos da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de duas brutais tentativas de assassinato, com graves sequelas, até conseguir a condenação de seu agressor: o próprio marido. 

O material foi preparado para o concurso de vídeo “Quando a violência termina, a vida recomeça”, em alusão à frase da mulher que dá nome à legislação e se transformou em uma das principais lideranças de movimentos em defesa dos direitos das mulheres e vítima emblemática da violência doméstica.

(Foto: divulgação)

Da cidade, foram classificados trabalhos produzidos por alunos de 10 escolas estaduais: Professora Sueli Oliveira Silva Martins, Professor Sebastião de Castro, Prof. José Sanches Josende, Heraclides Batalha de Camargo, Leonor de Oliveira Melo, Reverendo Osmar Teixeira Serra, Benedito Borges Vieira, Dr. Deodato Wertheimer, Adelaide Maria de Barros e do Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Ceeja) Mogi das Cruzes.

Além de apresentar os vários tipos de violência existentes, como física, moral, sexual, psicóloga e patrimonial e econômica, os vídeos também destacam a importância das vítimas denunciarem seus agressores e alertam para as consequências provocadas pela violência doméstica contra mulheres, abrangendo toda a família, principalmente os filhos. 

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