Irregularidades são frequentemente observadas nesses espaços colocando a segurança em risco daqueles que circulam a pé na cidade
CENA COMUM - Veículos estacionados sobre calçadas das avenidas Francisco Ferreira Lopes prejudicam os pedestres, que são obrigados a andar nas vias (Crédito: Mariana Acioli)
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Irregularidades são frequentemente observadas nesses espaços colocando a segurança em risco daqueles que circulam a pé na cidade
CENA COMUM - Veículos estacionados sobre calçadas das avenidas Francisco Ferreira Lopes prejudicam os pedestres, que são obrigados a andar nas vias (Crédito: Mariana Acioli)
“É muito difícil encontrar uma calçada livre para a gente poder transitar. Gostaria que os motoristas pusessem a mão na ciência para perceber como nós, cadeirantes, passamos por dificuldades para nos locomover por aqui. Estou com a minha cadeira quebrada e sem condições de comprar uma nova. Andar por lugares despreparados para receber a cadeira acaba danificando ainda mais”, compartilhou Selma Gonçalves Bittencourt, de 57 anos, que sozinha se desloca com a cadeira de rodas e sente na pele a dificuldade diária da mobilidade em Mogi das Cruzes, especialmente na área central.
A mogiana detalhou a O Diário que, por diversas vezes, precisa transitar com a cadeira pelas ruas justamente pela quantidade de obstáculos, como veículos estacionados indevidamente nas calçadas, e a ausência de rampas.
Relatos como o de Selma evidenciam os desafios que um cadeirante enfrenta para se locomover nas calçadas de Mogi, problema que se estende também aos pedestres.
“Apesar de a gestão municipal possuir um Plano de Mobilidade, sinto que falta vontade política e engajamento da sociedade civil para transformar essas ideias em ações concretas”, pontua o arquiteto, urbanista, professor universitário e diretor do Colégio de Arquitetos, Paulo Pinhal.
CENA COMUM - Veículos estacionados sobre calçadas das rua Capitão Manoel Rudge prejudicam os pedestres, que são obrigados a andar nas vias (Crédito: Mariana Acioli)
Mesmo com a promessa de fiscalização nos pontos de estacionamento irregular em calçadas, a cidade mantém problemas que já perduram por décadas. As vias onde transitam os pedestres, em diversos pontos da cidade, apresentam muitas vezes um local exclusivo apenas para estacionamento de automóveis, e outras, uma estrutura já desgastada e quebrada de tanto uso.
Nesta semana, a reportagem deste jornal visitou os mesmos pontos registrados na última matéria, publicada no dia 24 deste mês - avenida Capitão Manoel Rudge (Parque Monte Líbano), ruas Coronel Souza Franco, Dr. Ricardo Vilela, Dr. Deodato Wertheimer (no centro), e avenida Francisco Ferreira Lopes (Braz Cubas). Foram observados os mesmos problemas, sem sinais de intervenções para regularização, deixando em dúvida se leis e fiscalizações são a solução suficiente para uma questão tão antiga em Mogi.
No centro comercial da Vila Oliveira, lojas com vagas de estacionamento ocupando a calçadas são comuns. A diferença está nos horários em que os lugares se encontram vagos, sem veículos obstruindo a passagem de quem circula a pé pelos locais.
Para a empreendedora Daniela Fernandes, o estacionamento em espaços que deveriam funcionar como calçadas acaba ocasionando um risco duplo, para o pedestre e para os motoristas
“Acho perigoso porque quando estamos passando na calçada e um carro vai sair, é capaz dele atingir a gente. Exige muita atenção tanto do pedestre quanto do motorista. Às vezes, o motorista nem consegue enxergar direito por estar em um ponto cego. Nem deveriam poder estacionar em frente aos comércios, porque isso prejudica, principalmente, os cadeirantes, que não conseguem acessar”, opinou a vendedora de bolos.
Já no centro da cidade, em ruas como a Coronel Souza Franco ou Ricardo Vilela, buracos, pisos irregulares e calçadas estreitas se somam aos problemas que os mogianos enfrentam quando visitam essa região a pé.
CENA COMUM - Veículos estacionados sobre calçadas das rua Capitão Manoel Rudge prejudicam os pedestres, que são obrigados a andar nas vias (Crédito Mariana Acioli)
Especialista
“Como morador desta cidade histórica, percebo que o espaço urbano não foi projetado levando em consideração o aumento do número de automóveis, o que acaba prejudicando a mobilidade dos pedestres”, completa o arquiteto Paulo Pinhal. Para o profissional, a acessibilidade no centro de Mogi chega a ser um assunto que causa muita preocupação.
“Ao caminhar pelo centro é comum encontrar postes, lixeiras e placas de sinalização ocupando o pouco espaço disponível nas calçadas, dificultando a locomoção de pessoas com deficiência, idosos, gestantes e até mesmo crianças. Isso sem mencionar a falta de conscientização por parte de alguns comerciantes, que insistem em estacionar os carros em frente às lojas, reduzindo ainda mais o espaço destinado aos pedestres”, descreve o urbanista.
Pinhal disse a O Diário que tem refletido sobre soluções para promover a acessibilidade urbana no centro da cidade. “Uma ideia que surgiu é a criação de uma faixa cidadão na rua, exclusiva para os pedestres, garantindo um espaço seguro e acessível para todos. No entanto, enfrenta resistência por parte de alguns comerciantes, que ainda priorizam o estacionamento de carros em detrimento da mobilidade de quem transita a pé”, detalha.
Dentre muitos temas discutidos no município, a melhoria no acesso ainda acaba sendo deixada de lado, segundo o arquiteto.
“Recentemente, participei de uma reunião na Associação Comercial, onde o tema dominante foi a “segurança” no centro da cidade. Embora seja um assunto importante, acredito que a acessibilidade deveria ser prioridade, uma vez que beneficia não apenas os pedestres, mas também os ciclistas e demais usuários do espaço público”, explica.
Acompanhando o trabalho do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, o ex-vereador Pedro Komura, Pinhal afirma ser positivo o levantamento de informações e reuniões que estão sendo realizadas para discutir soluções que melhorem os problemas no centro de Mogi. De acordo com ele, algumas ideias já foram aprovadas, mas as execuções não foram efetivamente implementadas.
“Acredito que a construção de uma cidade acessível em Mogi das Cruzes depende do esforço conjunto de todos os envolvidos, desde a gestão municipal até os cidadãos. É fundamental que os comerciantes compreendam que são os pedestres, e não os carros, que impulsionam o comércio. Além disso, é necessário promover um diálogo aberto e contínuo entre os diferentes grupos, a fim de encontrar soluções que atendam às necessidades de mobilidade de todos”, enfatiza Pinhal.
COMPLICADO - Em outro trecho da avenida Francisco Ferreira Lopes, em Braz Cubas, a calçada também permanece ocupada por veículos estacionados irregularmente, não sobrando espaço para o pedestre passar por lá (Crédito: Mariana Acioli)
Trazendo como solução um trabalho em conjunto, o especialista, que estuda a cidade, ainda afirma que assim Mogi poderá ser um município com melhor acesso a todos os cidadãos, sem exclusões.
“Precisamos unir forças e colocar em prática medidas que garantam a acessibilidade e a segurança no centro de Mogi das Cruzes. Somente com a participação ativa da sociedade civil, aliada à vontade política da gestão municipal, poderemos transformar nossa cidade em um lugar inclusivo, onde todos possam circular livremente e desfrutar dos espaços públicos”, finaliza.
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