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Morre o professor e ex-vereador de Mogi José Cardoso Pereira, o Cardosinho

Professor de história e ex-vereador de Mogi das Cruzes, José Cardoso Pereira, faleceu na tarde desta quinta-feira (14), em Mogi das Cruzes. Ele tinha 80 anos. O velório foi realizoado  no Velório Cristo Redentor e o enterro, às 16 horas, desta sexta-feira (15), no Cemitério São Salvador. Cardosinho, como era conhecido, tratava de um câncer […]

15 de julho de 2022

Reportagem de: O Diário

Professor de história e ex-vereador de Mogi das Cruzes, José Cardoso Pereira, faleceu na tarde desta quinta-feira (14), em Mogi das Cruzes. Ele tinha 80 anos. O velório foi realizoado  no Velório Cristo Redentor e o enterro, às 16 horas, desta sexta-feira (15), no Cemitério São Salvador. Cardosinho, como era conhecido, tratava de um câncer na medula.

A ligação deste mogiano com a política e a história começou no Grêmio Estudantil Ubaldo Pereira, do Instituto de Educação Dr. Washington Luis, quando ele perdeu amigos que foram mortos durante a ditatura militar. Ele foi vereador durante 12 anos. Era neto do ex-prefeito João Cardoso Pereira e filho do ex-vereador José de Lourdes Cardoso Pereira.

Amigos, políticos e alunos lamentaram o falecimento de Cardosinho nas redes sociais. Em novembro de 2016, a O Diário, o professor de história foi entrevistado na série Entrevistas de Domingo, quando falou sobre o movimento estudantil e o exílio de amigos de Mogi das Cruzes. “Meus amigos Kunio (Suzuki) e Toshio (Kawamura) foram exilados e o Antonio Benetazzo morreu torturado na prisão e, segundo consta, o Sérgio Roberto Corrêa faleceu quando estava no automóvel para participar da luta armada e uma bomba explodiu no veículo”, contou.

Na época da entrevista, o professor comentou a eleição do ex-presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, e previa um futuro perigoso: “A eleição do Trump gera preocupação, mas vamos ver o que isso vai ser na realidade. O perigoso é ele querer fazer o que prometeu na campanha. No discurso, logo após o anúncio de sua vitória, ele foi mais paz e amor, mas dá medo desta exaltação nacionalista que ele defende. Tomara que ele reveja e não faça o que falou que iria fazer no caso dos imigrantes, porque já vemos muito sofrimento deste pessoal que foge do governo”.

O professor era viúvo de Taís Helena Bastos Cardoso Pereira, teve três filhos, Tatiana, José Eduardo e Ana Carolina, netos e bisneta.

Leia a íntegra da entrevista com José Cardoso Pereira, o Cardosinho, concedida à jornalista Carla Olivo:

A ligação do mogiano José Cardoso Pereira com a política e a história vem desde os tempos do Grêmio Estudantil Ubaldo Pereira, do Instituto de Educação Dr. Washington Luís, onde viu colegas de classe exilados e mortos no período de ditadura militar. Neto do ex-prefeito João Cardoso Pereira e filho do ex-vereador José de Lourdes Cardoso Pereira, ele também teve atuação no Legislativo da Cidade por 12 anos, conciliando a vida pública à carreira no Magistério que está prestes a completar quatro décadas. Cardosinho, como é conhecido, estudou o primário no Grupo Escolar Coronel Almeida e aprovado no concorrido Exame de Admissão, ingressou no Ginásio do Estado, onde também fez três anos do Curso Clássico, concluído na Capital. Lá iniciou a Faculdade de Direito na Pontifícia Universidade Católica (PUC), mas quando estava no segundo ano, o pai ficou doente e ele precisou voltar a Mogi para substituí-lo na loja Belver, mantida em sociedade com o tio, Hyro Cardoso Pereira. Já casado, Cardosinho completou o curso superior na área de Estudos Sociais, na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), começou a lecionar em Sabaúna, onde ficou seis anos e, sem seguida, atuou nas escolas estaduais Profª Maria Rodrigues Gonçalves, no Rodeio, e na Dr. Deodato Wertheimer, na Vila Industrial – nesta última trabalhou por 20 anos. Já formado em História na PUC, deu aulas na Universidade Braz Cubas (UBC), de 1989 a 1998, onde também formou-se em Direito. Na entrevista a O Diário, Cardosinho, que aos 74 anos leciona no Instituto Dona Placidina, conta histórias vividas na Câmara Municipal e na sala de aula:

Quais as recordações da infância e juventude em Mogi?

Tive uma infância muito boa e tranquila na Cidade, fiz o primário no Grupo Escolar Coronel Almeida e meu pai era comerciante e sócio do meu tio na loja Belver, que inicialmente vendia roupas e eletrodomésticos na Avenida (Voluntário Fernando Pinheiro Franco), perto da Vila Hélio, onde hoje funciona uma loja de aluguel de vestidos de noiva, e depois passou a funcionar na Rua Dr. Deodato Wertheimer, já como Belverjos em homenagem a mim e aos irmãos João, que está com 75 anos, e Jonas, 72, e apenas com eletrodomésticos. A loja vendeu tantos aparelhos de televisão na época que ganhou uma viagem para assistir à Copa do Mundo de 1970, no México, e tive a oportunidade de assistir a todos os jogos do Brasil, inclusive a final, em que foi tricampeão do mundo. Mas não foi fácil conseguir viajar, porque havia sido detido em uma manifestação nos tempos em que estudei na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em São Paulo, no período do regime militar. Então, quando fui retirar o passaporte, não consegui. Só que, quem o expedia era o Clóvis Pavan, que era de Mogi e amigo do meu pai, que foi a Brasília conversar com ele. Em seguida chegou um telegrama liberando meu passaporte e, então, pude viajar.

Como foi sua participação nos movimentos estudantis na Cidade?

Depois do primário, fiz o Exame de Admissão para ingresso no Ginásio do Estado, e fui aprovado. Esta prova era rigorosa porque a escola era considerada uma das melhores do Estado. Tive excelentes professores, como Jair Batalha, de Geografia; Paulo e Luiz Koshiba, de História; Toninho, de Matemática; Maria Nair, de Português; Hugo Ramos, de Educação Física; Horácio da Silveira, Oscar Holme, Rodolpho Mehlmann, entre outros. Também toquei surdo na fanfarra da escola, que participava dos desfiles em comemoração ao aniversário da Cidade, em 1º de setembro e de concursos e eventos em várias cidades, como na inauguração do Estádio do Morumbi. Fiz o ginasial e os dois primeiros anos do Clássico aqui, mas conclui o curso em São Paulo.

Por quê?

Porque eu tinha grande envolvimento com o Grupo Estudantil Ubaldo Pereira, do qual fui secretário, diretor e presidente, e meu pai temia que acontecesse algo comigo. Meus amigos Kunio (Suzuki) e Toshio (Kawamura) foram exilados e o Antonio Benetazzo morreu torturado na prisão e, segundo consta, o Sérgio Roberto Corrêa faleceu quando estava no automóvel para participar da luta armada e uma bomba explodiu no veículo. Mas apesar de ter ido estudar na Capital, a amizade com o pessoal de Mogi continuou, sempre nos encontrávamos e ainda hoje nos reunimos uma vez por ano, no restaurante Caipirado, em Mogi.

Quando teve início seu envolvimento com o teatro?

Nos anos 50, o Brasil vivia uma intensa produção cultural, com o surgimento da bossa-nova, filmes nacionais e do teatro novo. Nós começamos a nos reunir para ir ao teatro e assistindo ao espetáculo “Arena Conta Zumbi”, que contava a história de luta de Zumbi pela liberdade, surgiu a ideia de criar o TEM (Teatro Experimental Mogiano), do qual fui um dos fundadores ao lado de um grupo de amigos. Eu não era ator, mas participava do grupo como diretor e também fui secretário. O primeiro espetáculo foi apresentado no Instituto Dona Placidina, onde há 8 anos leciono História para as turmas de Ensino Médio. No ano passado, tivemos uma ampla programação em comemoração ao aniversário de 50 anos do grupo, reunindo amigos da época, como Milton Feliciano, Telma e Nelson Muniz, Pedro Nunes, o Dico, Eládia Morales, Amair Campos Padgurshi, entre outros. Boa parte dos ensaios para o espetáculo encenado em 2015 aconteceu no meu apartamento, no Edifício Isidoro Boucault, no Shangai. Também tivemos atividades em Bertioga e no Parque Centenário.

O senhor também teve participação nos esportes?

Sempre gostei muito de esportes, acompanhava os jogos do União e Vila Santista, torcendo pelo União, que eram marcados pela grande rivalidade entre os torcedores, fui conselheiro do União e diretor do Madureira de Várzea, do Mogilar. Sou sócio torcedor do São Paulo, já fui muito a estádios e tenho orgulho de ter tocado com a fanfarra do Washington Luís na inauguração do Morumbi. Guardo uma reportagem de 1959, com foto da fanfarra, publicada no jornal Gazeta Esportiva.

E depois dos tempos de Washinton Luís?

Conclui o curso Clássico em São Paulo e fiz dois anos de Direito na PUC. Nesta época, morava em uma pensão, na Capital, mas como meu pai ficou doente, voltei a Mogi para  substituí-lo na loja, que fechou em 1976. Depois, já casado, me formei em Estudos Sociais na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e comecei a lecionar. A primeira escola em que trabalhei foi em Sabaúna, inicialmente como orientador do Centro Cívico e depois dando aulas de Educação Moral e Cívica, Estudos Sociais e OSPB (Organização Social e Política do Brasil). Foram seis anos lá e depois vim para a Escola Estadual 
Professora Maria Rodrigues Gonçalves, no Rodeio, fiz concurso e fui efetivado na Dr. Deodato Wertheimer, na Vila Industrial, onde fiquei 20 anos e fiz amigos como o professor Santana, que hoje também trabalha no Placidina, dando aulas de Geografia. Houve uma época em que dava aulas, era vereador e fazia o curso de História na PUC, em São Paulo. Em 1989, comecei a lecionar na Universidade Braz Cubas (UBC), de onde saí em 1998, quando o curso de História foi extinto. Lá, trabalhei com os amigos Ivone Marques Dias, Ângelo Nanni e Olavo Ferreira, e me formei em Direito.

Após a aposentadoria, o senhor continuou lecionando?

Não queria deixar a sala de aula porque gosto muito deste contato com os alunos, que sempre têm ideias novas e nos proporcionam conversas diferentes. Esta convivência é muito enriquecedora então, quando fui convidado, há 8 anos, para lecionar História no Placidina, aceitei e estou lá até agora.

Há quase 40 anos no Magistério, qual a avaliação que o senhor faz da educação hoje?

O Placidina trabalha muito os valores e a vejo como uma escola diferenciada e que, por conta disso, cresce a cada ano. Lá, não enfrentamos os problemas que a maioria dos professores tem na rede estadual, onde o Governo do Estado não cumpriu o seu dever de oferecer ensino de qualidade aos alunos. Os professores estão há 2 anos sem reajuste salarial e os alunos parecem não ter comprometimento com os estudos.

Qual sua opinião sobre as mudanças propostas para o Ensino Médio?

Estou preocupado porque vejo que nem mesmo o Governo sabe direito o que seria esta mudança. Pelo que vi, Português e Matemática seriam prioritárias e os alunos poderiam optar pelas demais disciplinas das áreas de Exatas e Humanas. E saiu a conversa de que algumas seriam eliminadas, como Educação Física e Artes, mas não acho que elas deveriam ser excluídas. Normalmente, o aluno que gosta de Exatas, não gosta de Humanas e vice-versa, mas considero que todo conhecimento é importante.

Por que o senhor ingressou na política?

Gosto de política e a tenho correndo na veia. Meu avô João Cardoso Pereira foi prefeito de Mogi de 1935 a 1937, na época do ex-presidente Getúlio Vargas, e inaugurou o obelisco marco zero em frente à Matriz (Catedral de Santana). Ele era bem rígido e nós os respeitávamos e beijávamos sua mão. Meu pai José de Lourdes Cardoso Pereira também foi vereador, além de comerciante, onde contava com a ajuda da minha mãe, Maria Angélica Cardoso Pereira. Sempre gostei da política e de acompanhá-la. Em 1976, sai candidato a vereador, fui eleito, assumi em 1977 e fiquei na Câmara até 1988, porque no tempo da ditadura militar, o governo mudava a lei de acordo com seus interesses, e foram dois mandatos de seis anos cada um. Neste tempo havia dois partidos: o MDB, criado pela Ditadura, pelo qual saí candidato e que depois passou para PMDB; e o Arena, que elegeu o Waldemar (Costa Filho) a prefeito.

Como era a convivência com o ex-prefeito Waldemar?

Ele era amigo do meu pai, por isso, sempre tive bom relacionamento com ele e não posso criticá-lo. Mas lembro que em época de eleição, não adiantava pedir algo para ele que nem atendia. Isso era próprio dele.

Na Câmara, o senhor teve envolvimento em quais projetos?

Fiz parte do grupo que conseguiu melhorias para a Estrada Mogi-Salesópolis-Pitas, ao lado do Marcos Gonçalves e do Norberto Engelender, o Mangueira, e como era o único vereador com envolvimento nos movimentos estudantis durante a ditadura militar, fiz o lançamento da campanha pela anistia em Mogi. Também tive vários trabalhos ligados ao Botujuru, César de Souza e Vila Rachel. Neste último, conseguimos intermediar o asfaltamento do bairro, já no governo do Machado (Antônio Carlos Machado Teixeira, ex-prefeito), com a colaboração dos moradores. Depois, em 2008, saí candidato e tive 1,6 mil votos. Quatro anos depois, a votação caiu para mil e poucos votos e fiquei como segundo suplente e, em 2014,liberparticipei de algumas sessões. Neste ano, não participei da disputa, porque a concorrência é muito grande, mas a experiência na Câmara é muito importante, principalmente porque o vereador tem a missão de fiscalizar o prefeito, intermediar o contato da população com ele, fazer as leis e discutir os projetos enviados pelo prefeito. Então, tem que conhecer as leis para poder aprová-las.

Como o senhor avalia o resultado das eleições nos EUA?

A eleição do Trump gera preocupação, mas vamos ver o que isso vai ser na realidade. O perigoso é ele querer fazer o que prometeu na campanha. No discurso, logo após o anúncio de sua vitória, ele foi mais paz e amor, mas dá medo desta exaltação nacionalista que ele defende. Tomara que ele reveja e não faça o que falou que iria fazer no caso dos imigrantes, porque já vemos muito sofrimento deste pessoal que foge do governo.

E o futuro do Brasil?

Vivemos um momento complicado no Brasil e vamos precisar passar todo o governo do Michel Temer para ver se haverá um norte, um caminho, para sair desta crise. A queda do PT vai exercer grande influência. Conheci o Zé Dirceu na PUC e levei um choque quando soube que ele estava na Lava Jato. Onde ficou aquele idealismo todo? Muitos morreram acreditando em um país melhor e mais justo, sem tantas diferenças sociais e de classe. Lutamos tanto para acabar com a ditadura militar e estamos nesta situação agora. O PT leva a culpa de tudo, mas o mais envolvido de todos os partidos é o PP.

O senhor imaginava este crescimento de Mogi?

A instalação das universidades trouxe muita gente para cá, que acabou ficando em Mogi mesmo após a formatura. Foi a partir daí que a Cidade começou a mudar muito. Nos últimos 15 anos, também tivemos um crescimento significativo, com várias obras, mas sempre vamos ter o que fazer porque quanto mais o Município cresce, mais demandas aparecem. Porém, é preciso destacar a cnstrução do Centro Cultural, a Pinacoteca, a ampliação da Rua Olegário Paiva, a passagem subterrânea da região da Praça Sacadura Cabral, os projetos musicais como Canarinhos do Itapeti e Orquestra Sinfônica, o Estúdio Municipal de Áudio e Música, entre outros, que enaltecem Mogi.

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