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Morre, aos 69 anos, o diácono Geraldão, da igreja de Braz Cubas

Nesta quarta-feira (15), foi confirmada a morte de Geraldo Tomaz Augusto, o Geraldão, diácono da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, onde também acontece o velório. Ele tratava um tumor na região do intestino e na última segunda-feira (13) foi internado no Hospital Luzia de […]

15 de fevereiro de 2023

Reportagem de: O Diário

Nesta quarta-feira (15), foi confirmada a morte de Geraldo Tomaz Augusto, o Geraldão, diácono da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, onde também acontece o velório. Ele tratava um tumor na região do intestino e na última segunda-feira (13) foi internado no Hospital Luzia de Pinho Melo.

Na manhã desta quarta, a igreja de Braz Cubas emitiu uma nota de falecimento. “É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento do nosso querido diácono Geraldo Tomaz Augusto. Nos unimos em oração pelo seu descanso eterno, pelo conforto dos familiares, do nosso bispo e clero diocesano”, diz o texto.

Ele foi uma das atuantes lideranças religiosas e comunitárias da região de Braz Cubas e chegou a ocupar uma das cadeiras na Câmara Municipal.

Na igreja católica, o mineiro que trabalhou como feirante, pedreiro e outros ofícios se destacou pela defesa e divulgação de pastorais ligadas a temas afros.

Em 2020 foi ordenado diácono permanente pelo bispo diocesano, dom Pedro Luiz Stringhini (veja aqui).

O sepultamento será realizado no Cemitério da Saudade, em horário ainda a ser definido.

Veja a entrevista que Geraldo Tomaz Augusto, o Geraldão, concedeu em janeiro de 2017 para a jornalista Carla Olivo, quando ainda não era diácono:

De lavrador, ajudante de pedreiro, vendedor ambulante, feirante, operário, educador, vereador, advogado a parapsicólogo. esta é a trajetória do mineiro Geraldo Tomaz Augusto, o Geraldão, que nascido na fazenda onde os pais eram colonos, em Presidente Bernardes (Minas Gerais), passou a infância e adolescência em sua terra natal, estudou até a quarta série primária e sonhava em ser padre.

Até que, aos 15 anos, foi trazido pelo irmão mais velho, que já morava em Mogi das Cruzes e trabalhava na antiga Valmet – hoje Valtra – em busca de oportunidade de emprego na cidade. Ajudou o tio que era pedreiro e a tia feirante, em Arthur Alvim, até que em 1966 conseguiu vaga como aprendiz na Valmet. Passou pela cerâmica Adachi, pela servix engenharia – na capital -, e por 15 anos atuou na companhia siderúrgica de mogi das cruzes (cosim). Aos 30 anos, fez o supletivo no colégio Acadêmico e contabilidade na escola estadual Galdino Pinheiro Franco.

Em 1982, se envolveu na política mogiana e, em 1988, se candidatou a vereador pela primeira vez, mas não foi eleito. Após sucessivas campanhas, entrou para o legislativo em 2008 e, atualmente, é segundo suplente. no currículo, traz ainda o trabalho como educador na antiga Febem, hoje Fundação casa, em são Paulo. na entrevista a o diário, Geraldão, que tem forte atuação na comunidade católica, principalmente nas pastorais afro, relembra suas histórias na cidade:

Quais as lembranças da infância em Minas Gerais?

Nasci na Fazenda Cachoeirinha, na cidade que se chamava Calambau e, neste ano, passou a ser denominada Presidente Bernardes, em Minas Gerais. Meus pais (Raimundo Glicério Augusto e Maria da Boa Morte Augusto), hoje já falecidos, eram colonos, plantavam milho, arroz e feijão e dividiam a colheita com os patrões. Passei a infância subindo nas árvores frutíferas, pescando nos rios da região e caçando animais. Aos 7 anos, já comecei a ajudar meu pai na roça, assim como meus outros irmãos. Somos em 10 filhos (José, Maria, Francisca, Antonio, Nilza, Geraldo, Conceição, Luiz, Lourdes e Cleusa) e meu pai também criou meu sobrinho, Ricardo. A família sempre foi muito unida, não passamos dificuldades porque plantávamos e na fazenda havia frutas à vontade. A única dificuldade era para estudar.

Onde o senhor estudou?

Fui alfabetizado em uma escola da zona rural, na fazenda do filho do patrão dos meus pais, que era equivalente à pré-escola. Aos 7 anos, eu e um grupo de crianças fomos para uma escola a 12 quilômetros da fazenda. Íamos a pé, em estrada de terra e saíamos às 4 horas para a aula que começava às 7 horas. Foi assim até a quarta série, depois não havia mais continuidade de estudos lá e era preciso ir para outra cidade. Na mentalidade dos colonos, para capinar não era preciso estudar, mas meu pai pensava diferente e sempre incentivou os filhos nos estudos. Só que todos iam para a escola e na volta ajudavam na roça. Minhas tarefas eram trocar milho por fubá, já que não tínhamos moinho, e ajudar a fazer rapadura, que era usada no lugar do açúcar.

Por que a vinda para Mogi das Cruzes?

Meus irmãos mais velhos saíram de casa antes do que eu. Eu sonhava em ser padre e, todos os anos, o bispo dom José Nicomedes Grossi, de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, que havia me batizado, ia a Presidente Bernardes buscar os garotos de 14 anos para levar ao seminário. Fiquei esperando, mas naquele ano e no ano seguinte, quando eu tinha idade para isso, ele não apareceu. Como estava com 15 anos e meu irmão mais velho, José, já morava em Mogi e trabalhava na Valmet (Valtra), me trouxe para cá.

Como era a Cidade?

Fazia muito frio em Mogi, havia uma garoa constante e neblina todos os dias pela manhã e à noite. Eu nem tinha roupa suficiente para aguentar a temperatura tão baixa porque em Presidente Bernardes fazia muito calor. Fiquei morando com ele na Vila Lavínia, em Braz Cubas, onde as ruas eram todas de terra e não havia ônibus para a maioria dos locais da Cidade. Depois, fui para o Jardim Universo e lembro que o ônibus chegava só até a antiga fábrica da Staroup, depois era preciso fazer o restante do trajeto a pé. Como sempre fui católico, logo comecei a frequentar a Igreja Nossa Senhora Aparecida e São Roque, quando o padre de lá era o Joaquim Casado.

Qual foi o primeiro emprego?

Meu tio morava em Arthur Alvim e eu trabalhava com ele como ajudante de pedreiro de segunda a sábado e, aos domingos, saía de Braz Cubas com minha tia levando cestos de verduras na cabeça para vender na feira de Arthur Alvim. E ainda mandava dinheiro para ajudar meus pais em Minas. Meu irmão conseguiu vaga de aprendiz para mim na Valtra, em 1966. Mas tinha um temperamento diferente e não aceitava provocações. Vivia brigando com o pessoal do trabalho e uma vez cheguei a brigar dentro da fábrica e me aconselharam a pedir demissão. Fui para a Cerâmica Adachi, no Jardim Santos Dumont, e neste período fiz o Tiro de Guerra em Mogi.

E depois?

Nesta época me casei e o salário era pouco, então, fui para São Paulo trabalhar como auxiliar de topografia na Servix Engenharia, mas após nove meses o serviço acabou e vim para a Cosim (Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes), na Vila Industrial, onde entrei como balanceiro e era responsável pela pesagem dos produtos que a fábrica comprava e vendia. Fiquei 10 anos na mesma função, comecei a perceber que a economia do País não estava bem e que teria dificuldades para encontrar outro emprego por causa da idade, então era preciso ter conhecimento em alguma área que pudesse trabalhar por conta própria. E isso me motivou a voltar a estudar. Aos 30 anos, fiz o supletivo, conclui até a oitava série no Colégio Acadêmico, e a diretoria da Cosim, vendo meu esforço, me promoveu para encarregado do setor de custos. Fui estudar na escola Galdino Pinheiro Franco, onde fiz o colegial na área de Contabilidade. Aquela percepção de que a economia do País não ia bem se concretizou e a Cosim entrou em decadência em 1988, com demissão em massa.

Quando teve início seu envolvimento com a política?

Cresci vendo a manifestação política do meu pai pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que era de esquerda e fazia oposição ao Arena (Aliança Renovadora Nacional). Nas fazendas havia muita injustiça. Os colonos que votavam contra a posição dos patrões eram demitidos, tinham as casas destelhadas e eram colocados para fora à força. Como vivenciava esta revolta social, quando cheguei a Mogi, acompanhava os discursos de campanha do seu Waldemar (Costa Filho), dos Lopes e de políticos, na antiga rodoviária (Praça Firmina Santana). Em 1982, me envolvi pela primeira vez nas eleições de Mogi, ajudando o Junji (Abe), que era candidato a prefeito na chapa com o Chico (Francisco Ribeiro Nogueira) e outro que não me recordo. Na outra chapa tinha o Machado (Antônio Carlos Machado Teixeira) e mais dois. O voto era vinculado e como o Franco Montoro estourou, o Machado venceu. Em 1986, me aproximei do Chico e não mais me desvinculei dele, até que ele morreu, em 1994. Em 1988, ele me lançou candidato a vereador, não me elegi e foram 20 anos até conseguir entrar na Câmara.

Nestes 20 anos na disputa por uma vaga no legislativo, o senhor teve outras atividades?

Em 1989, o Chico Nogueira me indicou e comecei como educador na Febem, hoje Fundação Casa, em São Paulo. Este trabalho com os menores foi uma experiência enriquecedora. Nos 10 anos que fiquei lá, nunca vi uma rebelião e sempre tive bom relacionamento com os detentos e outros funcionários. O salário era bom e, além de conseguir manter a família, fiz a Faculdade de Direito na UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), onde me formei em 1993, no ano seguinte passei no Exame da Ordem (OAB – Ordem dos Advogados do Brasil) e, em 1995, montei o escritório e comecei a advogar nas áreas trabalhista, civil e de família, principalmente em ações de usucapião, inventários, adoção e divórcios.

O que ficou da experiência na Câmara?

Em 2008 fui o segundo mais votado e cumpri o mandato de quatro anos, mas na eleição seguinte, fiquei como primeiro suplente e, no ano passado, como segundo. Só quando você entra na Câmara é que vê que as coisas não são como você pensa. Os projetos, sonhos e propostas dependem da conjuntura política e econômica e há muita dificuldade para concretizar isso. Mas como entrei com uma proposta forte envolvendo a questão social, trabalhei na conscientização do poder público sobre a necessidade de maior atenção à anemia falciforme, já que a maioria das pessoas precisava ir a São Paulo. Busquei apoio com os médicos Leila Manfredini e Paulo Villas Boas de Carvalho, que me ajudaram no entendimento da doença e fiz o projeto que foi aprovado para criação da Semana de Conscientização da Anemia Falciforme em Mogi. A partir daí, começaram as ações de saúde pública com campanhas para orientação, diagnóstico e tratamento da doença.

Como foi o relacionamento com o ex-prefeito Waldemar Costa Filho?

Ele foi uma figura que ficou marcada na Cidade por tudo o que fez em Mogi e pela personalidade forte. Meu relacionamento com ele começou com seu filho, o Boy (Valdemar Costa Neto), que era diretor da Codemo (Companhia de Desenvolvimento de Mogi das Cruzes) na época em que eu atuava como voluntário nas escolas, como diretor de Associações de Pais e Mestres (APMs) e militante nas Comunidades Eclesiais de Base das igrejas do Jardim Universo, Vila Cintra e Braz Cubas.Fazíamos reuniões e levava abaixo-assinados para o Boy, que era o canal para resolver as pendências, principalmente relacionadas à pavimentação. Como o Boy passou a gostar de mim, o Waldemar também me abriu as portas, atendendo aos pedidos. Chegou a me convidar para trabalhar com ele na Prefeitura, mas na minha visão, se fizesse isso, não alcançaria o objetivo de ser vereador.

Ficaram histórias desta convivência?

Quando era diretor da escola Helena Urbano Nagib, na Vila Cintra, era necessário cobrir a quadra de esportes, fazer muro e calçada na rua. Convidei o Waldemar para uma reunião e no horário marcado fui com meu Fusca na Prefeitura para encontrar com ele. Pensei que deixaria meu carro lá e iríamos com o dele. Mas ele entrou no Fusca e quando já estávamos no meio do caminho, abriu a pasta preta que levava no colo e vi um revólver 38 lá dentro. Levei um susto, mas não perguntei nada. Ele foi à reunião sem assessores, anotou os pedidos de todos e os atendeu. Ele tinha controle de tudo, trazia todas as informações na cabeça e fez muito pela Cidade.

Hoje, como é seu relacionamento com o ex-deputado Costa Neto?

Sempre ajudei nas eleições dele para deputado federal e fui várias vezes a Brasília quando ele estava lá. E apesar de tudo o que aconteceu, ele continuou ajudando Mogi e, se não tivesse saído de lá, a Cidade tinha evoluído ainda mais.

Como o senhor analisa a atual crise política?

A crise brasileira é política e tenho uma visão mais científica da crise econômica, porque acho que o dinheiro não diminui e sim muda de mãos. Culturalmente, o Brasil traz a corrupção na veia e desde o descobrimento já se falava do desvio de bens públicos. Com o tempo, isso cresceu, temos muita sonegação de impostos e irregularidades. A Lava Jato foi um mal necessário, porque a casa tinha que cair para que o País pudesse se levantar. E esta conscientização da população vai favorecer isso, com uma perspectiva boa de retomada do crescimento e valorização do Brasil. Saí do País duas vezes, fui para a Itália e Israel e cheguei à conclusão que vivemos em uma terra abençoada, mas que precisa ser mais amada pelo povo.

O senhor teve envolvimento em outras atividades?

Participei das reuniões para criação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que agora precisa implantar o Fundo Municipal para receber doações dos interessados em colaborar com a política afro. E na própria Igreja Católica havia rejeição ao trabalho da Pastoral Afro Descendente, hoje com portas abertas em várias paróquias, que inclusive me convidam para cantar nas missas afros, como acontece na Igreja Imaculado Coração de Maria, no Jardim Universo, onde canto nestas celebrações e também nas tradicionais, aos domingos.

Cantar é uma distração?

Sempre gostei de cantar e durante 20 anos formei dupla sertaneja com meu irmão Antônio, na banda Nova Geração, que fazia apresentações beneficentes em festas religiosas de Mogi e outras cidades. Também fiz parte do Coral Harmonia em Canto e pretendo voltar a cantar lá. Toco violão, percussão, pandeiro e atabaque e faço composições de músicas religiosas. Tenho bastante envolvimento na Igreja e daqui a alguns anos vou conseguir realizar parte do sonho de ser padre, me tornando diácono. No próximo dia 6 de fevereiro, por orientação do bispo dom Pedro (Luiz Stringhini), iniciarei o curso de Teologia e a Escola Diaconal na Faculdade Paulo VI e, daqui a quatro anos, serei diácono. Outro sonho que será realizado é o segundo casamento na igreja, já marcado para julho, na Imaculado Coração de Maria. Isso só foi possível graças às mudanças feitas pelo Papa Francisco, que permitiu a nulidade matrimonial. Sou divorciado desde 1995 e em 1999 me casei no civil com minha segunda mulher, mas até então, não podíamos nos casar na igreja.

E o envolvimento com a parapsicologia?

O sonho frustrado de ser padre, os 20 anos de espera para ser eleito vereador, o divórcio, enfim, tudo o que aconteceu me levou a um processo depressivo que eu não deixava transparecer às pessoas. Até que um amigo que se curou do alcoolismo com a parapsicologia, me incentivou a fazer este curso no Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico (Ipappi). Perdi as eleições em 2012, no ano seguinte me matriculei e o núcleo mais próximo era em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Só que como houve muitos inscritos de São Paulo, foi montado um núcleo em Guararema, onde fiz as aulas. Na terceira delas, entendi que a depressão não é uma doença, mas sim um potencial. Foram três anos de curso que me ajudaram a analisar os traumas e resolvê-los. Hoje ainda atuo na advocacia, mas o escritório também funciona como consultório, onde faço atendimentos em parapsicologia. Levo palestras a igrejas e ONGs sobre o assunto e trabalho a harmonização do corpo humano nas empresas, porque quando a pessoa está feliz, já produz bem por natureza.

Qual sua avaliação sobre a Mogi das Cruzes atual?

Quando cheguei aqui, naquela cidade pequena e fria, jamais poderia imaginar este crescimento todo. Mogi virou uma potência e evoluiu muito em todas as áreas.

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