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SILÊNCIO NO DIAL

Morre Antonio Alexandre, uma das grandes vozes do rádio paulista

Radialista que faleceu na madrugada deste domingo (8), foi uma das vozes-padrão das rádios Jovem Pan, de São Paulo, e Transcontinental FM, de Mogi das Cruzes

Darwin Valente e Carla Olivo
08/01/2023 às 11:44.
Atualizado em 08/01/2023 às 12:24

Capota morreu, aos 84 anos, de complicações provocadas por um problema na próstata que atingiu os rins e o pulmão. (Reprodução)

Uma das vozes mais potentes e marcantes do rádio paulista calou-se para sempre na madrugada deste domingo (8). Antonio Francisco Alexandre, o Capota, locutor que marcou época como apresentador do Jornal da Manhã, nos bons tempos da Rádio Jovem Pan, e que nos últimos anos podia ser ouvido na Transcontinental FM de Mogi das Cruzes, morreu, aos 84 anos, por volta das 2h30, de complicações provocadas por um problema na próstata que atingiu os rins e o pulmão.

Segundo Antonio Alexandre Júnior, o Tombinho, que também é radialista por influência do pai, Capota teve o seu estado de saúde agravado nas últimas três semanas. Ao procurar a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), do bairro do Rodeio, ele já chegou com um dos pulmões comprometidos e seu estado de saúde agravou-se de forma tão rápida que nem houve tempo para que ele fosse conduzido para o Hospital Ipiranga, em Mogi, ou para o Hospital do Servidor, em São Paulo, destinos escolhidos pela família.

“Mesmo sendo muito bem atendido na UPA, ele faleceu nesta madrugada”, contou Alexandre Júnior.

O radialista deixa a esposa Maria e as filhas Mariane, Rosane e Cristiane, além do filho e quatro netos. Ele também era irmão do humorista Nelson Tatá Alexandre, que fez muito sucesso no “Domingão do Faustão”, na Rede Globo.

O corpo de Antonio Alexandre será velado a partir das 13 horas, no Velório Parque das Oliveiras e  seu sepultamento deverá acontecer às 16h30 deste domingo, no Cemitério São Salvador, em Mogi, em horário ainda a ser divulgado pelos familiares.

Carreira

Dono de uma das vozes mais bonitas do rádio de São Paulo, Antonio Alexandre, nascido em Araçatuba, interior de São Paulo, veio com a família, ainda criança, para Mogi das Cruzes, onde iniciou uma carreira de sucesso como locutor e apresentador da antiga Rádio Marabá, que depois tornou-se Rádio Diário de Mogi, e hoje se chama Rádio da Cidade, pertencente ao grupo do empresário Paulo Abreu.

De Mogi, ele logo alçou vôo em direção às grandes emissoras da época, na Capital, e foi trabalhar na Rádio Record, de onde saiu para a Rádio Jovem Pan, onde permaneceu durante 38 anos. Nesse período tornou-se conhecido como uma das vozes-padrão do noticiário da emissora. Era um dos apresentadores do Jornal da Manhã, carro-chefe da programação da rádio, onde foi criado o bordão que sobrevive até os dias de hoje: o já tradicional “Repita!”, toda vez que um dos locutores informava a hora, durante o jornal.

Durante o tempo em que viveu em São Paulo, Antonio Alexandre também emprestou sua voz para a gravação de comerciais para grandes agências de publicidade. O mais famoso de todos, sem dúvida, lembrado até hoje por muita gente, foi o comercial das Lojas Mappin, conhecida rede varejista da Capital.

Foi na época da Jovem Pan que ele ganhou o apelido que o acompanharia para o resto da vida. Por conta da calvície acentuada, os colegas passaram a chamá-lo de Capota de Fusca, que acabou sendo abreviado para Capota.

Depois da Pan, seu destino foi a Transcontinental FM de Mogi das Cruzes, do amigo Cid Jardim, onde permaneceu até seus últimos dias. Foram  28 anos, segundo o filho Antonio Alexandre Júnior, o qual, influenciado pelo pai, também se tornou radialista e atualmente apresenta o programa “Bom Dia Trans”, na mesma Transcontinental, entre as 6 e 9 horas, todas as manhãs.Também por influência direta do codinome de seu pai, ele acabou ganhando o apelido de Tombinho.

Mesmo enfrentando a idade avançada, Capota, que passou a residir no Jardim Aracy, desde que voltou para Mogi, ainda comparecia aos estúdios da emissora, onde gravava comerciais e chamadas de programas.

Amante do rádio e já aposentado, ele sempre ouvia as emissoras atuais, enquanto gastava parte do tempo mexendo com algumas plantas que cultivava no amplo terreno de sua casa, no bairro situado aos pés da Serra do Itapeti. Passou também a cuidar de cães abandonados que encontrava nas ruas, levava para o veterinário e depois levava para o amplo terreno de sua residência.

“Ele se foi, mas deixou muita coisa, um verdadeiro legado, principalmente em termos profissionais. Por conta dele é que eu acabei no rádio”, conta Tombinho, o filho de Capota.

Entrevista de domingo

 Na edição do dia 26 de outubro de 2003 do jornal O Diário, Antonio Alexandre foi o entrevistado da jornalista Carla Olivo, para a série “Entrevistas de Domingo”. E, então, contou detalhes de sua vida, em especial da carreira de radialista.

Acompanhe a entrevista abaixo:

"Foi em uma brincadeira que Antonio Francisco Alexandre, o Capota, descobriu, aos 7 anos, a paixão que já o acompanha há quatro décadas: o rádio. Em Araçatuba, sua cidade natal, enquanto brincava de circo com os colegas, ele exercitava a voz e aprendeu a cantar. Logo se inscreveu em um concurso do programa infantil da Rádio Cultura de Araçatuba e conquistou o primeiro lugar. Foi o pontapé inicial para uma carreira dedicada aos microfones, que passou pelas rádios Difusora de Regente Feijó, Marabá - que depois passou a se chamar Diário, em Mogi das Cruzes -, Record, Panamericana – mais tarde batizada como Jovem Pan -, São Paulo, Mulher e também pela TV Record. Radialista há 41 anos, Antonio Alexandre, o Capota, como é conhecido, desde 1996 trabalha na Transcontinental, na Cidade, onde apresenta o programa "Domingo MPB Especial", que vai ao ar das 20 horas à meia-noite. Em sua carreira, conquistou importantes marcas: foi o primeiro a colocar um ouvinte no ar pelo telefone, é o autor do jargão "Repita", dito depois do anúncio da hora certa e contabilizou 34 anos de trabalho com a família Carvalho, proprietária do grupo Emissoras Reunidas. Em tantos anos de dedicação ao rádio, teve oportunidade de conhecer suas principais histórias, personagens e conquistas. Casado há 40 anos com Maria dos Santos, ele é pai de Antonio Alexandre Júnior (Tombinho), Mariane, Rosane e Cristiane, e avô de Thiago, Henrique e Sabrina. Em entrevista a O Diário, Antonio Alexandre relembra fatos pitorescos de sua carreira e conta histórias vividas em emissoras de Mogi e São Paulo. 

O Diário - Como nasceu a paixão pelo rádio?

Antonio Alexandre, o Capota - Em Araçatuba havia o programa infantil da Rádio Cultura e na época, com 7 anos, brincava de circo com meus colegas e lembro que cobrávamos seis palitos de fósforo como entrada. Eu cantava e foi aí que me inscrevi em um concurso da rádio, no qual acabei conquistando o primeiro lugar. O animador da emissora era o Fiori Gilliote, um grande locutor e que já era famoso no rádio brasileiro. Continuei cantando, me apaixonei e também fui cantor mirim da Rádio Difusora de Regente Feijó. Vivia tanto lá dentro que consegui o emprego de discotecário, mas foi exatamente por causa desta minha admiração pela rádio que meu pai me mandou para estudar em Mogi. 

O Diário - Foi assim que o senhor chegou aqui?

Capota - Meu pai não concordava com meu trabalho na rádio porque achava que deveria me dedicar aos estudos. Na época, ele pensava que esse não era um serviço sério, mas lembro que o radialista Almirante já dizia que rádio é divertimento só para quem ouve, mas significa um trabalho como qualquer outro para quem é empregado, tanto que criei meus filhos e garanti seus estudos com meu salário nas emissoras nas quais trabalhei. Bem, naquela época, ainda criança, tinha vindo a Mogi visitar minha irmã Hilda, que era casada com Plínio Marques, e gostei muito da Cidade. Meu pai disse que deixaria eu morar com ela desde que prometesse não mais me envolver em nenhuma emissora. Acabei vindo para a casa da Hilda, na Rua Navajas, e passei a estudar Contabilidade no Liceu Braz Cubas, onde tinha o Dr. Bóris Grinberg como professor de Inglês. 

O Diário - Qual era o trabalho do senhor nesta época?

Capota - Estudava à noite e durante o dia trabalhava como office-boy na Madeireira Santana, na Rua Dr. Deodato Wertheimer, que pertencia ao Jacob e Nenê Lopes. Só que, alguns meses depois, fui atropelado andando de bicicleta, enquanto entregava as faturas da empresa, me machuquei e acabei ficando um tempo sem trabalhar. Depois não quis mais voltar a ser office-boy porque não gostava deste serviço e um dia, ouvindo a Rádio Marabá, que depois passou a se chamar Diário e hoje é a Rádio News, fiquei sabendo que estavam contratando um sonoplasta, então, me envolvi novamente com rádio. 

O Diário - Aí começa sua história na Rádio Marabá?

Capota - Fui até a rádio, que ficava em cima do prédio do Cine Odeon, e vi uma fila enorme de pessoas para serem entrevistadas pelo diretor Aldo Razo, que depois foi prefeito de Mogi. Ele estava atendendo a molecada e como achei que não teria chances, quase desisti. Porém, ele disse que queria me ouvir e perguntou se eu já havia trabalho em rádio. Disse que sim e então, o Aldo mandou que todos os outros fossem embora porque já tinha encontrado o que queria. No entanto, eu só tinha experiência como cantor e não sabia nada de sonoplastia. O Fernando Guedes, que foi advogado da Câmara de Mogi por muitos anos, me colocou em uma mesa de som e naquela hora tive de me virar para controlar o equipamento em um programa de auditório. Logo depois me tornei o mais novo locutor de toda a Região, quando um dia, estava fazendo sonoplastia à noite e o locutor do programa passou mal. Fiquei tocando música o tempo todo, só que chegou uma hora em que me pediram para pegar o microfone e comecei a falar identificando a rádio. Estava com 15 anos e desde menino, já tinha uma boa voz e no dia seguinte, quando o Aldo me chamou, pensei que estaria na rua. Ao contrário, ele estava ouvindo o programa naquela noite e apesar de ter me dado uma bronca porque eu não tinha ordem para fazer aquilo, acabou me intitulando locutor de rádio.

O Diário - Como era a Rádio Marabá naquela época?

Capota - Era uma emissora pequena, com apenas 100 watts, mas com um elenco de artistas de Mogi que se destacava, como Waldemar Scavone, Darcy Augusto, Alfredo Nahum, Pé de Vento, Jucão, entre tantos outros nomes, e contava inclusive com peças de teatro e novelas ao vivo, que podiam ser comparadas às grandes rádios porque mesmo com a potência local, as ondas iam mais longe já que eram mais livres e ainda não existia a rádio pirata. Um dia, o Renê Salles me pediu para fazer programas de auditório e se tivesse experiência de vida e de patente, seria hoje um dos radialistas mais ricos porque fui o primeiro a colocar um ouvinte no ar pelo telefone, no programa "O Telefone com o Ouvinte", apesar de quase ter perdido o emprego por causa disso. 

O Diário - Por quê?

Capota - Quando fiz isso pela primeira vez, o Sebastião de Almeida, tesoureiro da rádio, me chamou de louco e moleque porque na época, se o ouvinte falasse uma palavra que não pudesse ir ao ar, a rádio corria o risco até de ser fechada. Ele ligou para o Gastão Salles, que era dono da Marabá junto com o Renê. Lembro que o Gastão veio saber o que estava acontecendo e percebeu que a idéia dava audiência, então, aos 17 anos me tornei diretor da emissora. A Cidade parava para ouvir o programa e na época, uma alta patente da Companhia Telefonica veio visitar a Telefonica em Mogi e percebeu o significativo número de luzes vermelhas acesas que indicavam pessoas esperando na linha para falar comigo. O prefixo do programa era a música ‘Mambo Telefonando’, da cantora Marlene, que dizia 'Alô! Alô! Todos cantando o novo mambo telefonando'. Um dia, para verificar esta audiência de perto, pedi ao Darcy Augusto que apresentasse o programa, saí às ruas da Cidade e cheguei a chorar de tanta emoção porque todas as casas, bares, lanchonetes e lojas estavam sintonizadas na Marabá, onde trabalhei por oito anos.

O Diário - Como eram as coberturas do Carnaval mogiano?

Capota - Transmitíamos os desfiles nas ruas e depois pegávamos a aparelhagem e íamos para os bailes de clubes como União, Itapeti, de Campo, entre outros. Ficávamos no ar o dia todo e lembro muito bem dos blocos Ki-Frio e Ki-Calor, que faziam do Carnaval mogiano o melhor de todo o Alto Tietê e do Vale do Paraíba. 

O Diário - Quando o senhor buscou uma vaga na Capital?

Capota - Aos 17 anos, fiz vários testes com o Blota Júnior, na Rádio Record, que ficava na Rua Quintino Bocaiúva, e um dia, fui à Rádio Tupi, dos Diários Associados, com uma carta de apresentação feita por um senhor mogiano de sobrenome Aranha. Ele era amigo do diretor da Tupi, que tinha escritório na Avenida Ipiranga e já era poderoso na TV e rádio, com um famoso programa de perguntas e respostas. Estava com minha irmã, Emília, que morava em São Paulo, e lembro que ao ler a carta, ele não me deu chance, nem me ouviu e mandou que eu voltasse a Mogi. Esta foi uma das vezes em que desisti de procurar emissoras da Capital porque ele me deixou complexado dizendo que eu não tinha capacidade para trabalhar na Tupi. O tempo passou e um dia, o mogiano Celso Barreiros, que hoje é cirurgião plástico, estava na Record e recebeu uma proposta melhor da Tupi. Só que seu diretor, Armando Rosa, uma figura maravilhosa a quem nós devemos muito, pediu que ele indicasse uma pessoa com a sua capacidade para substituí-lo e ele cogitou meu nome. 

O Diário - Depois disso o senhor iniciou a carreira na Record?

Capota - O Armando me mandou um recado pelo Maestro Zezinho, que era músico na emissora, só que justo no dia em que fui à Record estava acontecendo uma greve dos radialistas e não pude entrar, então voltei para Mogi achando que tudo estava perdido. No entanto, fui novamente chamado e em 1962 comecei a trabalhar na Record, que apresentava os melhores programas da época. Eu era um molecão de voz bonita e atuava ao lado dos grandes nomes do rádio, como Jorge de Magalhães, Vicente Leporaci, Blota Júnior e outros cobras, em atrações como 'Vale o Quanto Pesa', 'História das Malocas', com Adoniram Barbosa, entre outros. Os programas eram todos ensaiados e gravados e vivi vários sustos nesta época. 

O Diário - Quais sustos foram estes?

Capota - O primeiro programa no qual fiz o papel de narrador foi com o Vicente Laporaci e tremia como vara verde. Fomos ensaiar o 'Vale o Quanto Pesa', com a Maria Tereza, Pimentinha, e outros, e eu falava toda a ficha técnica do programa, mas chamei o Vicente Laporaci de Leoporaci e levei uma bronca. Depois, ainda na Record, como iniciante de rádio na Capital e ainda com meu jeito de caipira do Interior, fui escalado para apresentar ao vivo o programa 'O Clube Abre às Cinco', com Sônia Ribeiro, esposa do Blota Jr., no estúdio de rádio e a participação da Orquestra do maestro Ciro Pereira. Depois acabei participando de outros programas de auditório como 'Alegria dos Bairros' e 'Aqui Está a Record'. Um dia, o apresentador Geraldo Blota faltou e o Armando me chamou. Na época, era terceiro substituto e fiz o primeiro programa de auditório na Record, que foi um show no Cine Leão 13, no Ipiranga. Era minha estréia e o diretor tinha me deixado com os nervos à flor da pele porque me considerava um caipira e não acreditava em minha escalação para o trabalho. O comediante Chocolate foi quem me confortou e lembro que esta minha apresentação abafou. Depois, fiz um programa de auditório no aniversário do Santos Futebol Clube, na Vila Belmiro, no qual o Pelé estava sentado na primeira fila.

O Diário - Como nasceu o jargão ‘Repita’?

Capota - Fazia parte da equipe Sete e Trinta, com o Wilson Fittipaldi, o Barão, pai do Émerson Fittipaldi e também com o Sargentelli. Um dia, estava apresentando o Jornal da Manhã, e outro locutor, o Antonio Del Fiol, que faleceu recentemente, disse a hora certa e sem querer falei ‘Repita’. Ele repetiu e o chefe, Fernando Vieira de Melo, entrou aos gritos nos estúdios perguntando quem tinha feito aquilo. Pensei que estaria perdido, mas ele achou sensacional e instituiu o ‘Repita’ em todos os programas. Também me recordo que, naquela época, dava risada à toa e o Barão fazia de tudo para me desconcentrar. Chegou a apresentar o jornal vestido de Zorro e com máscaras horrorosas trazidas dos Estados Unidos, como uma que tinha um limpador de pára-brisas. Não agüentava e chegava a rir no ar. Só não fui demitido porque o Tuta gostava muito de mim. 

O Diário - Como era a convivência com os artistas que viviam no rádio?

Capota - Conheci muitos, mas sempre defendi que os programas deviam ser apresentados por radialistas e não por artistas. Isso acontecia na própria Jovem Pan, antes chamada de Panamericana, onde também trabalhei por muitos anos, no mesmo prédio da Record e Rádio São Paulo, na Avenida Miruna, 713, em Indianópolis. Lá, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Agnaldo Rayol e Elis Regina tiveram programas e acabaram tirando nosso lugar, mas o culpado disso tudo foi o Sindicato. Depois, com o Walter Guerreiro e Fernando Vieira de Melo, os artistas foram dispensados para darem lugar ao jornalismo. Nesta época fui para a TV. 

O Diário - O que o senhor fez na TV?

Capota - Fiquei quatro anos no jornalismo fazendo o Record em Notícias, mesmo porque naquele tempo, gente feia também aparecia na TV. A Record era a Globo da época, com festivais e muita gente famosa, além de um forte jornalismo. O tempo passou e me tornei uma pessoa conhecida na época e então, tive a oportunidade de encontrar aquele senhor que havia me mandado voltar para Mogi e nem tinha me dado ouvidos na Tupi. Este grande apresentador, diretor, jornalista e radialista, que já faleceu, tinha se tornado deputado e veio participar do jornal do meio-dia para ser entrevistado por Narciso Vernize e Aluane Neto. Só que eu também trabalhava como apresentador, ele não me reconheceu e foi me tratando com toda a pompa. Naquele dia, fiz questão de lembrá-lo que eu era aquele garoto, que ele quase tinha destruído a carreira. 

O Diário - Nesta época, o senhor deixou o rádio para fazer somente TV?

Capota - Jamais deixei o rádio e conciliava o trabalho na TV com as rádios Record e Jovem Pan. Mas quando o Antonio Augusto Tuta assumiu a direção da Panamericana e inovou a programação, preferiu que eu ficasse apenas na em Pan, de onde acabei saindo por seis meses para, junto com o Walter Guerreiro, dirigir a Rádio Mulher, hoje Morada do Sol, em Santo Amaro, que na época, era formada apenas por mulheres. Lembro que a Claudete Troiano era quem transmitia as partidas de futebol e nossa equipe era formada por Hebe Camargo, Paulo Goulart, Nicete Bruno, Sargentelli, entre outros nomes de peso. Um dia, o Tuta me convidou e voltei para a Jovem Pan, onde trabalhei 34 anos para a família Carvalho. 

O Diário - O senhor também ajudou muitas pessoas a iniciar o trabalho na rádio?

Capota - Sim e nunca pensei que estaria criando cobras que depois poderiam me morder. Meu filho seguiu os meus passos e do meu irmão, o Nelson Tatá Alexandre, que fazia o 'Perdidos na Noite' com o Faustão. Hoje, o Tombinho é primeiro lugar no Ibope em seu programa apresentado todas as manhãs, às 6 horas, ao lado do Quico, na Transcontinental. Digo que antes eu era conhecido como o Antonio Alexandre, depois como o irmão do Tatá e agora sou o pai do Tombinho. 

O Diário - Por que o apelido Capota?

Capota - Fiquei careca aos 23 anos e um dia, na porta da Record, batendo papo com o pessoal que mesmo depois que saía do serviço continuava no prédio, no bar do Zé Português, alguém disse que minha careca parecia a capota de um Fusca. O Chuchu, que hoje trabalha no Correio de Moema, ouviu aquilo e saiu espalhando para todo mundo. Hoje, a maioria das pessoas me conhece como Capota. 

O Diário - Quando o senhor veio para a Transcontinental?

Capota - Fique na Jovem Pan até 1996, quando vim para a Transcontinental, do meu amigo de infância Cid Luiz Jardim, que trabalhou comigo na Record. Ele é sócio do Waldemar Scavone, um dos antigos locutores da Marabá. Trabalhar com proprietários de emissoras, que já atuaram como radialistas é muito melhor. Hoje, apresento o programa ‘Domingo MPB Especial’, das 20 horas à meia-noite e, segundo o Cid Luiz, sou a voz padrão da rádio e por isso, gravo os comerciais e vinhetas. Para mim, trabalhar em rádio é um prazer, principalmente por causa da audiência. 

O Diário - O senhor veio para Mogi ainda adolescente. Nunca mais pensou em se mudar daqui?

Capota - Nunca mais nem voltei à minha terra natal. Gosto demais da Cidade, mas acho que o prefeito deveria solucionar o problema das passagens de níveis, optando por construções como aquela existente na Avenida Cruzeiro do Sul até o Terminal Rodoviário Tietê, ou seja, seria viável uma passagem acima da linha férrea, desde Braz Cubas até a Estação Estudantes.

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