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Mogi-Bertioga faz 41 anos, à espera da duplicação e de obras estruturais

Há 41 anos, no dia 13 de maio de 1982, uma longa fila de ônibus e carros de passeio seguia, pela primeira vez, rumo às praias de Bertioga por uma nova estrada, construída pela Prefeitura de Mogi das Cruzes para ligar, em 50 km, a cidade às praias da Baixada Santista. A comitiva parou ainda […]

13 de maio de 2023

Reportagem de: O Diário

Há 41 anos, no dia 13 de maio de 1982, uma longa fila de ônibus e carros de passeio seguia, pela primeira vez, rumo às praias de Bertioga por uma nova estrada, construída pela Prefeitura de Mogi das Cruzes para ligar, em 50 km, a cidade às praias da Baixada Santista.

A comitiva parou ainda no alto da Serra do Mar, onde junto a um monumento de concreto, autoridades descerraram duas placas de bronze com os nomes daqueles que estiveram à frente da grande aventura, iniciada e interrompida muitas vezes, até que o prefeito Waldemar Costa Filho levou até o fim a grande aspiração da população mogiano à época. Entre as autoridades estava o governador Paulo Maluf, que ajudou a Prefeitura de Mogi a contornar problemas inesperados surgidos durante a construção da estrada.

Do local da solenidade, numa manhã de tempo bom, era possível ter uma visão privilegiada do mar, que muitos daquela comitiva iriam conhecer e tocar pela primeira vez, como mostraram, à exaustão, os jornais da época.

Bertioga, onde os ônibus fretados pela administração municipal chegariam logo depois da festa na serra, era somente um distrito relegado a um plano inferior às suas potencialidades turísticas pelo município-sede. Santos, à época, já imaginava que, tempos mais tarde, Bertioga deixaria de lhe pertencer para ganhar vida própria, como realmente aconteceu.

Passadas mais de quatro décadas daquela festiva data, a rodovia Mogi-Bertioga, cuja manutenção e conservação seriam assumidas pelo Estado algum tempo após a inauguração, ganhou especial importância como interligação entre o planalto e a baixada, tornando-se estratégica para as economias de Bertioga e Mogi e chegando até mesmo a servir como opção de tráfego durante as constantes interdições da Rio-Santos, ou da Tamoios, ligação entre o Vale do Paraíba ao Litoral Norte.

Mesmo com todos esses atributos e chegando a receber perto de 80 mil veículos em feriados prolongados, a Mogi-Bertioga não apresenta motivos para serem comemorados no dia de seu aniversário.

Apesar de o governo estadual estar sempre cuidado de pontos específicos da estrada, com medidas paliativas para problemas de menor intensidade, a Mogi-Bertioga ainda se ressente da falta de uma ação mais profunda que venha a cuidar mais diretamente da prevenção de riscos, especialmente de deslizamentos de encostas, como a que aconteceu no final do ano e que deixou a rodovia 15 dias totalmente interditada.

Mesmo prometido, ainda não foi feito o levantamento detalhado dos pontos críticos que poderiam ser recuperados antes que novos desastres venham a ocorrer, por meio de grandes deslizamentos que trazem para a pista pedras gigantescas, acompanhadas de muita terra e árvores, durante os períodos de chuvas mais intensas.

Nesta semana, em entrevista à edição impressa de O Diário, o prefeito de Bertioga, Caio Mateus, fez sombrias previsões em relação a acidentes que ainda poderão ocorrer, causando vítimas fatais.

Avisos como este têm sido comuns nos últimos tempos, principalmente por meio deste jornal.

No início deste ano, por exemplo, o geólogo Sílvio Antonio Canevare Pomaro fez um alerta ainda mais drástico:

“O risco é grande nessa época de chuvas intensas. Como geólogo, não tenho mais segurança. Tenho medo de descer pela estrada”, disse ele, ao destacar aspectos muito próprios da estrada.

Segundo o geólogo, as rochas daquela região serrana têm 4,5 bilhões de anos e, por isso mesmo, quando são agredidas para a passagem de uma estrada, não se pode esperar que não ocorram problemas, como os verificados na Mogi-Bertioga. “Acho difícil exigir que não caia, pois essas rochas milenares  estão sendo alteradas, progressivamente, pela ação do clima, calor, frio, água, que a deixam fragilizadas, fraturadas, trincadas”, atestou ele.

Por isso mesmo, Silvio Pomaro é um defensor intransigente da transformação da atual estrada em uma “rodovia de apoio” e não mais de circulação para milhares de veículos. Para isso, segundo ele, “a nova via teria de ser construída obedecendo às modernas técnicas de geologia e engenharia para que a estrada não fique encostada da beira de barrancos, evitando sofrer os efeitos de uma serra geologicamente frágil”.

Sivio afirma, com segurança que os problemas da atual Mogi-Bertioga são cíclicos e continuarão a ser, por conta da falta de planejamento do passado e da manutenção duvidosa dos dias atuais.

“É preciso ter vários olhos, em tempo integral na estrada que vive em uma situação de risco permanente. No entanto, o que se vê é o DER realizando pequenas obras, pintando o asfalto, enquanto os trabalhos realmente necessários não acontecem”, diz o geólogo, lembrando a necessidade de monitoramento permanente das encostas e a realização das obras sugeridas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), como levantamento das áreas de risco, conserto de taludes ameaçados de deslizamento, entre outros.

A duplicação da rodovia é um sonho para os mogianos, que torcem por uma estrada mais moderna e segura, longe dos riscos existentes atualmente. Mas para que isso venha a acontecer será necessário um trabalho político muito intenso junto ao governo estadual que já tem um rol de justificativas para não realizar a obra, entre elas, as questões ambientais, o custo de uma nova estrada, que teria de ser construída sobre estruturas de concreto para não afetar o verde da serra do mar, e até a subutilização (discutível) da rodovia fora dos finais de semana, férias e verão.

Os próprios políticos da cidade e região não se animam a cobrar do governo uma obra desse tipo. Aliás, nem os serviços básicos são lembrados por eles, à exceção de quando ocorrem quedas de barreiras ou acontece algum outro imprevisto que causa interdição da rodovia.

Lembranças

Aos 97 anos, o engenheiro Jamil Hallage, que trabalhou com fiscal das obras de implantação da Mogi-Bertioga, por ser pessoa da mais absoluta confiança do prefeito da época, Waldemar Costa Filho, é dono de uma memória privilegiada e ainda se lembra de detalhes da inauguração da estrada. “Foi uma festança. Até o governador Paulo Maluf esteve presente”, recorda-se, enquanto é desafiado pelo repórter a lembrar algum fato que marcou a construção da estrada.

Jamil viu muitas dificuldades que tiveram de ser vencidas ao longo dos quatro anos, entre abril de 1978 até 1982, em que a estrada foi construída, enfrentando as dificuldades naturais exigidas para a transposição de uma serra ainda intocada. Além de problemas técnicos, como o surgimento de uma grande rocha, no trecho final da via, que precisou de ajuda do governo estadual para ser ultrapassada, a construção da estrada foi marcada por absoluta normalidade.

Jamil se lembra do acidente ocorrido durante uma visita de mogianos ao canteiro de obras da Almeida & Filho, responsável pela abertura da estrada, que provocou a morte do vereador Narciso Yague Guimarães. O acidente decorreu de um problema mecânico no veículo em que ele e outras pessoas viajavam e não provocado pela obra em si.

“Infelizmente, esse foi o fato mais relevante que aconteceu e nós perdemos um grande amigo”, afirma Jamil, chamando a atenção para o fato de que previsões catastrofistas em relação à rodovia não se concretizaram. Houve quem dissesse, à época, no governo do Estado, que a estrada iria “derreter como açúcar”.

“Esses comentários eram nitidamente maldosos visando diminuir a importância de uma obra feita por um município relativamente pequeno, como era Mogi à época. Problemas existem em qualquer rodovia que atravesse uma região como a da Serra do Mar”, diz Jamil, ressaltando que não ocorreram acidentes mais graves na execução das obras de aabertura da Mogi-Bertioga.

O engenheiro também não esconde certo orgulho ao afirmar que “a estrada está lá até hoje, apesar de o prefeito que assumiu após a saída do Waldemar ter abandonado a estrada durante seis anos de seu governo; foi quando ela começou a apresentar problemas que poderiam ter sido evitados caso houvesse uma manutenção e conservação permanentes, o que, infelizmente, não aconteceu. Só depois de muito tempo foi que esses problemas foram sanados, após muita dor de cabeça”, afirma o engenheiro.

Quanto ao futuro, Jamil é taxativo.

“O futuro da Mogi-Bertioga só pode ser um: ela terá de passar por melhorias constantes, pois tanto Mogi como Bertioga estão crescendo de maneira intensa e o tráfego pela estrada é cada dia mais intenso; em minha opinião, a Mogi-Bertioga, com o movimento que recebe, já deveria ter sido duplicada havia muito tempo”.

“Acredito que seja somente uma questão de um pouco de paciência; mas eu entendo que a estrada haverá de ser duplicada”, conclui Jamil, sempre otimista.

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