Ministro André Mendonça cancela a visita a Mogi

Reportagem de: O Diário

Foi cancelada a visita do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, a Mogi das Cruzes na noite desta segunda-feira (25), para participar da Jornada em defesa da Vida e da Família, evento organizado pelo pastor e deputado federal Roberto de Lucena (Republicanos), que começa às 19 horas, na sede da igreja O Brasil para Cristo, no distrito de Jundiapeba.  

A notícia sobre a vinda do ministro foi anunciada em vídeo publicado por Lucena, no período da manhã de hoje, mas no início da tarde o material foi retirado de suas redes sociais. A assessoria do deputado explicou que a vinda de André Mendonça, apesar de ter sido confirmada oficialmente por seu gabinete, foi cancelada por recomendação do próprio STF. A expectativa é de ele participe do evento remotamente.

De acordo com a assessoria do Republicano, o ministro teria sido orientado pelo setor de cerimonial e pela segurança do STF a não comparecer presencialmente em eventos públicos por causa de ameaças que ele vem sofrendo por ter votado pela condenação do deputado federal Daniel Silveira (PTB), por ataques à democracia.

Apesar de Mendonça ter sugerido uma pena mais branda para Silveira, um grupo mais radical de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) não concorda com a decisão dele de votar junto com os demais ministros do órgão, o que muitos consideram “traição e deslealdade” ao mandatário, que foi quem o indicou para o cargo no Supremo, para ter a presença de um membro “terrivelmente evangélico” no STF. Logo após a condenação, o presidente publicou o indulto, concedendo perdão ao condenado.

A reportagem de O Diário entrou em contato com a assessoria do STF para confirmar o motivo do cancelamento da visita e aguarda o retorno.

Reação

O ministro Mendonça votou para condenar Silveira à pena de dois anos e quatro meses de reclusão, além de multa de R$ 91 mil, porém prevaleceu a decisão da maioria do STF, que impôs uma pena de oito anos e nove meses de reclusão, em regime inicial fechado, além do pagamento de multa de R$ 192,5 mil.

Assim que começaram a repercutir as críticas pelo seu posicionamento feitas por bolsonarista e evangélicos na internet, na última quinta-feira (21), o ministro André Mendonça foi às redes sociais para se explicar.

Ele declarou que, como cristão, não acredita ter sido chamado para apoiar “comportamentos que incitam atos de violência contra pessoas determinadas”. Alegou ainda que, como jurista, não poderia concordar com as graves ameaças físicas contra quem quer que seja.

Em seu perfil do Twitter, Mendonça fez a seguinte publicação: “Há formas e formas de se fazerem as coisas. E é preciso se separar o joio do trigo, sob pena de o trigo pagar pelo joio. Mesmo podendo não ser compreendido, tenho convicção de que fiz o correto”.

Apoio a Silveira

O próprio deputado Roberto de Lucena, que fez o convite ao ministro André Mendonça para o evento em Mogi das Cruzes, também fez críticas ao STF e manifestou apoio ao deputado condenado. Mesmo assim, a assessoria do Repúblicano disse que isso “não interferiu no relacionamento entre os dois, que continuam muito próximos”.

Em suas redes sociais, Lucena fez o seguinte comentário: “O julgamento de Daniel Silveira entrou para a história como um dos dias  mais tristes em todos os tempos para a democracia brasileira. Não concordo com as coisas que ele disse e pelas quais foi julgado e não apoio a violência, mas defendo que somente a Câmara poderia julga-lo se fosse o caso de quebra de decoro parlamentar, mas o artigo 53 da constituição diz ‘os deputados e senadores são invioláveis civil e penalmente por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos’.

Segue dizendo que espera que a Câmara dos Deputados e o Senado reajam e que o Congresso Nacional suste a decisão que impôs a um parlamentar uma condenação arbitrária e uma pena maior do que a de um homicídio por “crime de opinião”. E eu estarei pronto a apoiar com meu voto ou um PDL ou um PL de Anistia. E outra coisa, em nenhum outro país do mundo livre, que seja um estado democrático de direito, alguém que se sinta vítima de um ataque verbal seria o acusador e ao mesmo tempo o juiz do caso. E não se trata de direita ou esquerda, mas de injustiça nome da justiça. E só não fizeram no “dia de Tiradentes” porque por ser feriado não teria sessão.

Jornada da Família

Roberto de Lucena, um dos líderes da igreja O Brasil Para Cristo (OBPC), esclarece que o objetivo da jornada buscar chamar a atenção das pessoas sobre o aumento dos casos de violência doméstica e das pessoas com depressão, “inclusive evangélicas”, que estão “tentando o suícidio” na atualidade. Temas como a exploração sexual, depressão, violência contra mulheres e idosos, uso de drogas, deverão ser debatidos.