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CONSCIÊNCIA NEGRA

Denúncia de professora por racismo em loja terá moção de repúdio em atos em Mogi

Maristela da Silva Fernandes prestou queixa à polícia alegando ter sido constrangida enquanto escolhia mercadorias na Pernambucanas; loja diz que apura o caso e promete "medidas necessárias"

Eliane José
17/11/2023 às 17:57.
Atualizado em 18/11/2023 às 08:39

Redes sociais replicaram a denúncia de Maristela Fernandes que registrou um boletim de ocorrência contra a Pernambucanas; loja afirma que apura a denúncia (Reprodução/Facebook)

Professora aposentada e cliente durante décadas das Pernambucanas de Mogi das Cruzes, Martistela da Silva Fernandes registrou um boletim de ocorrência contra a loja, após um episódio que, segundo afirma, demonstra ser uma prática racista e constrangedora: "Isso machuca a gente", diz. Em resposta sobre a denúncia, a loja afirma que apura o caso e tomará medidas necessárias.

Após prestar a queixa, protestar em suas redes sociais e receber o apoio de grupos e ativistas do Movimento Negro da cidade, duas moções de repúdio sobre o caso serão lidas em eventos que celebram o Dia da Consciência Negra, na segunda-feira (20), na Praça Zumbi dos Palmares, às 10h, e na Câmara Municipal (no dia 24), às 9h.

Integrante do grupo Pretas de Mogi, que se articula na cidade para a luta por direitos da mulher negra, Maristela relata que estava escolhendo mercadorias na loja, da qual é cliente antiga, quando ouviu o "comunicado de alerta nos setores 1 e 2 - segurança e câmera".

Pouco tempo depois, um segurança, também negro, se posicionou atrás da banca de roupas onde Maristela estava e ela o questionou sobre onde ficavam os setores 1 e 2. Ele teria desconversado, dizendo que seriam no primeiro andar.

Ela notou que havia outras clientes no mesmo departamento, àquela hora, com poucos consumidores: "uma mulher branca com uma criança, e uma outra mulher branca, mas ele se posicionou apenas atrás de mim, que sou negra".

Após ter questionado o segurança, a professora foi ao provador, quando outra funcionária confirmou que naquela área, onde estava, ficavam os setores 1 e 2.

Diante  dessa informação, a consumidora foi questionar o gerente, que chegou a pedir desculpas, pelo fato de ela ter se sentido ofendida, mas esclareceu que aquela era uma prática de segurança para coibir os furtos de produtos na loja.

"Eu disse a ele que, se era essa prática, ela deveria ser modificada porque eu estava ali escolhendo produtos, estava fazendo compras, e o segurança se posicionou atrás de mim, e não atrás das duas outras clientes que estavam no mesmo local", comenta.

Maristela foi professora da rede pública estadual até algumas semanas atrás,quando celebrou a aposentadoria. Após o caso, enfrentou uma alta dos índices de diabete e foi parar no hospital: "A gente sofre, o constrangimento machuca". Também recebeu uma onda de solidariedade de amigos e entidades, inclusive de pastorais católicas, das quais participou.

Ela fez um boletim eletrônico, e, depois retificou o primeiro registro em um "termo de declarações" ao prestar depoimento ao delegado titular, Francisco Carlos Del Poente, do 1º DP de Mogi das Cruzes:

"O que eu defendo é que houve uma prática de racismo porque o segurança ficou atrás apenas de mim, pela minha cor de pele, é um procedimento contra um coletivo, o negro".

Maristela, há alguns anos, também viveu situação semelhante em uma escola particular de Mogi das Cruzes, onde o filho dela, Nicolas, estudava. Naquela oportunidade, a escola promoveu uma palestra com representantes do Movimento Negro para que o caso não se repetisse. O estudante, no entanto, terminou apenas aquele ano e foi retirado da escola.

Sobre a luta pela Consciência Negra, Maristela lembrou que outra amiga, em Poá, enfrentou a mesma situação, também na mesma loja de departamento de compras. "Ela ficou tão impactada que saiu da loja. Mas, isso, não pode ocorrer, é preciso denunciar e mudar procedimentos adotados contra a pessoa negra", defende, acreditando que essa população ainda está longe de ter todos os direitos cumpridos. Porém, adverte: "O meu filho e o filho do meu filho, o meu neto, estão sendo preparados para não deixar isso acontecer, para denunciar. Nós ficamos muito tempo silenciados", reforça.

O caso será divulgado em duas moções de repúdio no 11º Ato Político em Memória ao Zumbi dos Palmares, nesta segunda (20), na Praça Zumbi dos Palmares, em Braz Cubas, a partir das 10h.

Já no dia 24, a partir das 9h, o Observatório de Defesa e Promoção da Saúde da População Negra realiza o Seminário da Anemia Falciforme, uma doença hereditária que atinge principalmente a população negra que, muitas vezes, não chega ao diagnóstio a tempo de receber o tratamento.

O que diz a Pernambucanas

Em nota sobre o caso, por meio da assessoria de Imprensa, a empresa disse que investiga o caso e que vai tomar "medidas necessárias após as investigações", sem detalhar quais poderiam ser as medidas.

Também destacou que repudia qualquer tipo de discriminação, e que possui "diversidade e respeito com seus valores institucionais e reforça seu compromisso com a ética e integridade dos seus clientes e colaboradores".

Veja, abaixo, a íntegra do posicionamento:

"A Pernambucanas repudia qualquer tipo de discriminação, seja por raça, gênero, orientação sexual ou religião.

Com 115 anos de história, a companhia possui a diversidade e o respeito como seus valores institucionais e reforça seu compromisso com a ética e integridade dos seus clientes e colaboradores.

A empresa esclarece que está apurando os fatos internamente e que tomará as medidas necessárias após as investigações."

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