Exames em jovem indivíduo encontrado na Vila Moraes mostraram que o animal silvestre nasceu com agenesia, ou seja, a falta de um membro desde a nascença
Pela primeira vez em 30 anos, o veterinário Jefferson Renan de Araújo Leite, que se especializou nos cuidados e resgate de animais silvestres em Mogi das Cruzes, encontrou um jovem bicho-preguiça com apenas um membro superior, um caso raro de agenesia, nome dado à condição de quem nasce com apenas um órgão interno, como braços, pés ou pulmão.
O animal foi resgatado na Estrada do Hanada, na Vila Moraes, por moradores que identificaram a falta do braço, pensando se tratar de uma preguiça que havia sido alvo de algum dos acidentes registrados nas zonas rural e urbana da cidade.
Exames como radiografias foram feitos para entender como havia sido a amputação do braço - após as análises, o veterinário constatou que se tratava de uma agenesia, ou, a falta de um dos membros superiores.
O jovem bicho-preguiça foi devolvido à natureza, na região do Parque Centenário, onde a proximidade do rio Tietê, e de áreas verdes que se conectam com a Serra do Itapeti, tornou-se um ambiente com registros desta espécie.
O encontro raro serviu para revigorar uma antiga causa: a conquista de um Centro de Triagem de Animal Silvestre, um Cetas, em Mogi das Cruzes para melhorar o resgate e ampliar a sobrevida da fauna local.
Números para ancorar a manutenção desse novo serviço são consistentes - por ano, em Mogi das Cruzes, órgãos como a Polícia Ambiental e o Centro de Controle de Zoonoses recebem cerca de 500 pedidos para o resgate de animais encontrados após terem sido vítimas de acidentes como atropelamentos ou choques elétricos - esses últimos, típicos no caso dos bichos-preguiça, que são arbóreos, vivem em topos de árvores onde buscam alimento e dormem enganchados aos troncos. Eles costumam deixar uma árvore e se agarrarem aos postes de luz, o que contribui para choques elétricos, quedas graves ou até óbitos.
O encontro desse animal com uma situação orgânica atípica impulsiona o veterinário a continuar lutando pelo Cetas local ou regional que, apesar de promessas em campanhas eleitorais, nunca saiu do papel.
Como "as preguiças são animais muito propensos a acidentes na rede elétrica, atropelamentos ou mesmo ataque de animais domésticos e, não raro, sofrem amputações de membros, a grande pergunta é: até que ponto uma preguiça pode ser reabilitada e ser devolvida à natureza? Pelo visto a falta de um membro pode não ser um problema", comenta o profissional.
Os efeitos da adaptação dos bichos silvestres em cidades como Mogi das Cruzes (que ainda possui relativa extensão de vegetação e recursos naturais protegidos como a Serra do Itapeti e represas) escapam do rol de prioriedades das políticas públicas. Aliás, esse é um fenômeno crescente em cidades brasileiras que ainda preservam oásis do meio ambiente natural.
Na luta pela vida, os bichos se adaptam como podem, procriam e mantém uma cadeia alimentar ativa com a presença de destaques como a onça parda.
"Como temos o registro da onça parda, e presas maiores, como o bicho-preguiça, estão no cardápio de alimentação delas, o registro dos incidentes com esses animais continuará na rotina da cidade", explica o médico.
O Cetas poderia ampliar o controle de zoonoses, amplificar a pesquisa e o controle dos impactos da interação destes bichos com o homem, além de reduzir, em alguma medida, os recursos humanos e financeiros usados com a transferência dos animais acidentados para Cetas de outras cidades, como a Capital.
Além disso, observa o profissional que acompanha o sucesso - ou não do resgate desses animais, um Cetas na própria cidade teria um "impacto direto à manutenção da nossa fauna local, aumentando as chances de sucesso nos atendimentos, já que o estresse após uma queimadura ou a perda de um membro, é um dos fatores que colaboraram com a morte de animais silvestres".
O serviço na cidade suprimiria o transporte do animal durante longa distância, o que "pode reduzir drasticamente as condições de sobrevida desses animais".
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