Mais de 10 mil marmitas foram distribuídas no Jd. Santos Dumont e Jundiapeba pelo Projeto Mistura, que vê o alimento como ponto inicial para futuras conquistas
Projeto Mistura leva marmitas, mas tem o objetivo de promover transformações sociais nas comunidades atendidas em Mogi (Divulgação)
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Mais de 10 mil marmitas foram distribuídas no Jd. Santos Dumont e Jundiapeba pelo Projeto Mistura, que vê o alimento como ponto inicial para futuras conquistas
Projeto Mistura leva marmitas, mas tem o objetivo de promover transformações sociais nas comunidades atendidas em Mogi (Divulgação)
A insegurança alimentar voltou a ser enfrentada por milhares de brasileiros desde o início da pandemia. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), intitulado “O Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, aponta que “a intensificação dos principais fatores por trás das tendências recentes de insegurança alimentar e desnutrição (ou seja, conflitos, extremos climáticos e choques econômicos) combinados com o alto custo dos alimentos nutritivos e as crescentes desigualdades continuarão a desafiar a segurança alimentar e a nutrição”.
Ou seja, não é um problema que veremos solução a curto prazo, ainda mais quando poucas políticas públicas de fato estão sendo surtindo efeito para combater a fome e a geração de renda.
Mas para o chef Matheus Arouca, biólogo de formação e ex-cozinheiro de restaurantes nobres da capital de São Paulo, ignorar a discrepante realidade de pessoas de classe média alta que gastam, sem dificuldade, R$ 300 em uma única refeição e uma família que, literalmente, vende o almoço para pagar a janta, não era mais uma possibilidade para ele. Foi a partir dessa constatação que nasceu um projeto inspirador que está sendo realizado em regiões periféricas de Mogi das Cruzes e se torna destaque hoje, na série de reportagens “Inspire-se”.
DESAFIOS Alta de preços e o aumento da fome são identificados pelos organizadores (Divulgação)
O Projeto Mistura nasceu em 2021 durante a pandemia, quando a fome no país atingia ao menos 19 milhões de brasileiros, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (I VIGISAN), com ações em dois bairros da cidade: o jardim Santos Dumont e o distrito de Jundiapeba.
“A nossa motivação foi o desejo da transformação social. É ver como conseguimos impactar as pessoas solucionando esse problema (da fome), mas também movimentando os moradores para que consigam lidar com os outros problemas existentes como moradia, saúde, educação; sem que eles tenham que se preocupar com a alimentação, mas também para que as entregas das marmitas sejam uma base para esses encontros de discussões”, ressalta o idealizador do projeto.
Após um ano, a iniciativa que, como diz o próprio chef “nasceu de maneira despretensiosa”, alcançou a marca de mais de 10 mil marmitas distribuídas.
Integrantes do Projeto Mistura encontraram comunidades desiludidas com ações descontinuadas por interesses políticos e eleitoreiros (Divulgação)
“A gente nunca esperava chegar nesse patamar, é difícil fazer a contabilidade. Se cada marmita tem em torno de 800 gramas, apesar de eu não saber fazer a conta muito bem, os 10 mil pratos entregues representam muita coisa. É muito quilo de comida!”, comenta Arouca com humor, porém, incrédulo com os números que, em pouco tempo, chegarão à marca de mais de 12 mil.
“Estamos atendendo hoje tanto o bairro Santos Dumont, na região da comunidade Santa Terezinha com entregas de 350 a 400 marmitas, quanto Jundiapeba, onde estamos chegando a 250 entregas em cada ação”, esclareceu o voluntário.
Apesar dos dados que surpreendem, a crise criada pelos altos preços de alimentos e a busca de orçamento para que o projeto continue crescendo, é um limitador.
“O preço da comida só aumenta e nós também estamos vendo uma diminuição na verba que chega por meio de doações. Em paralelo, o número de pessoas que nos procuram durante uma ação para conseguir garantir a marmita, cresce ainda mais. Cheguei a dar arroz em um saco plástico para uma pessoa, porque era o que havia sobrado”, revela o cozinheiro.
A fase atual do projeto está na realização de eventos e campanhas para arrecadar mais doações e recursos financeiros. Partindo dessa conquista, que precisará ser contínua, à passos lentos e cuidadosos, a iniciativa incluirá a execução da proposta-base que pretende ir além da própria entrega do alimento: discussões sociais, cursos e diálogos com a comunidade.
(Divulgação)
“O que nós imaginamos inicialmente enquanto íamos lá para fazer a comida, era agregar as pessoas para falar sobre saúde, violência contra a mulher, alimentação, moradia, sobre o que precisa ser mudado no bairro, e só agora nós estamos vendo essa parte começando a se concretizar aos poucos, depois de um ano”, compartilha Arouca, explicando como foi identificada a desconfiança nas comunidades em resposta a experiências em épocas eleitorais quando políticos iam até os bairros oferecendo alimentação e benefícios, mas acabavam sumindo algum tempo depois. As comunidades atendidas se mostram, portanto, desconfiadas.
“Queremos que a preocupação dessas pessoas não seja a alimentação e que a ação possa unir as pessoas. Por isso, para nós, a alimentação é um ato político. Não é só a questão de dar a comida, mas sim a comida estar ali para nós podermos articular (as comunidades) através disso”, conclui o cozinheiro.
A Educação como instrumento social
Informações sobre o grupo e a maneira como as pessoas podem se engajar nessa iniciativa podem ser obtidas nas redes sociais como @cursinhopopularmaio68, no Instagram, ou por meio de doações via PIX, para a chave: 36616058000101 (Divulgação)
Uma importante parceria foi responsável para o início do Projeto Mistura. Quando o recém-desempregado cozinheiro retornou a Mogi com a ideia de exercer a profissão para lutar contra desigualdades, Matheus Arouca conheceu Renan Castro, idealizados do Cursinho Popular Maio de 68, um projeto de educação e cultura desenvolvido em Mogi das Cruzes.
“O Renan já estava realizando entrega de cestas básicas desde o início da pandemia e eu vim com a proposta de preparar as marmitas e era exatamente o que ele estava procurando. Tocamos o projeto só para ver no que ia dar”, lembra Arouca, reconhecendo o alcance do Projeto Mistura atualmente.
O cozinheiro, durante entrevista a O Diário enfatizou nomes como o Fábio Santos, um dos líderes da comunidade no distrito de Jundiapeba que, além de ajudar na distribuição das fichas para as marmitas, contribui frequentemente com as discussões sobre temas como a moradia; como também a Matilde Ignez, a responsável pela cozinha na comunidade Santa Terezinha, localizada no bairro Santos Dumont.
O jornalista Gabriel Vieira, marido de Arouca e um dos parceiros da iniciativa, é um dos coordenadores do projeto e responsável pelo marketing do Mistura.
Informações sobre o grupo e a maneira como as pessoas podem se engajar nessa iniciativa podem ser obtidas nas redes sociais como @cursinhopopularmaio68, no Instagram, ou por meio de doações via PIX, para a chave: 36616058000101.
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