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RUMO À APARECIDA

Grupo de romeiras de Mogi reúne histórias de acolhimento e fé

Entre os dias 22 e 25 de julho, o grupo de mulheres cumpriu o caminho de 140 quilômetros entre Mogi das Cruzes e o Santuário de Nossa Aparecida

Larissa Rodrigues
30/07/2023 às 12:11.
Atualizado em 30/07/2023 às 12:24

Organizador da romaria de mulheres atendeu a um pedido na mulher, na primeira edição da romaria, que, atualmente tem 50 participantes: busca por uma vaga movimenta interessadas em fazer parte desta jornada de fé e fôlego (Foto: arquivo pessoal)

Organizador da romaria de mulheres que parte de Mogi das Cruzes rumo ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Armando Tsuyoshi Ikeda, de 68 anos, tem uma história antiga com o caminho. Em 2010, ele participou da primeira romaria dele, quando pagava uma promessa que tinha feito por um neto. Mesmo com a promessa paga, ele não deixou de participar e se une ao grupo anualmente desde então. Em 2016, começou a organizar os grupos femininos.

A ideia surgiu de um pedido da esposa dele, Cecília Ikeda, 68 anos, que junto a outras duas amigas lamentou o fato de não existir uma romaria de mulher. Como ele tinha um carro utilitário, decidiu, então, que serviria de apoio para que as três pudessem fazer a peregrinação, isso em 2017. Mas, conforme outras mulheres ficaram sabendo, o número aumentou rapidamente e a primeira romaria já contou com 17 participantes.

Alegrias e histórias fazem parte da rotina dos caminhantes durante a romaria, um rito que atrai cada vez mais pessoas (Foto: arquivo pessoal)

Não demorou para que o número aumentasse e agora, seis anos depois, 50 mulheres participaram da romaria que aconteceu entre os dias 22 e 25 de julho. Na equipe de apoio, Armando conta com outros voluntários, sendo que ele e mais dois vão caminhando e outros dois se dividem na direção dos veículos que acompanham a caminhada. Por conta de toda logística e do trabalho para a organização, ele não pretende aumentar o número de participantes. Para o próximo ano, já existe uma fila de espera de oito romeiras.

“Toda a preparação é muito trabalhosa, porque eu me esforço muito para que tudo saia certo. Eu também prezo muito pela segurança, então não posso levar um grupo grande para a estrada, porque elas precisam estar seguras. Hoje, eu reservo as vagas para quem já participa e, se elas falam que não vão, eu repasso as vagas para mulheres que são indicadas”, explica o organizador.

O número de mulheres que volta a participar costuma ser maior do que o número das que não repetem a experiência. A participação nas romarias tem disso e Armando é um dos exemplos. Ele lembra que a intenção era participar somente em 2010, quando pagou a promessa, mas agora faz o caminho todos os anos, muito por gratidão e também porque se apaixonou pelo grupo que o estendeu a mão quando ele precisou. A esposa dele, Cecília, também vai em todas as romarias das mulheres.

“Poder fazer o caminho como romeiro é bem legal, mas organizar é muito gratificante. Eu sei que com isso estou podendo participar do pagamento de promessas, ajudando essas mulheres a concluírem os objetivos delas e isso não tem preço. Eu faço tudo isso sem visar nenhum lucro, eu faço tudo por gratidão e por devoção a Nossa Senhora”, conclui Armando.

Acolhimento e fé

Professora aposentada Lilian Macedo Longo, de 57 anos, estava junto de Cecília Ikeda quando a ideia da romaria de mulheres surgiu. Mas, ela confessa: não se empolgou tanto com a ideia em um primeiro momento. As amigas corriam meia maratona juntas, mas ela teve receio quando pensou em caminhar na beira da estrada até Aparecida. Ainda assim, aceitou o desafio e acompanhou o grupo de 17 romeiras. Agora, já são seis anos integrando a romaria.

Este ano, com uma distensão na panturrilha, Lilian não poderia caminhar os quase 140 quilômetros. Então, andou em alguns trechos e nos outros serviu como apoio para as romeiras. No caminho, fazia massagens, cuidava das bolhas que surgiam nos pés de quem andava e organizava as paradas que eram feitas.

“Eu gostei muito de poder ajudar mais. Nós, que estamos no apoio, fazemos isso por amor e porque sabemos que todas ali têm uma história, uma promessa. Saber que podemos ajudar, mesmo que seja um pouco, é muito gratificante. Quando você chega ao Santuário, você se questiona como conseguiu, mas sabemos que é pela fé, que a Nossa Senhora nos carrega até lá”, afirma Lilian.

O apoio que ela presta é também psicológico. Com diversas histórias de dor e superação, ela está ali para ouvir as romeiras e animá-las quando é necessário.

 Histórias de fé unem mulheres 

O que parecia uma gripe do filho Miguel, hoje com 11 anos, mudou a vida de Cristiane Pereira Nicolau, de 39 anos. Tudo começou em 2021, quando o menino tinha nove anos e começou a ter com uma febre que não sarava. Passada uma semana e após algumas idas ao Pronto Atendimento, nenhum médico encontrava a causa da febre, até que o garoto começou a convulsionar. Depois disso, Miguel ficou internado por quase um ano. Nesse período, ainda sem saber se ele acordaria, Cristiane decidiu que participaria da romaria de mulheres para agradecer pela vida do filho.

Ainda sem um diagnóstico fechado, o caso de Miguel é tratado como Síndrome de Fires, uma condição rara que é caracterizada por crises convulsivas em crianças saudáveis e geralmente atinge meninos a partir dos oito anos de idade. Mas, para chegar até isso, o menino precisou passar por muitas horas e dificuldades em uma maca de hospital. Foram 10 meses de internação, sendo que em 7 meses ele estava sedado, em coma induzido, por conta das convulsões. Cada vez que os médicos tentavam reduzir a sedação, as convulsões voltavam mais intensas.

Tanto tempo no hospital – e, consequentemente, diversas intercorrências e tratamentos – fizeram com que um neurologista deve perspectivas bastante negativas para a família. Uma das opções era desligar uma membrana do cérebro para que ele não convulsionasse mais, o que também levaria diversas sequelas para o menino, que poderia ficar em estado vegetativo.

“Eu não queria chegar a esse ponto, queria tentar de tudo, porque queria ver meu filho feliz, brincando. Então, nós trocamos de equipe médica e o atendimento começou a ser feito de uma maneira muito mais humanizada, com uma médica que acredita que poderia tentar encontrar outras soluções para o Miguel”, lembra a mãe.

Em janeiro de 2022, quando a nova equipe médica assumiu o caso, o menino começou a mexer lentamente as mãos e com o trabalho dos fisioterapeutas passou a balbuciar o final de algumas palavras. Cristiane lembra com emoção de quando o irmão dele, Davi, que hoje tem 7 anos, foi visitá-lo no hospital e Miguel, ainda com dificuldades, falou “meu irmão”. 

Depois disso, Miguel ainda chegou a ter uma piora quando se preparava para deixar o hospital, mas no dia 3 maio de 2022 ele saiu. E a saída foi melhor do que o esperado, já que ele não precisava mais da traqueostomia. Em julho daquele ano, então, Cristiane fez a primeira romaria com o grupo de mulheres, que se uniu e comemorou a vida de Miguel e também o encontro da mãe com o filho já no Santuário Nacional. 

O menino tem sido um milagre até hoje e faz coisas que os médicos pensavam que talvez ele não seria mais capaz, como ir ao banheiro sozinho. Ele também anda e vai à escola sem cadeira de rodas, mesmo que em alguns dias tenha mais dificuldade.

“Eu nunca fiz promessas e nunca questionei Deus, eu sempre pedi para que ele me mostrasse o caminho, para que ele me mostrasse o que eu precisava mudar. Eu sempre fui católica e ia à missa, mas o Miguel e a romaria fortaleceu ainda mais a minha fé”, finaliza Cristiane. 

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