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SOCIAL

Ajuda voluntária aquece Mogi das Cruzes

Instituições que doam alimentos e roupas a pessoas em situação de vulnerabilidade auxiliam os trabalhos da Assistência Social

Mariana Acioli
18/06/2022 às 08:20.
Atualizado em 19/06/2022 às 08:25

Grupo prepara sopa para servir a pessoas em situação de rua e também a famílias necessitadas da cidade (Mariana Acioli)

Com custo médio de R$ 777,93 das cestas básicas, R$ 113,66 em um botijão de gás e salário-mínimo de R$ 1.212,00 - isso quando há emprego -, manter uma família ou até mesmo uma pessoa acaba sendo insustentável. O custo de vida que aumenta cada vez mais no país é uma das causas do aumento de pessoas em condições de vulnerabilidade.

Mogi das Cruzes soma aproximadamente 300 pessoas em situação de rua - metade acolhida pela Prefeitura Municipal, de acordo com Osni Damásio, coordenador do Centro-POP. O número tende a oscilar, motivado pela situação econômica das pessoas e problemas familiares. 

(Mariana Acioli)

Ações como a do Instituto SOPA, que assiste cerca de 3 mil pessoas no município, entre Jardim Aeroporto, Conjunto Jeferson, Rodeio e Jundiapeba, além de moradores em situação de rua, são exemplos de iniciativas que foram “ressignificadas”, segundo o coordenador.

“Essa é uma questão que já foi bem mais polêmica no passado e pelo o que entendemos dentro da proposta da política de assistência social, onde nosso trabalho é integral, busca garantir o que é de direito àquele indivíduo. Hoje, temos bem mais elaborada essa relação entre iniciativa privada e assistência social”, esclarece Damásio.
A real diferença que impacta a forma com que são encaradas as ações dos grupos, explica o coordenador, é ter sempre em mente que ambos os trabalhos têm objetivos diferentes.

(Mariana Acioli)

“O trabalho do assistente social é integral. Ele entende que aquele indivíduo precisa acessar o que é de direito dele. Então, quando nós acolhemos alguém, ouvimos suas demandas e, aos poucos, vamos buscando formas de supri-las, seja um atendimento médico, psicológico, contato com a família ou fazer um documento, nosso objetivo é integral com aquela pessoa”, explica Damásio.
Já nas iniciativas de grupos que realizam doações, os objetivos, apesar de serem mais pontuais, podem auxiliar os trabalhos dos assistentes sociais.

“Existem pontos convergentes e divergentes e a gente está tentando trabalhar pelos pontos que convergem. A gente orienta que quando eles encontrarem um idoso, por exemplo, que nos passem a informação, porque podemos focar lá naquele local. Entendemos que há as diferenças etárias. Criança, adolescente e idoso são prioridades e precisamos ir atrás”, detalha o coordenador, informando ainda que as iniciativas acabaram se tornando um facilitador na hora de encaminhar a pessoa em situação de rua ao acolhimento.

“Quando a pessoa vai entregar a sopa, um cobertor, até pedimos, se possível, para anotar o nome e perguntar se tem alguma necessidade. Se a pessoa falar precisa de documento de identificação ou quer voltar para a família em tal cidade, tal estado, pode trazer para nós. Isso nos ajuda também”, ressalta Damásio.

O que antes era visto como trabalho polêmico nos meios profissionais, trazendo uma visão de que as doações pudessem perpetuar a condição de dependência de uma pessoa em situação de rua ou vulnerabilidade, entende-se que é uma ação necessária que contribui para garantir o alimento e agasalho de alguém que não teria outro meio de conseguir aquela contribuição.

(Mariana Acioli)

“Com a pandemia, aumentou muito o número de família que assistimos aqui em Mogi, mas felizmente, aumentou também o número de doações. Mesmo assim, tem dia que vamos entregar as sopas nas ruas e falta, porque o número de pessoas também cresceu muito”, comenta Andreia Boaro, auxiliar de enfermagem e uma das voluntárias do Instituto Sopa há cinco anos.

A iniciativa criada por Odette Bueno de Almeida, conhecida como dona Odette, há 40 anos, na Vila Industrial, assiste hoje 600 famílias em Mogi, dois anos após sua morte. 

Às segundas e quintas-feiras, o projeto realiza as entregas em pontos fixos da região central da cidade, atendendo moradores em situação de rua, e aos sábados, elas acontecem em bairros cadastrados.

Para o fotógrafo Bruno Churuska, voluntário do instituto há pouco mais de dois anos, trabalhos como esses, partindo da iniciativa privada para entregar doações no município são importantes, pois garantem, além da refeição e roupa, o olho no olho que muitas vezes falta àqueles que estão sendo ajudados.

“Acredito que são ações necessárias, ainda mais nessa situação de pandemia e pós-pandemia. Se não tivermos o auxílio de outra pessoa, não vamos a lugar nenhum. Não é só um alimento que entregamos, entregamos uma conversa, um olhar de esperança para quem está precisando, então, é um conjunto de ações”, avalia o voluntário.

A contribuição parte da necessidade do outro, que, muitas vezes, não espera. “Não podemos só aguardar o poder público para tomar iniciativas. Cada indivíduo tem essa possibilidade, ajudando uma outra pessoa. Claro que o poder público entra para regulamentar, mas enquanto isso não acontece, é importante que haja essas ajudas porque a fome é instantânea, é agora, assim como o frio que estamos enfrentando”, alerta.

Realidade crescente

Quando se pensa que apenas moradores em situação de rua vão até os pontos de distribuição das sopas, a realidade não é bem essa. A reportagem de O Diário, que acompanhou o projeto na praça Oswaldo Cruz, entrevistou uma das pessoas que se alimentava da sopa na noite fria mogiana.

Claudinei Dias é aposentado,mora com a mulher, portadora de Alzheimer, e aproveitou a distribuição da sopa para garantir a alimentação daquela noite.

“Fui mandado embora da empresa em que trabalhava e agora estou tentando um outro lugar para ficar pelo menos uns seis meses, até o final do ano, para me ajudar com os empréstimos que pago”, conta Dias, compartilhando que hoje, apenas com os remédios da companheira, gasta mais de R$ 500,00

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