Entrar
Perfil
FOLCLORE POLÍTICO

Veja como foi que Padre Melo acabou se tornando prefeito de Mogi

Melo chegou, sentou-se à mesa e, antes que seu interlocutor falasse alguma coisa, foi logo dizendo que seria o seu vice e desfiando planos para a futura campanha

DARWIN VALENTE
03/11/2023 às 13:59.
Atualizado em 05/11/2023 às 16:03

Afinal, ele pode voltar? - Ele passou 26 anos como vereador, na Câmara de Mogi das Cruzes. Deixou o cargo para ser vice-prefeito de Marco Bertaiolli. Ficou no cargo por mais oito, em dois mandatos. Foram, ao todo, 38 anos na política, até que decidiu se aposentar. Mas há quem garanta que esse descanso pode estar com dias contados. Cuco poderia voltar à Câmara em 2024? Há quem garanta que sim... (Imagem: Divulgação/ CMMC)

Há muitas versões para explicar como foi que o então poderoso fundador da UMC e deputado federal pelo Ceará, Padre Manoel Bezerra de Melo, chegou a prefeito de Mogi das Cruzes, após ter sido eleito vice-prefeito numa chapa encabeçada por Francisco Ribeiro Nogueira, um ex-vereador de Mirassol, que se envererou pela política local, ao chegar a Mogi como agente do IBGE.

A coluna mostra a versão que lhe foi contada pelo ex-vereador, ex-deputado e médico, Francisco Moacir Bezerra de Melo Filho, o Chico Bezerra, cearense que foi muito próximo do ex-padre católico até que a política os distanciou.

Segundo ele, o primeiro incentivo para Melo se candidatar a prefeito decorreu de uma visita feita por ele, Chico, acompanhado de seus colegas vereadores Taubaté Guimarães e Luiz Teixeira, ao gabinete do então deputado, em Brasília.

Melo, que à época, morava em Fortaleza, no Ceará, com sua família, gostou da ideia de voltar a Mogi para ser candidato à Prefeitura.

Mas havia pelo menos dois empecilhos.A oposição da mulher, Maria Coeli, e a excelente performance de Francisco Ribeiro Nogueira, o Chico Nogueira, nas pesquisas  de opinião.

Elas indicavam que Melo corria sério risco de ser derrotado no pleito, o que inviabilizaria os seus planos de voos mais altos no futuro, dentro da política.

Numa reunião , o grupo político do cearense  decidiu que seria mais seguro  lançar alguém como vice de Nogueira. 

O indicado de Melo foi Chico Bezerra, que reagiu:

“E por que não o senhor?”

Era o que ele queria ouvir naquele momento.

De sua sala, ligou para a mulher que, após algum tempo relutante, concordou com a ideia.

Afinal, imaginava que Melo seria um mero coadjuvante do prefeito. 

No embalo, Padre Melo pediu que Chico Bezerra marcasse uma reunião com Chico Nogueira para apresentar a proposta ao prefeiturável.

O encontro viria a ocorrer no antigo restaurante Don Pepe de España, na praça Norival Tavares, e teria sido testemunhado pelo empresário Henrique Borenstein, que almoçava numa mesa ao lado.

Sempre um trator dentro da política, Melo chegou, sentou-se à mesa e, antes que seu interlocutor falasse alguma coisa, foi logo dizendo que seria seu vice e desfiando planos  para a campanha. 

Dinheiro e prestígio, é claro, falaram mais alto e Padre Melo terminou o almoço como vice de Nogueira.

O que aconteceu dali em diante, a maioria já sabe: a “Dobradinha da Esperança” venceu  o pleito e, no segundo ano de governo, Padre Melo assumiu de vez a Prefeitura, após a morte súbita de Nogueira, vítima de um infarto, numa viagem aérea para Brasília.

Melo fez um bom governo e Maria Coeli, a eterna opositora, cumpriu, com méritos, o seu papel de primeira-dama do município.


Cutucando com a vara curta

Mais uma historinha da terra de Padre Melo, Chico Bezerra e do médico Melquíades Portela.

Segundo o jornalista Claudio Humberto, a imprensa do Ceará não falava em outra coisa.

Nos anos 1980, quando faltavam só três  meses para acabar seu mandato, o governador da terrinha, Manoel de Castro, já teria assinado mais de 15 mil nomeações para a sua administração, que já punha gente até pelas janelas, tamanho era o inchaço na máquina administrativa.

O repórter Nelson Fabeina, da TV Verdes Mares, foi pautado para repercutir a história, ou melhor, o escândalo.

“Governador, é verdade  que o senhor nomeou 15 mil pessoas?”

Castro não se fez de rogado e lascou:

“É mentira. Nomeei 30 mil. São pessoas humildes e, como elas, ainda vou nomear mais. E, olhe bem, não me pergunte mais nada. Não admito ninguém me cutucar com vara curta".

E foi embora, solene.


Um presente temporário

Waldemar Costa Filho havia acabado de assumir a Prefeitura de Mogi para o seu terceiro mandato.

Cuco Pereira, que não escondia sua aspiração de chegar ao Executivo, era presidente da Câmara.

Certo dia, numa visita ao gabinete, Waldemar lhe perguntou:

“Cuco, você quer ser prefeito de Mogi?”

Ele se assustou:

“Por quê? o senhor vai me apoiar daqui a quatro anos?"

Waldemar não respondeu e logo mudou de assunto.

Passados alguns dias, chegaram à Câmara  dois pedidos de licença.

Do prefeito Waldemar e de seu vice, Nobolo Mori.

A Câmara aprovou e, pela ordem sucessória, quem acabou assumindo a Prefeitura, pela primeira vez, foi Cuco, que só então entendeu o real sentido da pergunta feita pelo amigo que lhe ofereceu, o cargo de presente.

Mesmo que temporário.

 Em dia, com a boemia

Outra do jornalista Claudio Humberto, em seu livro “Poder Sem Pudor”, cheio de boas histórias sobre a política e políticos. Lula conhecia mesmo os companheiros de boemia.

Certo dia, ele então presidente, ouviu do deputado Luiz Antonio Fleury Filho, a garantia de que sua candidatura a presidente da Câmara era mesmo para valer.

Até porque na noite anterior havia fechado um acordo com o deputado Virgílio Guimarães, colega de partido do presidente. 

Lula o interrompeu:

“A que horas vocês fecharam esse acordo?”

Fleury respondeu :

“Uma e meia da manhã”.

Lula deu uma risada:

“Ah, então foi mesmo o Virgílio!”

E Fleury jamais chegou a presidente da Câmara Federal...

Conteúdo de marcaVantagens de ser um assinanteVeicule sua marca conosco
O Diário de Mogi© Copyright 2023É proibida a reprodução do conteúdo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por