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FOLCLORE POLÍTICO

Recepção a presidente nacional da Merenda termina com confusão, em Mogi

Prefeito exige restituição de dinheiro gasto com almoço para receber o chefe da Merenda Escolar Nacional, que visitava o setor, em Mogi das Cruzes.

Darwin Valente
19/11/2023 às 12:40.
Atualizado em 19/11/2023 às 12:42

AS HISTÓRIAS DO TUTA Os causos que José Carlos Miller da Silveira, o Professor Tuta, gostava de contar fizeram, por muito tempo, a alegria dos ouvintes da antiga Rádio Diário. Diariamente, Tuta participava, com muito bom humor, do noticiário esportivo que ocorria no fechamento do “Jornal da Cidade”, o principal programa jornalístico da emissora (Arquivo - O Diário)

A história que abre a coluna de hoje é uma homenagem a José Carlos Miller da Silveira, o saudoso Professor Tuta, falecido em 3 de junho de 2019, poucos dias antes de completar 88 anos, no dia 30 daquele mesmo mês. 

O desportista que empresta seu nome ao mais novo ginásio poliesportivo do Mogilar também foi um grande contador de histórias de personagens mogianos, lembradas graças à sua privilegiada memória.

Como esta, por exemplo.

Ele contava que sua sogra, dona Iracema Brasil de Siqueira era respeitada “como mãe” pelo ex-prefeito Waldemar Costa Filho, a ponto de convidá-la para ser diretora da Merenda Escolar de Mogi, durante o primeiro de seus quatro governos. 

Certo dia, veio de Brasília para visitar o setor, em Mogi, o presidente da Merenda Escolar Nacional, Hélio Prado. 

Tratava-se de um visitante ilustre que estava percorrendo e vistoriando as merendas de todo o Estado de São Paulo.

Dona Iracema tratou de oferecer a ele o merecido tratamento, servindo um almoço especial, no prédio da própria Merenda.

Em seguida, ela redigiu, de próprio punho, uma carta destinada a Waldemar, justificando a retirada de verba de outro setor de sua pasta para oferecer o nobre repasto aos visitantes.

Quando entregou o documento ao prefeito, ele leu, releu  e, logo em seguida, enviou um bilhete para a assessora que ele tanto respeitava.:

“Essa justificativa está tão bonita que deverá ficar nos anais da Prefeitura de Mogi das Cruzes para que possa ser vista no futuro. Mas a senhora tem 24 horas para repor o dinheiro gasto”.

Dona Iracema ficou desesperada e foi falar com Waldemar.

O prefeito não voltou atrás, mas fez uma lista, que ele próprio abriu com uma respeitosa quantia em dinheiro, e fez também com que todos os secretários assinassem e disponibilizassem o dinheiro dentro de 24 horas.

O custo do almoço foi coberto, dona Iracema se acalmou  e a vida seguiu normalmente na Prefeitura de Mogi.Se é que poderia se falar em normalidade com Waldemar no cargo de prefeito municipal.

As histórias do Professor Tuta são lembradas até hoje pelos seus amigos mais próximos, como os que estavam do lado dele, num jantar, promovido no apartamento do empresário e cirurgião dentista, Miguel Nagib.

Naquela noite, embalado por algumas doses de seu uísque preferido, Tuta deixou gravado em vídeo como gostaria que fosse o seu velório: com muita música, bebidas e salgadinhos para todos, além de algumas outras, digamos, excentricidades. 

A gravação foi parar nas redes sociais, mas seu “desejo” não chegou a ser realizado.


Deu bicho na cabeça

Antes de se tornar fonte de lucros para o crime organizado, o jogo do bicho teve seus dias de glória, especialmente no Rio de Janeiro, onde surgiu, em 1892, criado pelo Barão João Batista Viana Drummond, na forma de uma inocente rifa destinada a custear as reformas do Jardim Zoológico, que ele fundara na então “Cidade Maravilhosa”.

Como no jogo os números representavam  animais, sempre houve quem buscasse apostar  em algarismos ligados a momentos históricos.

Em 1º de março de 1923, dia em que faleceu Ruy Barbosa, o “Águia de Haia”, a águia foi extremamente carregada.

E... deu, na cabeça.

Naquela  semana, porém, a milhar mais jogada em todo o País foi a 6.259 (jacaré).

O número correspondia ao do decreto que proibiu o jogo do bicho em todo o território nacional, conforme conta o jornalista Sebastião Nery, em seu livro sobre o folclore político nacional.

 Mantendo a credibilidade

O jogo do bicho também teve seus dias de glória em Mogi, quando era comandado pelo dono da principal funerária da cidade.

O território era dividido entre outros bicheiros, que se uniam toda vez que alguém acertava um grande prêmio.

Eles se juntavam para pagar, visando manter a “credibilidade” do jogo na cidade.

Foi o que aconteceu, quando um conhecido empresário mogiano, ligado à área das comunicações, acertou uma milhar na cabeça.

Era muito dinheiro, mas o chefe do jogo o procurou e garantiu: o prêmio seria pago em três parcelas, até o final da semana seguinte.

E assim foi feito.

O dinheiro foi entregue em mãos, em sua totalidade, como assegurado e garantiu o pagamento do décimo terceiro salário dos funcionários da pequena empresa.  

Na feira do rolo

Esta foi contada pelo ex-vereador Antonio Lino, recentemente falecido, que estava ao lado de Waldemar Costa Filho, numa ida à Catedral para falar com o bispo da época sobre sem-tetos que ele havia enviado a suas cidades de origem.

Parou o carro ao lado da praça Coronel Almeida, bem próximo da famosa “Feira do Rolo”, onde até hoje se vende de tudo, especialmente relógios de procedências nem sempre garantidas.

Foi reconhecido.

“Seu Waldemar, venha cá!”, convidou um dos “roleiros”. 

“Eu não vou, pois se for até aí, mando prender todos vocês, que estão vendendo coisas roubadas”.

A reação desanimou  o grupo, de onde saiu o cumprimento final:

“Então, é melhor passar bem, seu Waldemar...”

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