Diário Logo

Notizia Logo

Pícaro, jornal alternativo dos anos 80, pode ser revisitado na internet

Durante quatro longos anos, entre 1984 a 1988, ele foi a expressão maior da chamada “imprensa alternativa” de Mogi das Cruzes. Criado por um grupo que se dispunha a “revisar as referências culturais da cidade”, a publicação incomodou muita gente, ao se opor ao status quo­ da cidade, muito mais conservadora que nos dias atuais. […]

16 de maio de 2023

Reportagem de: O Diário

Durante quatro longos anos, entre 1984 a 1988, ele foi a expressão maior da chamada “imprensa alternativa” de Mogi das Cruzes. Criado por um grupo que se dispunha a “revisar as referências culturais da cidade”, a publicação incomodou muita gente, ao se opor ao status quo­ da cidade, muito mais conservadora que nos dias atuais. Do prefeito da época aos vereadores, passando pela área cultural e até pela própria imprensa, ninguém escapou do olho crítico e da língua (ou pena) ferina de seus redatores.

Representante do que, naquele tempo, se chamava contracultura, o jornal em formato tablóide veio na esteira dos “nanicos” e “alternativos” nacionais. Com uma linha um pouco diferente de Movimento e Opinião, e mais próxima de O Pasquim, o Pícaro adotou o humor escrachado junto com artigos e entrevistas de artistas, publicitários e escritores e outros marginalizados daqueles tempos difíceis para tratar de assuntos tabus e questionar valores e práticas da cultura dominante à época no País, principalmente em Mogi das Cruzes.

Os mais jovens, que nunca ouviram falar do Pícaro, assim com os veteranos que quiserem matar saudades das loucuras de Luci Suzuki, Jairo Máximo (jornalista hoje na Espanha), Jorge Beraldo (o fotógrafo) e João Castilho Neto (artista plástico), seus idealizadores, e de outras quase duas centenas de colaboradores que participaram de suas 17 únicas edições, agora podem recorrer à internet (www.jornalpicaro.com.br) para rever todo o material que foi resgatado do Arquivo Público Municipal e inteiramente digitalizado graças, principalmente, ao trabalho da publicitária Roberta Regato.

Vale a pena reviver um pouco da marginália da época na cidade, como expõe o editorial assinado por Jairo Máximo e Walter de Souza, que apresenta a reedição digitalizada:

“Mogi das Cruzes, que sempre viveu o dilema de se localizar próxima à Capital, onde esse movimento cultural explodia, mas de guardar uma trajetória histórica tradicionalista, teve, naquele período, uma voz dissonante alinhada com o movimento alternativo. O jornal Pícaro se propôs revisar as referências culturais da cidade. Com esse objetivo, sua equipe de redação conseguiu atrair nomes importantes do cenário alternativo que, inclusive, fizeram conteúdos exclusivos para o jornal. Entre eles estão o poeta e escritor Paulo Leminski (1945-1989); o publicitário Carlito Maia (1924-2002); a “musa” underground Cláudia Wonder (1955-2010) que animava as noites da antológica Madame Satã, casa noturna de São Paulo; o diretor e ator Cacá Rosset, do Teatro do Ornitorrinco; o escritor e dramaturgo Antônio Bivar (1939-2020); o cartunista Glauco (1957-2010); o artista plástico e grafiteiro John Howard; o roteirista Bráulio Mantovani, entre outros colaboradores.

Foram quatro anos de criatividade traduzidos em 17 edições. Enfim, depois de quatro décadas o Pícaro cai na rede para contar sua história. É o nosso presente para as futuras gerações.”

Veja Também