O chefe do Executivo passou a noite em claro, tentando encontrar a melhor maneira de atender ao pedido que lhe fora feito pela sua comadre, uma eleitora de estimação
Baiano de Salvador, que viveu entre 1849 e 1923, Ruy Barbosa foi jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e grande tribuno. Foi um dos intelectuais mais reconhecidos de seu tempo e, por isso mesmo, personagem de muitas histórias do folclore político, como a que é lembrada na coluna de hoje. Um notável cidadão brasileiro (Foto: reprodução / internet)
Argêu Batalha, o mais eficiente e discreto auxiliar de mais de uma dezena de prefeitos que passaram pela Prefeitura de Mogi, foi testemunha ocular de muitas histórias.
Algumas até reveladas para amigos, mas sem cair na tentação da indiscrição. Contava o milagre, mas sem jamais revelar os santos. Ou seja, mantinha em absoluto sigilo as identidade de seus personagens.
A história que abre a coluna de hoje foi contada num momento de descontração, num gabinete da Prefeitura de Mogi.
Argêu lembrava que, na saída de um antigo prefeito do cargo, o assessor lhe perguntou qual teria sido o momento mais complicado daquele mandato.
Para quem havia acompanhado de perto as dificuldades provocadas por um orçamento curto e tantos outros problemas testemunhados ao longo de quatro anos, a respota parecia óbvia. Mas não foi.
O prefeito contou então que na metade de seu mandato havia sido procurado por uma de suas muitas comadres. Como prefeito populista que se preze é, invariavelmente, padrinho de muitas crianças, ele recebeu a comadre imaginando algum pedido para melhorar a vida de seu afilhado.
Mas errou redondamente.
A comadre, na verdade, o procurou para se queixar do marido, um insaciável e libidinoso homenzarrão de quase dois metros de altura.
Alegava a pobre mulher que o esposo lhe exigia sexo todo dia e toda hora, não respeitando nem mesmo aqueles dias sagrados do Regulador Xavier, remédio muito em voga naquela época.
A mulher dizia haver chegado à exaustão plena, a uma verdadeira estafa que já caminhava para uma depressão, coisa pouco comum naqueles tempos.
O prefeito ouviu tudo aquilo em silêncio e evitou entrar em maiores detalhes pelo respeito devido à comadre.
Porém, bastou que ela saísse do gabinete para que ele também quase estressasse diante do apelo que acabara de receber.
O assunto era por demais delicado para tratar com o compadre, que teria todos os motivos para levar a mal aquela conversa. À noite, em sua casa, o político não dormiu, imaginando uma fórmula mágica para tratar do assunto com a pessoa franca e estúpida mesmo de seu compadre.
O dia amanheceu e ele já estava quase desistindo da missão quando se lembrou que com apelo de comadre não se deve brincar, para não perder os votos da família.
Abatido pela noite praticamente em claro, ele foi para a Prefeitura e. por fim, criou coragem e mandou que assessor chamasse o bruto até o gabinete.
Falando alto, o compadre entrou na sala querendo saber o motivo do convite. O prefeito, então, respirou fundo, tomou coragem e, como um professor, falou:
“Meu amigo e compadre, queria lhe fazer um pedido muito delicado. Poupe mais a minha comadre, a fim de você usufruir mais.”
Se melhorar, estraga
Esses tempos de tragédias no Litoral Norte do Estado, guerra na Ucrânia, inflação subindo, juros nas alturas, Mogi-Bertioga interditada, junto com a ressaca do governo Bolsonaro, trazem à lembrança o escritor José Sebastião Witter, um professor das antigas, emérito da USP e articulista dos bons, que dividiu conosco, por muito tempo, as páginas deste diário.
Witter era, acima de tudo, um cronista da cidade, que em suas andanças matutinas pelas ruas de Mogi encontrava assunto de sobra para suas crônicas.
O professor implicava com tudo e com todos, o que lhe valeu o apelido de “Zé da Bronca”, com o qual ele próprio se divertia muito.
Certo dia,Witter estava olhando as manchetes dos jornais numa banca do centro de Mogi, quando um amigo o encontrou e provocou:
“E aí, professor, como vão as coisas?”
E ele, de pronto:
“Para quem gosta do péssimo, está ótimo!”
Tudo verdinho
O engenheiro Orlando Pozzani Júnior, na década de 70 era coordenador de Obras, Viação e Serviços Municipais da Prefeitura.
Mogi, com muitas ruas de terra, enfrentava o problema do mato que crescia muito rápido, especialmente em épocas de chuva, como agora.
Pozzani soube então de um novo herbicida conhecido como “mata-mato”, que era tiro e queda para o problema.
Foi à Casa da Lavoura, onde o engenheiro Edison Consolmagno lhe deu uma amostra do tal produto.
E instruiu para que fosse aplicado com regadores, já que não havia pulverizadores na Prefeitura.
As instruções foram passadas e, tempos depois, ao encontrar o encarregado da manutenção, Pozzani quis saber sobre a eficiência do “mata-mato”.
E recebeu a resposta:
“Não funcionou, doutor! A gente arranca o mato e coloca dentro do tambor com a água E o tal produto e ele não morre; continua verdinho, verdinho...”
Até hoje, o engenheiro Pozzani não conseguiu descobrir onde foi que ocorreu a falha na comunicação.
Ruy Barbosa e o ladrão de galinhas
A história é antiga, mas vale reprise.
Certa vez, um ladrão pulou o muro da casa de Ruy Barbosa para roubar uma galinha.
No alvoroço, o grande tribuno acordou e se dirigiu ao galinheiro. Lá chegando, viu o ladrão, já com uma de suas galinhas e lhe passou um carão:
“Não o interpelo pelo bicos dos bípedes palmípedes, nem pelo valor intrínseco dos retrocitados galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência . Se foi por mera ignorância, perdôo-te, mas se foi para abusar da minha alta prosopopeia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que dar-te-ei tamanha bordoada no alto da tua sinagoga que transformarei sua massa encefálica em cinzas cadavéricas, que poderão servir de pasto para os abutres”.
O ladrão, se entender nada, tascou:
“Cumé, doutor, posso levar ou não a galinha?”
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