Secretário da Saúde do Estado de São Paulo durante a pandemia e atual professor da UMC diz que repetiria tudo o que fez durante a fase mais aguda da doença, especialmente os lockdowns e vacinação em massa da população.
Os amigos de longa data, Jean Gorinchteyn e Melquíades Portela, se encontram às quartas-feiras na Policlínica da UMC, onde o ex-secretário de Saúde do Estado é professor (Arquivo Pessoal)
O ex-secretário de Estado da Saúde de São Paulo, médico Jean Gorinchteyn, em conversa com a coluna, lamentou o fato de, no máximo, 29% da população brasileira haver tomado a quinta dose, a chamada dose de reforço, da vacina contra o coronavírus, disponibilizada nos postos de saúde, na fase final da pandemia de Covid-19.
Apesar de considerar a pandemia controlada, o especialista em saúde pública e professor da cadeira de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da UMC alerta que é necessário a manutenção da vacinação que já protege 96% da população contra o vírus, o qual, por conta disso, deixou de ser um problema capaz de impactar os serviços de saúde, como no passado recente.
Por ser considerada, agora, uma doença endêmica, a Covid-19 continua a merecer atenção especial das autoridades sanitárias em razão da facilidade do surgimento de novas variantes do vírus, garante ele:
“O mundo não está vacinado”, alerta o médico, lembrando que a intensa circulação de pessoas pelos mais diferentes cantos do mundo é um grave complicador para a transmissão dessas novas cepas.
“Por isso, é importante a vacinação e chega a ser preocupante o fato de que somente 29% da população tenham recebido a dose de reforço, ficando muito distante da meta estipulada, que era de 95%. É um problema, mas mesmo assim, não tivemos grandes impactos na saúde pública”, diz Gorinchteyn, atribuindo parte dessa situação ao descuido da população, possivelmente em razão da sequência de doses aplicadas durante a pandemia.
Segundo o sanitarista, a vacina contra a Covid-19 deverá ser incorporada, em definitivo, ao calendário nacional e imunização anual para toda a população, como já ocorre, por exemplo, com a gripe.
Ele espera que isso aconteça a partir de 2024, já que para 2023, o governo federal está anunciando uma vacinação específica para trabalhadores da saúde, idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, pessoas com comorbidades, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, entre outros casos específicos.
Caso sobrem doses da vacina, elas serão aplicadas na população em geral.
“É fundamental que todos os grupos sejam contemplados com a vacina, como deverá ocorrer em 2024, mas é preciso também que haja a conscientização das pessoas para que compareçam aos postos de vacinação”, alerta o médico, reconhecendo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou um “grande desserviço” ao País, deixando de apoiar as vacinas, o que incentivava as pessoas a não tomá-las.
Gorinchteyn, que dá aulas na UMC às quartas-feiras, atende em seu consultório, além dos hospitais Albert Einstein e Vila Nova Star, em São Paulo. Nas vindas para Mogi, visita, quase religiosamente, o amigo e também médico, Melquíades Portela, coordenador da Policlínica, onde ele também atua. A amizade entre ambos vem dos tempos em que o ex-secretário era aluno da Faculdade de Medicina da UMC, onde se formou médico e tornou-se seu professor, muito antes da pandemia de Covid-19.
Gorinchteyn garante inda estar “muito tranquilo” em relação ao trabalho realizado por sua equipe durante a pandemia. E diz que repetiria, se preciso fosse, as campanhas de vacinação, lockdowns e outras medidas tomadas durante toda a fase mais aguda doença que levou a óbito cerca de 800 mil de pessoas em todo o País, segundo o Ministério Saúde.
Um possível retorno às atividades na área da saúde pública não está definitivamente descartado. Muito pelo contrário. Por pouco, ele não veio a integrar, em definitivo a equipe que elaborava o programa de governo de pré-campanha de Guilherme Boulos, do PSOL, candidato à Prefeitura de São Paulo, nas próximas eleições.
Convidado a liderar a equipe responsável pelo programa de saúde do pré-candidato, Gorinchteyn, que é judeu, não tinha o mesmo pensamento de Boulos e seu partido em relação à questão palestina.
Mas ambos teriam concordado que o trabalho seria feito distante das questões ideológicas ou religiosas, com cada um em seu espaço.
Eles só não esperavam o que aconteceu em 8 de outubro, quando houve o ataque-surpresa do Hamas a Israel.
Pai de um rapaz que já serviu ao exército israelense, Gorinchteyn teve oportunidade de ver alguns vídeos publicados em grupos de antigos amigos de seu filho e se exasperou diante do que assistiu:
“Foi uma barbárie. Eram crianças sendo mortas e depois assadas, mulheres grávidas forçadas a abortar e vendo o filho ser decapitado a faca. Um horror”, contou ele que, diante de tudo isso, foi até Boulos e exigiu dele um posicionamento firme “contra o Hamas e suas atrocidades”.
“Ele me disse que não poderia falar contra o Hamas e eu, então, disse que não poderia ficar ao lado dele. Saí por uma questão de escolha, pois acredito que certos valores e princípios são indiscutíveis e inegociáveis”, concluiu Gorinchteyn.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com isso. Para mais informações leia a nossa termos de uso e política de privacidade .