Num encontro com dom Pedro Stringhini, ele lembrou uma história envolvendo o ex-prefeito Waldemar Costa Filho e o primeiro bispo de Mogi, dom Paulo Rolim Loureiro
Aos 66 anos, Antonio Lino da Silva partiu, na madrugada do último domingo (5), lutando contra uma leucemia que parecia controlada após longas e penosas sessões de quimioterapia e outras intercorrências. Vereador por sete mandatos, Antonio Lino tinha dois sonhos que não realizou: ver a filha Camila formada em Medicina, no próximo ano, e... ser prefeito de Mogi das Cruzes (Arquivo)
O ex-vereador Antonio Lino da Silva, que faleceu no domingo (5), vítima de uma traiçoeira leucemia, dada como curada pelos médicos, era, antes de tudo, um grande contador de histórias, muitas delas acompanhadas ou vividas pelo político de Cambé, no Paraná, que fez carreira em Mogi.
Lino gostava de contá-las, como fez, tempos atrás, num encontro com o bispo diocesano de Mogi, dom Pedro Luiz Stringhini.
Naquele julho de 2018, ele lembrou que o ex-prefeito de Mogi, Waldemar Costa Filho, e o falecido bispo, dom Paulo Rolim Loureiro, o primeiro a ocupar tal cargo na recém-criada Diocese de Mogi, sempre se respeitaram, apesar de o político que governou Mogi por 18 anos, invariavelmente, procurar manter certa distância de alguns religiosos, em especial daqueles que não costumam rezar pelo seu próprio breviário.
O clima amistoso entre os dois, no entanto, teria desandado, por algum motivo que nem o ex-vereador conhecia, algum tempo antes de um acidente automobilístico ocorrido no centro de São Paulo, causar a morte de dom Paulo Rolim, no dia 2 de agosto de 1975.
O tempo passou, Waldemar continuou na política e, em 1976, se elegeu prefeito pela segunda vez, permanecendo no cargo por seis anos, por conta de uma prorrogação de mandatos determinada pelo regime militar da época.
Foi justamente durante esta administração que Waldemar se aventurou pela Serra do Mar, ligando Mogi à Baixada Santista, com a rodovia Mogi-Bertioga.
Tempos depois, entretanto, o prefeito mogiano teve de engolir quando algum deputado estadual, buscando fazer média com a Igreja Católica, solicitou ao governador da época que desse àquela estrada o nome de Rodovia Dom Paulo Rolim Loureiro.
E assim foi feito.
Após a publicação da medida governamental no Diário Oficial, foi então, sempre segundo o relato de Antonio Lino, programada uma solenidade para marcar tal efeméride.
E no esperado dia, diante das autoridades presentes, o locutor oficial do evento empostou a voz, como o momento exigia, e anunciou, no ápice da festa, o descerramento da placa com o nome do religioso denominando a estrada que Waldemar construíra.
Para surpresa geral, no entanto, não havia placa alguma debaixo do cetim colorido que deveria esconder tal mimo.
Foi então que, sempre segundo o relato de Lino, o prefeito Waldemar entrou em cena e disse, em alto e bom som, para que todos ouvissem:
“Não tem placa porque eu não mandei fazer; e eu não mandei fazer porque ele (o bispo) não merece”.
Dom Pedro, o quinto bispo de Mogi, teria ouvido tudo, em silêncio, ao lado de seus convivas, entre eles, o prefeito da época, Marcus Melo, e alguns de seus assessores mais próximos e ligados à Igreja Católica na cidade.
Políticos lamentam a morte de Antonio Lino e falam sobre o seu legado político e social.
Um cafezinho reforçado
Campanhas eleitorais sempre renderam situações constrangedoras.
Como a que Antonio Lino contava que enfrentou numa de suas caminhadas atrás dos votos, pela periferia de Braz Cubas, um de seus principais redutos eleitorais.
Contou ele que, certa tarde, foi bater à porta de uma família humilde, no final do Jardim Aeroporto III.
Foi muito bem recebido pela chefe da casa, sua velha conhecida que, além de lhe garantir os votos, também exigiu que ele tomasse um gole de seu cafezinho.
Como candidato em campanha não pode recusar ofertas desse tipo, Lino foi para a cozinha e viu quando a mulher despejou o café numa caneca que estava sobre a mesa.
Lino recebeu e, ao olhar para o cafezinho, viu boiando sobre o líquido uma... barata.
Pensou mais de uma vez, encheu-se de coragem, e bebeu. Só o café, é claro...
Um alto preço pelos votos de todos daquela casa.
Lição de (in) segurança
Antonio Lino estava acompanhando Waldemar numa reunião de campanha no Botujuru, quando um morador o questionou sobre como fazer para ter mais segurança por lá.
Waldemar arrancou da maleta um “trezoitão” e disse:
“Compre um desse aqui e aprenda a atirar”.
Ao olhar para o lado, deu de cara com olhar desaprovador do padre Attilio Berta, pároco do bairro e diante da plateia, se desculpou:
“Perdão, padre, perdão!”, disse o candidato a prefeito que, ao se virar para a porta de saída do salão, notou que lá estava o delegado Marcos Batalha, que viria a ser seccional de Mogi.
A autoridade observava tudo aquilo em silêncio.
Waldemar virou-se, então, para o amigo Antonio Lino e fez o seu “mea culpa” definitivo:
“Antuninho (como ele o chamava), vamos embora; fiz uma cagada!!!”
Omelete diferente
Depois de visitar o sítio de sua propriedade, nos arredores de Braz Cubas, onde costuma colher frutas e verduras lá produzidas, Antonio Lino teve de vir rapidamente para o centro da cidade, onde tinha compromissos políticos a cumprir.
Resolveu, antes da partida, presentear amigos com ovos caipiras que ele acabara de retirar dos ninhos de suas penosas.
A surpresa não poderia ter sido pior: ao abrir o porta-malas, em lugar dos ovos, encontrou uma verdadeira omelete.
Com os solavancos da viagem, a maioria dos havia se quebrado e escorrido por entre espigas de milho e o restante da “feira”.
O negócio foi correr para um lava-rápido, antes que o odor dos ovos impregnasse de vez no veículo.
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