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Figueiredo, um presidente visita o Cocuera

Na semana em que uma viagem de políticos mogianos a Brasília acabou por se transformar em verdadeira patacoada, vale lembrar, aqui neste espaço, o dia em que os políticos brasilienses resolveram invadir Mogi.  O general João Figueiredo era presidente da República, na época em que o prosaico chuchu passou a ser considerado o grande vilão […]

7 de maio de 2021

Reportagem de: O Diário

Na semana em que uma viagem de políticos mogianos a Brasília acabou por se transformar em verdadeira patacoada, vale lembrar, aqui neste espaço, o dia em que os políticos brasilienses resolveram invadir Mogi. 

O general João Figueiredo era presidente da República, na época em que o prosaico chuchu passou a ser considerado o grande vilão da inflação que começava a ser descontrolar. 

O militar da Cavalaria, que pouco ou nada sabia sobre agricultura, decidiu visitar o Cinturão Verde de São Paulo para tentar entender, entre outras coisas, como um pé de alface que saía daqui a um preço lá em baixo, chegava à mesa do consumidor com o preço lá em cima, sem que tal passeio justificasse tamanho aumento. O poderoso Delfim Netto era ministro da Agricultura e escolheu Mogi para a visita do presidente militar. 

Figueiredo chegou por volta do meio-dia, almoçou na Churrascaria Cascata, no início da avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco, seguindo, logo depois, para o Cocuera e adjacências. 

O périplo do general o levou a estradas de terra batida que interligavam os sítios da zona rural, aonde conversou com produtores, sempre acompanhado do escudeiro Delfim e de outros integrantes do primeiro escalão do governo. As visitas se estenderam por toda a tarde, deixando para trás um rastro de esperança para os produtores rurais que, após receberem tão ilustre visitante esperavam ver todos os seus problemas solucionados. Afinal, ali haviam estado nada menos que o presidente da República e o todo-poderoso czar da Agricultura.

 Tudo parecia caminhar maravilhosamente. Pois o ditador de poucas palavras e cara fechada havia sorrido bastante nas conversas com os japoneses e seus descendentes, todos produtores rurais, e se mostrado muito à vontade durante toda a visita.

Representantes do setor rural exultavam. Havia expectativa mais que positiva da parte de todos eles; afinal, aquele havia sido um fato inédito dentro do governo: um presidente deixar Brasília para se enfiar pelas estradas poeirentas da zona rural de Mogi das Cruzes. 

Depois daquele dia, os pequenos produtores rurais da região  seriam, finalmente, reconhecidos e respeitados.
Foi o assunto do dia entre os agricultores e também na grande mídia que acompanhou de perto a visita de Figueiredo, especialmente pelo seu ineditismo.

Todo aquele otimismo, no entanto, durou até o início do Jornal Nacional, da Rede Globo, cuja manchete principal anunciou: “Presidente Figueiredo  nomeia Delfim Netto ministro do Planejamento”. A pasta era a que dava as cartas na economia de então. 

Delfim subiu de posto. Para os agricultores, continuou tudo na mesma.

Médico esperto 
Quando não está no Facebook esbravejando contra coisas erradas da cidade, Joel Avelino Ribeiro, morador de César de Souza, preserva os velhos hábitos dos contadores de histórias do Vale do Ribeira, onde nasceu e passou os primeiros anos de sua vida.  É Joel quem conta que no INSS de Mogi, em tempos passados, havia um médico perito que quando alguém requeria  aposentadoria por problema na coluna, dava um jeito de, durante a consulta, derrubar alguma coisa de sua mesa. Querendo ser gentil, o “doente”, rapidamente, se abaixava, pegava o objeto e recolocava no lugar. Daí a uma semana recebia carta  do médico indeferindo o pedido: “Quem tem problema de coluna não se agacha com tanta rapidez e desenvoltura”, dizia.

Histórias do Vale

Aquele antigo chefe político da zona rural de Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, era analfabeto de pai e mãe, mas não perdia a pose. Toda manhã, se aboletava na cadeira diante da única vendinha do local e ficava a observar um jornal, como se estivesse lendo de verdade. Um de seus amigos estava chegando, quando foi chamado por ele: ”Compadre, olha que acidente horrível”. Era só um anúncio de venda de caminhão, numa página de ponta cabeça. Por via das dúvidas, o compadre olhou e concordou.

Com a chegada do Mobral ao lugarejo, o dito chefe político aprendeu a decifrar as letras e juntá-las para formar palavras. E gostava de mostrar que sabia. Solene, pegava o jornal e lia, em voz alta, cada linha, do começo ao final da página. O compadre ousou corrigi-lo: “Coronel, o senhor precisa respeitar as colunas!” E ele: ”Rapaz, eu numa respeitei nem cerca de arame farpado e você acha que eu vou respeitar fiozinho preto em folha de jornal?”

“Xinga em brasileiro, mesmo!”

Conta o jornalista Sebastião Nery, que na campanha eleitoral de 1950, Juracy Magalhães realizava um comício em Pombal, na Bahia. E como era seu costume, terminava a oratória com uma longa frase em inglês. 

O matuto baiano, sem entender nada do que ouvira, pergunta ao deputado José Guimarães: “O que ele está dizendo?” 
“Está xingando a mãe do Régis Pacheco”. 

Régis era o candidato opositor do grupo. 

O matuto se empolga, sacode o chapéu, e grita, lá de trás para o candidato, ainda no palanque, pudesse ouvir: “Doutor Juracy, não tem problema, não! Pode xingar em brasileiro mesmo, coronel. Nóis agarante!”

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