Aparentemente controlada, a doença retornou de maneira surpreendente e violenta, após um longo e doloroso tratamento que foi relatado pelo ex-vereador, durante longa conversa com a coluna
Antonio Lino, como presidente da Câmara, fiscaliza os preparativos para o asfaltamento de uma via localizada nas proximidades do prédio (Imagem: Arquivo O Diário)
Ele costumava dizer, após receber alta de um longo tratamento contra o câncer na medula e a informação de estar curado, que havia nascido pela segunda vez.
Com uma diferença fundamental: no primeiro nascimento, não sabia o que estava acontecendo; mas no segundo, plenamente consciente, pôde chorar de emoção ao receber a “melhor notícia” de sua vida.
Segundo o médico que acompanhava a etapa decisiva da luta contra a doença, ele havia se livrado dela e poderia voltar, progressivamente, às suas atividades normais, embora tomando alguns cuidados especiais para que o mal não retornasse.
Apesar de seguir à risca as recomendações médicas, a doença voltou. Mais forte e letal.
A verdadeira epopeia do ex-vereador Antonio Lino da Silva, o paranaense de Cambé que chegou a Mogi ainda jovem para trabalhar na expansão da telefonia, nos anos 70, e acabou enveredando pelos caminhos da política, começou no final do ano passado.
Exatamente no dia 22 de dezembro, data próxima do Natal, quando ele deixou o seu escritório, no distrito de Jundiapeba, em direção à sede da Construtora Matutani, em Braz Cubas, onde iria buscar alguns panetones que haviam sido oferecido como presente para sua família.
Lino já estava com o carro em movimento, quando notou que seu nariz sangrava. Às 15h30 daquele dia, ele já estava próximo da sede da Spal (Coca-Cola), quando notou que o sangramento aumentava, e os pingos já tinham sujado toda sua camisa. O político decidiu voltar para o escritório, de onde ligou para a mulher, Lucelena que, ao chegar, deu o ultimato:
“Vamos para o hospital!”
Eram cerca de 16 horas, quando eles chegaram ao Hospital Santana e o médico que o atendeu, aplicou soro em sua veia para tentar estancar o sangue e não conseguiu.
Optou, então, por uma válvula junto ao nariz e a situação piorou ainda mais. Ao fechar as narinas, o sangue começou a brotar pelos olhos.
Ao lado de Minor Harada, ex-secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, observando um ponto de obras realizadas durante o governo do prefeito Waldemar (Imagem: Arquivo O Diário)
Um exame feito para avaliar as condições do sangue foi definitivo: as suas plaquetas, que deveriam contabilizar entre 150 mil e 450 mil, estavam em 14 mil.
Com isso, o sangue não conseguia parar em seu corpo. Repetido o exame, com resultado semelhante, os médicos anunciaram a decisão: ele teria de ser levado imediatamente para São Paulo.
Eram 3h40 da madrugada do dia 23, quando a ambulância com o paciente, um médico e um enfermeiro, deixou Mogi das Cruzes a caminho do Salvalus Bressei, hospital do Grupo Intermédica, localizado na Mooca.
“Vamos internar o senhor agora!”- foi a decisão do médico que já o aguardava.
Lino ainda tentou negociar. Desejava passar o Natal em casa, com a família, mas o profissional foi irredutível. Seu estado de saúde não permitia tal concessão.
Já com uma equipe médica do seu lado, ele passou a receber sangue diretamente na veia, o que, finalmente, estancou a hemorragia.
Mas os exames prosseguiram e, ao final do terceiro dia de internação, um dos médicos do grupo, foi até o quarto e lhe disse:
“Preciso falar com o senhor. O senhor está com câncer de medula”.
Lino contou, em conversa com a coluna, que, naquele momento, sentiu os pés gelarem.
E ele respondeu ao médico com duas perguntas: “Tem tratamento?”. “Tem cura?”.
“Com 85% a 90% de chances de cura”, disse-lhe o médico.
A resposta positiva o ajudou a enfrentar o duro momento. Ainda mais quando médico disse que suas chances aumentavam por não ser portador de diabetes, não fumar e ter pressão estabilizada.
“A doença está avançada?”- insistiu ele.
E o médico lhe disse que ainda não dava para saber, mas que uma investigação estava sendo feita para que aquela questão pudesse ser respondida.
No plenário da Câmara, o vereador Antonio Lino discute uma proposta com os vereadores Waldemar Campos Cortez e Ivan Nunes Siqueira, ambos já falecidos (Imagem: Arquivo O Diário)
O médico afirmou ainda que a melhor solução para seu caso havia sido o sangue, já que poderia chegar rapidamente a um estado de anemia profunda.
“Fique tranquilo. Nós vamos botar o senhor de pé”.
Lino sentiu a cabeça rodar. Sua mulher ficou nervosa.
Mas ele logo recuperou o bom humor e a vontade de viver.
“Bora tocar a vida”, sentenciou Lino, enquanto, contou ele, “mais parecia uma árvore de Natal de tantos remédios que lhe eram aplicados diretamente em seu corpo.
Foram 30 dias de preparação para a quimioterapia, que começou de maneira intensiva.
Após uma semana, com a queda da imunidade, “muito próxima de zero”, ele acabou vítima de duas poderosas bactérias, que lhe causaram infecção urinária, falta de ar e muita fraqueza no corpo.
O tratamento foi à base de antibióticos.
Sua pressão desabou de 12 por 7, em épocas normais, para 7 por 5. Os sintomas foram se agravando e seu destino foi a UTI.
Perdeu totalmente o controle dos sentidos, mas não chegou a ser intubado.
A situação era complicada, mas os tratamentos fizeram efeito e ele, algum tempo depois, voltou a se alimentar e a tomar água, mesmo com toda a dificuldade. “Tinha um gosto amargo”, lembrou ele, mais tarde.
Os efeitos da quimioterapia vieram, implacáveis. Os cabelos caíram, o intestino se soltou e só após 13 dias de tratamento intensivo, ele recebeu alta e pôde voltar para o quarto.
Após 81 dias internado, os médicos decidiram mandá-lo de volta para casa, temendo novas contaminações hospitalares. A medula havia voltado a funcionar e chegou a bater em 200 mil plaquetas.
Os exames, no entanto, mostraram que Lino teria de voltar para São Paulo, onde seria internado para novas sessões de quimioterapia. A bactéria reapareceu. Mais remédios e ele pôde retornar para Mogi.
Sua rotina, no entanto, era de exames de laboratório, às segundas e quintas-feiras. A imunidade interna de seu corpo continuava baixa ele teve de voltar a São Paulo para receber mais sangue e plaquetas. Oito meses já haviam se passado.
Foram quatro novas sessões de quimio, seguidas de exames de medula.
Até que numa sexta-feira, um médico, doutor Leandro, chegou com um envelope de exames, abriu na frente dele e lhe deu, finalmente, a esperada notícia:
“O senhor está em remissão. Não tem mais a doença em seu corpo”.
Lino desabou. E de joelhos, diante do médico, chorou copiosamente.
“É Deus no céu e vocês médicos aqui na terra”, disse, agradecido.
O médico ainda lhe recomendou um transplante de medula, o que ele iria fazer, com a doação de uma irmã, que era compatível com seu tipo sanguíneo.
Agradecido pelo tratamento recebido da equipe médica, Lino retornou para casa. Sua meta era recomeçar, progressivamente, a sua vida.
Na conversa com a coluna, ele lembrou que durante o tratamento, indagou do médico o que poderia ter causado nele aquela doença, o médico lhe disse que poderia ser resultado de um longo período de estresse. E quando Lino lhe falou das acusações de corrupção contra ele, que o levaram para a cadeia, antes de ter sido chamado em juízo para dar suas explicações sobre o caso, o profissional o encaminhou para uma psicóloga, que passou a lhe fazer acompanhamento, oferecendo apoio, durante a etapa final do tratamento.
Em casa, após deixar a internação em São Paulo, Antonio Lino recebe o amigo e ex-secretário de Saúde de Mogi das Cruzes, o biomédico Téo Cusatis (Imagem: Arquivo Pessoal de Lino - Divulgação)
“Me vi no final da corda. Mas o que me ajudou muito foi a fé. Sou católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida. Além disso, muita gente rezou por mim. Minha mulher me ajudou demais. Eu nunca fui na internet para ver algo. E segui a recomendação do doutor Flávio, que me dizia: ‘Tente não pensar na doença, não entrar em depressão, pense em seus negócios, peça a Deus para te ajudar, tenha fé’; isso ajudou muito”, relembrou Lino.
O político, que pesava 92 quilos, perdeu 45 durante o tratamento, ficando magérrimo, com 47 quilos.
Mas a suposta vitória sobre a doença, o levou a encarar a vida de outra forma. Prometeu que iria passear mais, andar mais, sair mais de casa. E, realmente, passou a visitar os amigos com maior frequência, em suas casas ou locais de trabalho.
Mesmo afirmando que vivia Mogi das Cruzes “24 horas por dia”, e achando que as autoridades municipais precisavam dar mais atenção à saúde, moradia e cultura, Lino não tinha planos de voltar para a política:
“No momento, não. Tenho de cuidar da minha saúde. Sou um paranaense adotado por Mogi das Cruzes. Por isso mesmo, meu final de vida será aqui”, assegurou.
Durante a longa conversa com a coluna, há pouco mais de um mês, Antonio Lino se emocionou e chegou a chorar por duas vezes.
A primeira delas, quando falou das denúncias do Ministério Público, que insistia em afirmar que nada tinham de concreto contra ele.
E a outra, quando falou do apoio da família, lembrando que sua filha iria se formar em Medicina no próximo ano.
“Meu grande sonho sempre foi ver a Camila, minha filha, formada e agora isso vai acontecer”, disse ele, emocionado.
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