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Bispo de Mogi celebra missa por estudante morto durante ditadura

O bispo diocesano de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, irá repetir o que fez o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, em maio de 1973: celebrará uma missa em memória do estudante Alexandre Vannucchi Leme, um integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), que morreu há 50 anos, no interior das instalações […]

2 de março de 2023

Reportagem de: O Diário

O bispo diocesano de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, irá repetir o que fez o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, em maio de 1973: celebrará uma missa em memória do estudante Alexandre Vannucchi Leme, um integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), que morreu há 50 anos, no interior das instalações do Doi-Codi, principais órgãos de repressão da fase mais dura do governo militar no País.

A celebração presidida pelo bispo mogiano acontecerá no dia 17 deste mês, na Catedral da Sé, no centro da Capital, e terá a participação de dom Angélico Sândalo Bernardino, que atuou como bispo-auxiliar de São Paulo algum tempo após a morte de Alexandre,  e hoje, aos 90 anos, é o bispo emérito de Blumenau, em Santa Catarina.

A missa será uma das muitas atividades que estão programadas para lembrar o estudante que cursava Geologia na USP, entre elas, uma exposição virtual denominada “Eu só disse o meu nome”, que é também o título do livro escrito pelo jornalista e professor Camilo Vannucchi, primo em segundo grau de Alexandre, que será lançado durante o evento, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog.

Alexandre Vannucchi nasceu em 5 de outubro de 1950, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. Filho de professores, ele cresceu numa família católica, cuja mãe tinha um irmão padre e três irmãs religiosas. Sua vida escolar foi exemplar, nas cidades de Sorocaba e Itu. Veio para São Paulo e cursava o 4º ano de Geologia na USP, quando foi preso por agentes do temido Doi-Codi, em 16 de março de 1973, por volta de 11 horas. No dia anterior, ele havia sido visto na USP, onde era o representante dos estudantes na Congregação do Instituto de Geociências.

Recém-chegado de sua casa, no interior, onde havia se submetido a uma cirurgia para retirada do apêndice, ele aparentemente não sabia que estava na mira da polícia política do governo  militar por integrar os quadros da ALN, grupo clandestino que agia contra a ditadura.

Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio, no livro “Dos filhos deste solo”, contam que Vannucchi foi delatado por um outro integrante do grupo, que passou a colaborar com os órgãos de repressão aos movimentos que eram considerados proscritosjpelas autoridades militares.

Às 11 horas do dia 16 de março, uma sexta-feira, sem que ninguém soubesse, ele foi preso por agentes e levados para o Doi-Codi, onde foi torturado durante todo o resto daquele dia, prolongando-se por boa parte da noite. Cerca de 20 presos políticos que se encontravam nas sete celas dos órgãos ouviram os gritos e gemidos do estudante. Entre uma sessão e outra, Vannucchi era levado para uma cela solitária e escura.

No sábado, 17 de março, ele saiu da cela caminhando ao lado dos agentes e voltou carregado. Após mais sessão de pancadaria, ele voltou para a solitária e quando foram buscá-lo novamente, o encontraram morto. Amigos e familiares acreditam que ele sofreu uma hemorragia interna no local da cirurgia.

A caminho da solitária, contam os presos, ele teria dito: “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme. Sou estudante de Geologia. Me acusam de ser da ALN. Eu só disse o meu nome”. E faleceu horas depois.

A frase final serviu como título do livro sobre sua vida, que está prestes a ser lançado.

Consta que dias depois do assassinato, o regime militar divulgou a falsa notícia de morte por atropelamento, após uma suposta tentativa de fuga.

Na verdade, o corpo foi coberto de cal e enterrado como indigente.

Há dez anos, a Comissão de Anistia o reconheceu como anistiado post mortem.

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