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‘Marielle cover’; ‘vai morrer, macaca’: deputada critica fim de escolta em meio a ameaças

Vítima de uma série de ameaças à sua vida quando, em novembro do ano passado, cobrou uma investigação rigorosa acerca das 26 mortes durante uma operação policial contra o chamado novo cangaço, em Varginha (MG), a deputada estadual de Minas Gerais Andréia de Jesus (PSOL), apenas quatro meses depois, perderá o direito à escolta a […]

16 de março de 2022

Reportagem de: O Diário

Vítima de uma série de ameaças à sua vida quando, em novembro do ano passado, cobrou uma investigação rigorosa acerca das 26 mortes durante uma operação policial contra o chamado novo cangaço, em Varginha (MG), a deputada estadual de Minas Gerais Andréia de Jesus (PSOL), apenas quatro meses depois, perderá o direito à escolta a partir da próxima sexta-feira (18). O aviso chegou à presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) no último dia 3 através de um ofício unilateral assinado pelas polícias Militar e Legislativa, que afirmaram que ela não corre mais risco de vida.

Inconformada, Andréia afirma que os ataques nunca pararam e conta que, na semana passada, ela e sua equipe foram intimidadas por capangas de fazendeiros enquanto visitavam uma comunidade quilombola no Norte do estado. Segundo ela, a coisa só não ficou pior justamente por conta dos guarda-costas.

— Até hoje eu lido com a violência política em todos os momentos. Para ter uma ideia, na semana passada me vi diante de capangas de empresários, enquanto atuava nas comunidades quilombolas no Norte de Minas, que de forma extremamente agressiva me ofenderam e tentaram impedir minhas atividades. Se eu não estivesse escoltada, minha integridade física estaria ainda mais ameaçada — relatou a parlamentar.

A deputada critica a conclusão de que ela não estaria mais “correndo risco” e afirma que não há no documento qualquer dado que justifique a retirada da escolta . Segundo ela, o próprio relatório deixa claro que os autores das ameaças contra sua vida ou não foram encontrados pelo setor de inteligência da PM ou não foram sequer identificados, o que, conclui, tornaria impossível afirmar o grau de periculosidade dos criminosos que a ameaçaram e o nível de risco que está correndo. Ainda segundo Andréia de Jesus, o documentou chega exatamente no momento em que parte significativa dos suspeitos de crimes de ódio contra ela foram identificados pela Polícia Civil e serão chamados a depor.

Em novembro, a deputada estadual recebeu uma mensagem anônima de um homem que dizia que ela teria “um fim igual ao de Marielle”, vereadora do Rio de Janeiro, também do PSOL, assassinada a tiros em 14 de março 2018 (o crime completou 4 anos nesta segunda-feira). O caso foi registrado na polícia, foi o estopim para a implementação da escolta e é investigado até hoje.

O nome de Marielle Franco é recorrente nas ameaças que ela recebe. Numa das mensagens, à qual O Globo teve acesso, um homem diz desejar que alguém da família da parlamentar tivesse morrido durante a ação dos cangaceiros em Varginha e a chama de “Marielle cover”. Tão comum quanto as referências à vereadora do Rio, são também as ofensas racistas e misóginas. “Vai trabalhar preta”, “Vai morrer, macaca”, “filha de puta com viado”, escreveu outro criminoso.

— Eu não sou só parlamentar… Sou mãe, filha, irmã. Ou seja, a falta de segurança afeta minha atuação como parlamentar, mas também afeta todos os que estão ao meu redor. Essas violências que sofro são frutos de uma sociedade com um racismo estrutural que não consegue aceitar uma mulher preta em um cargo parlamentar. Manter a minha segurança é a garantia que a Comissão de Direitos Humanos irá cumprir com seu papel, sem correr riscos — acrescentou Andréia de Jesus.

— Não queremos outras Marielles. Queremos segurança para que as suas sementes possam florescer, levando adiante a luta pela dignidade humana, por uma democracia real e um mundo mais justo.

A reportagem questionou a Polícia Militar e a ALMG sobre a retirada da escolta à parlamentar, mas não obteve retorno. O PSOL-MG disse que fará um protesto em frente à Casa nesta quarta-feira contra o fiim da proteção policial à parlamentar.

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