Diário Logo

Notizia Logo

Crise no PSDB ameaça nomes da sigla ao Planalto e em São Paulo, e une rivais

Em meio à crise no PSDB em torno da pré-candidatura de João Doria à Presidência, as alas antagônicas no partido usarão a reunião da Executiva Nacional nesta terça-feira para medir forças. O encontro foi marcado para discutir a carta na qual o ex-governador de São Paulo cobra respeito às prévias e ameaça recorrer à Justiça […]

17 de maio de 2022

Reportagem de: O Diário

Em meio à crise no PSDB em torno da pré-candidatura de João Doria à Presidência, as alas antagônicas no partido usarão a reunião da Executiva Nacional nesta terça-feira para medir forças. O encontro foi marcado para discutir a carta na qual o ex-governador de São Paulo cobra respeito às prévias e ameaça recorrer à Justiça caso não seja o candidato a presidente. A reunião da cúpula tucana também deve deliberar se aceita ou não os parâmetros de pesquisas quantitativa e qualitativa para decidir, até quinta-feira, uma candidatura única em aliança com MDB e Cidadania, o que é desfavorável a Doria, vencedor das primárias.

Desde que tornaram-se rivais, em 2019, pela primeira vez os grupos do deputado Aécio Neves (MG) e de Doria têm convergência interna: ambos querem que o PSDB tenha protagonismo na chapa e “não fique na aba” do MDB da senadora Simone Tebet, que também está na disputa pela candidatura presidencial. Embora o pretexto da reunião seja discutir os argumentos jurídicos de Doria, o clima nos bastidores indica que o paulista deve ser o alvo do presidente do PSDB, Bruno Araújo, e de seus aliados.

Nas últimas semanas, Araújo entrou em rota de colisão com o ex-governador por afirmar que o pacto dos partidos de centro estava acima das prévias, o que abriria uma brecha para anular a pré-candidatura de Doria. Desde então, as sinalizações da direção nacional da legenda caminham para um pacto de centro, com Tebet despontando como favorita.

Araújo deve argumentar na reunião que a não aceitação da pesquisa significará a “morte da candidatura de terceira via”. Os dados do estudo foram coletados no último fim de semana e processados ontem.

Por considerar o grupo de Doria minoritário na Executiva, Araújo se preocupa mais com as movimentações internas de Aécio do que com as do ex-governador. Como ex-presidente do PSDB, o mineiro faz parte da Executiva e tem feito questão de participar de todas as reuniões da cúpula. Não deve ser diferente hoje. Ao GLOBO, Aécio declarou que vai defender hoje a candidatura própria, atacando o critério das pesquisas.

— É um jogo de faz conta. Um assunto como esse só pode ser escolhido por convenção, não é a Executiva que tem que deliberar. E se a gente decidir apoiar a Tebet e ela não for aprovada na convenção do MDB? Como é que fica? — criticou Aécio. — Não estamos sendo honestos com nós mesmos. Lamento que o PSDB tenha desistido de liderar uma candidatura de terceira via real, que seria a do (ex-governador do RS) Eduardo Leite, para construir uma não candidatura (do Doria). A ideia (da direção do PSDB) nunca foi fortalecê-lo, mas apenas tirá-lo do governo de São Paulo. Isso ficou claro agora.

Integrantes do PSDB já fazem leituras sobre as articulações e últimas declarações de Aécio. Tucanos experientes avaliam que ele pode querer ressuscitar a candidatura de Leite ou até mesmo atuar para que a sigla não tenha mais candidato e invista a maior parte dos seus esforços em ampliar a bancada no Congresso. Para aliados de Araújo, o mineiro não busca aproximação com Doria. Pelo contrário, eles consideram que o deputado passou a defender a candidatura própria do PSDB porque acha mais fácil se livrar depois de Doria do que de Tebet, caso ela seja indicada como a candidata da terceira via.

Bruno Araújo, por sua vez, tem evitado polarizar com deputado mineiro e tem feito circular nos bastidores que os ruídos se restringem a um embate interno sobre quem assumirá o comando da sigla no ano que vem — Aécio ou o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (SP), que concorrerá à reeleição e cujos aliados já começaram a fazer sinalizações para minar a candidatura de Doria. Garcia tem procurado se descolar do antecessor, já que, segundo o Datafolha, 66% dos eleitores não votariam num candidato apoiado pelo paulista.

Em coletiva ontem, Araújo respondeu às acusações de Aécio de que ele estaria atuando como “advogado de Garcia”:

— Obviamente, não é nenhum demérito ser advogado de um dos políticos mais preparados do Brasil, com formação pública, respeitado, governador.

Aécio, por sua vez, criticou ontem a forma como Araújo conduziu a construção da terceira via:

— Nós chegamos até aqui por equívocos sucessivos. A direção do partido abdicou da sua responsabilidade de liderar a terceira via para atender ao interesse da candidatura de São Paulo, que considero até legítima.

Aécio Neves também citou o “silêncio” de Garcia sobre o PSDB ter ou não candidatura própria:

— Eu estou aguardando, não estou vendo ele na campanha do Doria.

O histórico de Doria nas decisões tomadas pela Executiva do PSDB não é favorável. Ele saiu derrotado quando tentou expulsar Aécio do partido, em 2019, e na definição das regras das prévias, no ano passado. Nas duas deliberações, perdeu por ampla maioria.

Integrante da Executiva, Pimenta da Veiga, que já presidiu o PSDB e foi ministro no governo Fernando Henrique, afirmou que o partido hoje está “muito distante” do que foi quando ajudou a fundar a sigla, em 1988, e que todos os lados estão cometendo “muitos erros”:

— Naquela época, o desprendimento era tão grande que ninguém queria ser presidente do partido. Tanto que tivemos cinco presidentes se revezando no começo.

Veja Também