Em entrevista, político de Mogi disse disse que havia documentos como o encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres “na casa de todo mundo"
— Nas palavras de Valdemar, "todo mundo" dava sugestões de como esse golpe iria se consolidar (Reprdução - Facebook)
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Em entrevista, político de Mogi disse disse que havia documentos como o encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres “na casa de todo mundo"
— Nas palavras de Valdemar, "todo mundo" dava sugestões de como esse golpe iria se consolidar (Reprdução - Facebook)
As declarações do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de que propostas golpistas circulavam no entorno de Jair Bolsonaro, motivaram críticas tanto de políticos aliados quanto de opositores, e podem ter consequência jurídicas para ele. Em entrevista ao jornal O GLOBO, Valdemar disse que havia minutas como a encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres “na casa de todo mundo". De um lado, bancadas do PT na Câmara e no Senado afirmaram que vão cobrar explicações na Justiça do dirigente partidário. De outro, integrantes do PL tentam se dissociar do caso e afirmam desconhecer qualquer discussão sobre intervenção militar ou golpe no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG) declarou que vai questionar o presidente do PL na Justiça para que ele forneça explicações sobre o que disse na entrevista. De acordo com ele, Valdemar "naturalizou" uma tentativa de golpe e deveria ter denunciado.
— Vou solicitar explicação. Um presidente de partido não pode naturalizar a tentativa de golpe, muito pelo contrário, tem a responsabilidade em denunciá-lo. Acredito que cabe duas ações. Uma na Justiça Eleitoral e outra no processo que investiga os atos antidemocráticos — afirmou.
Na mesma linha, o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), declarou que o dirigente partidário "lança mão de uma das táticas mais manjadas do bolsonarismo" e avaliou que Valdemar agiu para "vulgarizar uma tentativa de golpe".
— No mais, causa certa perplexidade que admita com desassombro ter “triturado” evidências de aparente crime, já que essa conduta, por si só, é tipificada, no art. 305, do Código Penal, como crime autônomo. Não surpreenderá caso Valdemar tenha que prestar contas à Justiça mais uma vez, por se enredar nos sortilégios golpistas de Bolsonaro – disse.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), a declaração de Valdemar é uma "declaração de culpa", não apenas de Bolsonaro, mas de todo o seu entorno. O parlamentar cita que o ex-presidente "incentivou sua base a se colocar contra o processo democrática".
— Nas palavras de Valdemar, "todo mundo" dava sugestões de como esse golpe iria se consolidar. Ele tem que dizer quem sugeriu, como isso se dava e como era o planejamento, porque de repente parece que eram apenas sugestões. Mas as sugestões se concretizaram no dia 8 de Janeiro e nas portas dos quarteis. Isso não era um disse-que-disse, era uma ação golpista — disse Correia.
Blindagem falha
Aliados de Valdemar, por sua vez, avaliam que ao dizer que teve acesso a propostas semelhantes, mas as descartou, o dirigente partidário tentou minimizar a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e, ao mesmo tempo, tentar blindar Bolsonaro. Na prática, porém, acabou por lançar suspeitas que antes recaiam apenas ao ex-ministro da Justiça, preso suspeito de ter sido negligente para conter os atos golpistas de 8 de janeiro.
Vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara, o deputado Sanderson (PL-RS) diz não ter tido acesso a documentos que propusessem maneiras de evitar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumisse o mandato.
— Eu não vi esse documento. Nunca participei de reunião sobre isso. Desconheço essa minuta de decreto. Para mim é uma novidade essa história. Nunca participei nada, nem vi Bolsonaro falar sobre isso — disse Sanderson.
Apesar das declarações, advogados do PL, segundo O GLOBO apurou, não veem motivo de preocupação para o presidente do partido. A avaliação é que Valdemar no máximo pode ser chamado para esclarecimentos.
— Não vejo ele (Valdemar) dando tanta importância a esse documento. Ele nunca comentou nada sobre esse assunto comigo. Valdemar é um sujeito muito sincero, falar da forma mais verdadeira possível – minimizou o líder do PL na Câmara, deputado Altineu Côrtes (RJ).
Como mostrou a colunista Bela Megale, ex-ministros do governo Bolsonaro se irritam com as declarações, pois coloca todos os integrantes do governo Bolsonaro “no mesmo balaio que Anderson Torres”. As reclamações, porém, são feitas de forma reservada para não entrar em choque com o mandachuva da sigla.
Na avaliação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo GLOBO, será necessário que as declarações do cacique sejam apuradas por quem está tocando as investigações a respeito da minuta golpista, o ministro Alexandre de Moraes. Também entendem que a Polícia Federal deverá proceder apurações no entorno de Bolsonaro para saber quem participava da elaboração deste material.
Para um magistrado, a declaração de Valdemar mostra uma ampliação na participação de pessoas no crime. Na percepção desse mesmo ministro, o presidente do PL irá precisar de um "bom auxílio jurídico" para prestar as informações sobre o que disse a respeito da proposta golpista.
Membros da Procuradoria-Geral da República (PGR) também ouvidos em caráter reservado pelo GLOBO entendem que ao ventilar essa informação, o dirigente buscou se eximir de qualquer participação na elaboração dos documentos antidemocráticos— espécie de estratégia para dizer "eu vi, mas não fiz parte".
Na avaliação destes integrantes da cúpula da PGR, Valdemar quis dizer que não apoiou a tentativa de golpe, mas sabia que muitos queriam apoiar. Segundo esses procuradores, será preciso identificar quem são essas outras pessoas que compõem o "todo mundo" dito pelo cacique. Eles lembram que, além do STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também poderá dar seguimento às apurações.
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